Turistas iranianos a caminho da Copa
27/05/14 15:27A cada manhã, dezenas de iranianos vêm lotando a pequena sala de espera do consulado do Brasil em Teerã para dar entrada em pedidos de visto para assistir à Copa do Mundo.
Funcionários são obrigados a fazer hora extra e sacrificar feriados para dar conta do salto na demanda. Poucas vezes houve tantos iranianos querendo ir ao Brasil.
Em números absolutos, o volume ainda é irrisório comparado com outros consulados brasileiros mundo afora. Mas a equipe em Teerã é pequena e opera geralmente em escala de público muito menor.
Diplomatas da embaixada, que fica no mesmo prédio, me disseram que o número de vistos entregues no âmbito da Copa deve bater em breve na casa dos 1.000. Desde abril, já foram emitidos 872. Para se ter uma ideia do salto que isso representa, basta ver o número de vistos cedidos no ano passado entre abril e 26 de maio: 75.
A expectativa é que a Copa alavanque a conta final do número de iranianos indo ao Brasil em 2014, que andava em queda por causa da crise econômica na república islâmica, resultado das sanções e da má gestão do findo governo Ahmadinejad. Em 2011, o consulado em Teerã emitiu cerca de 3.000 vistos. No ano seguinte, 2.400, e em 2013, por volta de 2.300.
A isso somam-se os iranianos residentes no exterior ou com cidadania de países cujos cidadãos também precisam de visto para entrar no Brasil, como Estados Unidos e Canadá. No total, o Itamaraty avalia que cerca de 5.000 iranianos irão ao Brasil durante a Copa.
O visto para a Copa entra na categoria turismo. Mas quem possui ingresso está praticamente assegurado de receber o carimbo no passaporte. É que a FIFA cobra dos países anfitriões de mundiais que facilitem os trâmites de obtenção de visto para quem possuir ingresso para jogos. Alguns anexam o ticket original ao formulário de visto, outros enviam um comprovante disponibilizado pela FIFA.
O país, porém, é soberano para declinar pedidos ou investigar o perfil de casos suspeitos. Até agora, o consulado brasileiro no Irã aprovou todos os pedidos – mesmo aqueles que não possuem ingresso.
Quem não tem ticket precisa apresentar cópia da passagem aerea de ida e volta, reserva de hotel e comprovante de recursos, como conta bancária.
Iranianos, acostumados às exigências absurdas dos consulados europeus em Teerã, têm mandado documentos desnecessários como prova de boa fé. Tem gente que coloca até conta de luz na papelada do visto.
“A atitude dos funcionários [no consulado brasileiro] é muito melhor que em outras embaixadas”, disse a agente de viagens Hedyeh, 28, ao dar entrada em pedidos de visto para um grupo.
Só ouvi queixas em relação à lentidão. “Acho que o sistema informático brasileiro para vistos não é muito bom, pois falha quando há sobrecarga. “Eles não se prepararam para tantos pedidos”, especula Shaharam, 40, que vai ao Brasil após ganhar um pacote num sorteio da Sony.
Por mais que gostem do Brasil, quase todos os iranianos com quem conversei se disseram apavorados com os relatos de violência e com os protestos.
“Estou com muito medo, principalmente pela situação em Salvador, onde devo passar uma semana [o Irã enfrenta a Bósnia-Herzegovina na Fonte Nova]. Conheci brasileiros na Inglaterra, e eles me disseram para não usar joias nem relógios na rua. Ouvi que haverá 180 mil policiais fazendo segurança nos estádios e tenho medo que isso se traduza em menos policiamento nas outras áreas. Mas estou tão empolgado que nem ligo”, diz o empresário Salar, 26.
Salar é o típico iraniano que vai para a Copa: homem (só 10% de vistos foram emitidos para mulheres), jovem e rico. Num país sob sanções e com moeda valendo metade da cotação em dólar de 2012, são poucos os que podem pagar os US$ 10 mil cobrados pelas agências locais como tarifa mais barata. Há gente levando crianças e até a sogra para o Brasil.
Salar foi às últimas duas copas que tiveram participação do Irã – França 1998 e Alemanha 2006. Ele acaba de desembolsar o equivalente a US$ 15 mil por um pacote que inclui bons hotéis no Brasil. Salar pagou outra pequena fortuna por ingressos para os três jogos do Irã mais dois da Inglaterra. “Vale a pena. Eu pagaria mais se fosse preciso”, diz o rapaz, extasiado.
Salar vai com amigos e não sabe se a mulher irá junto. “Ela tem provas na Universidade. Talvez não me acompanhe. E isso não me incomoda nem um pouco”, diverte-se. “Eu já disse a ela: ‘primeiro, o futebol, depois, você.’”
Sepehr, um quarentão ricaço que conheci por aí, está com ingressos na mão para assistir a vários jogos. Mas ele acaba de cancelar sua passagem, deixando furiosos os amigos com quem havia planejado a viagem. Sepehr explica: “Minha mulher me proibiu de ir sem ela ao Brasil.”
Samy, sei que você não cobre a Revolução, que ocorreu em 1979. Nem é historiador.
Mas acho o tema muito interessante.
Sua explanação não surpreende, pois li que o MKO tinha pouca penetração no Irã.
Era Stalinista, e o próprio Xá os combatia.
Talvez tenham visto os rumos totalitários dos islâmicos e tentaram resistir.
Você já ouviu falar de Medi Bazargan, o que falam dele?
Outra impressão, aparentemente Khomeini não tinha uma gota de amor no coração.
Ou será que nossa concepção de amor (NÃO FAÇA AO PRÓXIMO O QUE NÃO QUER PARA TI) é diferente dos xiitas do regime?
Mehdi Bazargan é uma figura interessantíssima e, obviamente, conhecida por qualquer iranófilo, eu inclusive. Khomeini era um homem muito duro, sem dúvida. Numa famosa entrevista, concedida no calor de seu retorno triunfal ao Irã para assumir o comando da revolução, um jornalista ocidental pergunta o que Khomeini está sentindo naquele momento. Resposta: “Nada.” Nem todos os líderes revolucionários eram assim. O aiatolá Montazeri era um grande humanista. Hasan Modarres e Ali Shariati eram pessoas extremamente esclarecidas e ponderadas, avessas a qualquer forma de autoritarismo.
Montazeri antes de 1979 estava exilado? Ele tambem defendia a teocracia ou era favoravel ao estado laico? Em relacao as mulheres, igualdade de genero e veu facultativo?
O aiatolá Montazeri também passou um tempo no exílio. Como revolucionário, ele defendia um regime religioso. Difícil um clérigo islâmico ser partidário do Estado laico. A laicidade é uma ideia ocidental que não ecoa automaticamente por estas bandas. Dito isso, Montazeri rejeitava toda forma de autoritarismo. Ele queria que as instituições democráticas da república islâmica fossem mais fortes. Defendia um islã tolerante e flexível, inclusive em relação às mulheres. Morreu em 2009 pregando a ideia de que o Irã de hoje não era “nem república nem islâmico.”
Sinceramente Sammy nem sei de onde vc tira as suas informações e manda o povo engolir… se todos os correspondentes da mídia brasileira no exterior sejam como vc, não dá para confiar mesmo…
“Rafsanjani já era rico antes da revolução, …”???!!! ele foi preso e banido antes da revolução e vc alega q ele era rico !!! ele e os da sua laia enriqueceram graças a desgraça de povo iraniano e vc alega q “este-(https://www.facebook.com/StealthyFreedom?fref=photo- com quase meio milhão de like) é um protesto bastante marginal, iniciado por alguém que mora na Europa e com repercussão mínima por aqui. Não existe nem cabe discussão sobre o uso obrigatório do véu.” tudo é sobre véu; ele é simbolo máximo da falta de liberdade em todos os aspectos e não”É o símbolo máximo e absoluto da autoridade moral do Estado.” não tem nada de moral a imoralidade q está acontecendo por baixo de véu ; “Diz um amigo diplomata:…” e vc acredita tudo q dizem seus amigos diplomatas ??? eles são as fontes das suas valiosas informações???
Abre olho e pesquisa mais quem são estes seus amigos diplomatas!!!
http://www.iranhumanrights.org/2014/06/violence-against-women-encouraged/
Ameh, ser rico não impede ninguém de ser preso, seja antes ou depois da revolução. Rafsanjani ficou bilionário depois da revolução, mas ele já era rico, sim. Sua família era atuante no comércio de pistache. Sobre o véu, sugiro que escreva com mais clareza, pois seu argumento é incompreensível. A opinião do diplomata é curiosa e merece debate. Não vejo em que isso contradiz o seu argumento. Se quiser debater, este espaço estará sempre aberto. Mas, por favor, traga argumentos mais sólidos e claros.
As produções artísticas dos iranianos contam com proteção legal? Aqui diz que não existe direito autoral.
Por que não se pode bater palmas? Como manifestar aprovação de uma música?
http://www.dw.de/m%C3%BAsicos-no-ir%C3%A3-longe-dos-palcos-em-meio-%C3%A0-censura/a-16832498
Carlos Roberto, esta matéria tem um problema clássica: foi redigida por quem está fora do Irã. Sem contato com a realidade iraniana, jornalistas mundo afora tendem a ser mal informados ou a passar batido nas nuances do país. Além disso, emissoras como a BBC e DW estão cheias de iranianos opositores que extrapolam limites do cargo e aproveitam para transformar seu trabalho em militância – contra isso, em favor daquilo. Nunca ouvi essa história de que não se poder bater palmas. Já estive em apresentações musicais em que todo mundo batia palmas. Para lançar um disco ou apresentar-se em público, é preciso obter autorização do Ministério da Cultura e Orientação Islâmica. Basicamente, não pode haver mensagens políticas ou teor considerado “imoral”. Os critérios são muitas vezes injustos, crueis e aleatórios. Mesmo assim, muitas bandas e cantores fazem sucesso dentro do país. Confira grupos moderninhos como Pallett, The Muckers ou Bomrani, bastante populares em Teerã.
Esta notícia sobre a morte de integrante de mujahedin do povo. Salvo engano, eram parte do Partido Comunista do Irã, o Tudeh.
Dizem que o Tudeh deu muito apoio à Revolução de 1979, fazendo greves e levando muitos às ruas.
Depois, foram degolados.
Li também que chamam esta revolução de REVOLUÇÃO TRAÍRA.
Ainda há militantes deste partido comunista no Irã?
Existe uma visão sobre Khomeini como um político sem ética, que tudo fez para o poder?
Pois teria feito acordos para chegar ao poder, depois eliminou os opositores.
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/ira-executa-prisioneiro-ligado-a-grupo-opositor
Mormai, o MKO, de fato, apoiou a revolução e acabou se afastando de Khomeini. Os mujahedin até tinham algum apoio interno no início dos anos 1980, mas eles mataram tantos civis inocentes em atentados para destabilizar o país e derrubar o regime que seu respaldo popular hoje é praticamente nulo. Nem mesmo os mais firmes opositores ao regime defendem o MKO. Dito isso, há críticas contra o que muitos consideram autoritarismo de Khomeini, sem dúvida.
Há jornais privados no Irã?
Alguns com muitos anos, anteriores a 1979?
Você é um jornalista brasileiro que está Irã, mas vinculado uma empresa do Brasil.
Se tivesse que viver aí trabalhando como jornalista, sem o vínculo com o Brasil, o que acha que sentiria mais difícil para se adaptar?
Digo isto por você hoje ser acostumado a ser um jornalista brasileiro.
Sim, Sizefredo, há vários jornais privados no Irã – diários noticiosos, esportivos, revistas. Alguns são anteriores à revolução. Acho que não entendi sua pergunta.
Samy, esclarecendo.
Você é um jornalista que escreve para um público e uma imprensa brasileiros.
E segundo as leis do Brasil.
Quais você diria, em poucas palavras, são as diferenças de ser um jornalista no Brasil e ser no Irã.
Apenas algumas ideias centrais, situações que você acha que distinguem muito os dois países.
Ou não há muitas diferenças?
Jornalista é uma profissão regulamentada por aí?
Existem faculdades de jornalismo ou comunicação?
Os veículos de comunicação têm manuais de redação?
Há censura prévia?
Ganham salários na média brasileira?
As principais diferenças em relação ao Brasil são as restrições e a onipresença do Estado no aparato de mídia. O jornalismo não é regulamentado no Irã, qualquer pessoa pode escrever matérias. Sim, há faculdades de jornalismo. Salários são modestos – em termos absolutos, muito menores que no Brasil, mas o custo de vida no Irã é bem maix baixo. Como em qualquer outro país, não se entra no metier em busca de dinheiro. Jornalistas são movidos por outras coisas. Quem quer dinheiro monta empresa ou vai para o mercado financeiro, no Irã como no Brasil. Não há censura prévia. A “conta”, em caso de problemas, vem depois da publicação.
Quem tem pode, infelizmente uns tem muito e outros não tem nada..
Uma dúvida: O sistema de saúde é público ou privado? Existe algo como o SUS?
No Paquistão não tem nada kkkk, me recuso a sair daqui para ir para um lugar pior.
Heitor, não existe um sistema como o SUS, mas praticamente todo mundo tem uma espécie de seguro que cobre despesas médicas. O sistema de saúde pública é mais eficiente que o brasileiro. Nunca estive no Paquistão, mas imagino que a saúde no Irã seja muito superior.
Esta política de aumento da natalidade é mais uma recomendação, ou terá reflexos concretos no Irã?
Qual a sua eficácia e aceitação pela população?
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,incentivo-para-aumentar-populacao-no-ira-preocupa-mulheres-e-reformistas,1172419,0.htm
Marcelo, o apelo parq que iranianos tenham mais filhos é uma necessidade, pois a própria ONU alerta para o risco de declínio populacional. Difícil saber se a recomendação surtirá efeito, pois uma das razões por trás da queda na natalidade é a disparada do custo de vida. Esta matéria é notícia velha. Escrevi a respeito em 2012.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/58834-ira-reve-sua-politica-de-natalidade-e-pede-que-casais-tenham-mais-filhos.shtml
Olá Samy! Eu já havia visto sua reportagem. Minha intenção era você comentar as palavras de Khamenei dizendo que AUMENTAR A NATALIDADE VAI AFASTAR DA INFLUÊNCIA DO OCIDENTE.
Também, a parte das matérias sobre preocupação dos reformistas.