Iranianos também são felizes
13/05/14 11:29Iranianos estão aproveitando a onda envolvendo um clipe americano reproduzido mundo afora para quebrar estereótipos sobre a vida na república islâmica.
O clipe em questão é “Happy”, do rapper americano Pharrell Williams, produzido para o filme “Meu Malvado Favorito 2” (2013). O vídeo, como o nome indica, é uma ode à alegria de viver. Personagens de todos os tipos e idades aparecem dançando como bem entendem, enquanto cantam uma musica cheia de funk e soul cujo refrão diz “Por que eu sou feliz/Bata palma conosco se você sente que a felicidade é a verdade.”
Mais uma bobagem comercial, sem dúvida. Mas devo admitir que o clipe, talhado sob expertise hollywoodiana, é incrivelmente contagiante. Me peguei sorrindo feito paspalho ao ver pessoas normais, como você e eu, requebrando de qualquer jeito no meio da rua, inebriadas de euforia.
A música é tão inspiradora que a ONU a escolheu como trilha sonora oficial do Dia Mundial da Felicidade, comemorado em 20 de março. Desde então, pessoas do mundo inteiro são convidadas a filmar sua própria versão de “Happy” e postá-la na internet.
A resposta foi imediata e avassaladora. Pessoas de quase todos os países do mundo, do Sudão ao Brasil, cantaram e dançaram ao som de Pharrell Williams. Curioso constatar que, apesar do formato padronizado em função do clipe original, as reproduções dizem muito sobre o país onde foram produzidas. Um dos vídeos feitos na Arábia Saudita, por exemplo, não traz nenhuma imagem de mulher.
Já os clipes filmados no Irã (links abaixo) estão cheios de mulheres, umas com véu, outras sem _ o que contraria a lei, mas revela a faceta liberal de amplos segmentos da população.
Pela experiência adquirida nestes dois anos e meio morando no Irã, posso garantir que os clipes “Happy” produzidos por aqui refletem bem a juventude moderna, conectada e descolada de Teerã.
O perfil dominante parece ser de classe media, mas, pelos bairros e trajes, identifico também gente com renda mais modesta. Me deu a impressão de conhecer cada uma das pessoas que aparecem nas versões iranianas do “Happy” – marombados da academia, nerds, jovens “pode crer”, estudantes gatinhas, “manos” boa pinta, gordinhos desinibidos, uns mexendo a bundinha, outros fazendo estripulias nos matos ao redor de Teerã. Claro, nem toda a sociedade está retratada ali, mas tampouco esta a era a intenção de quem filmou.
Ficam claras as limitações dos iranianos. Mulheres nos vídeos só tiram o véu em lugares fechados ou na natureza, e ninguém ousa se esbaldar numa rua movimentada. A polícia moral está aí para impedir essas coisas.
Mesmo assim, me parece evidente a vontade dos iranianos de querer mostrar que seu país não se resume a programa nuclear, barbudos extremistas e enforcamentos em praça pública.
Obviamente, a mídia estatal silencia sobre os clipes da moçada feliz.
Deem uma olhada. O primeiro vídeo é o mais bem produzido, mas os outros dois também são eloquentes.
Samy, esta atriz, Leila Hatami, é famosa no Irã?
Este cumprimento que ela deu no diretor do evento é mais importante do que a participação dela no
Festival de Cannes?
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3921422&seccao=Cinema
Marcelo, a atriz Leila Hatami é muito conecida no Irã, sim. Não entendi sua pergunta.
Eu quis dizer Samy, se os iranianos se importaram mais com o beijinho no rosto.
Ou se o fato de uma atriz iraniana ser uma destaque no Festival de Cannes importou mais.
Parece que o detalhe (para mim insignificante) do beijinho superou o fato principal: uma atriz do Irã brilhando em Cannes.
Sempre difícil responder uma pergunta dessas. Quem são “os iranianos”? É como se um iraniano perguntasse: “O que é mais importante para os brasileiros: protestar por melhores condições de vida ou curtir a Copa do Mundo?”. Não há resposta geral para perguntas assim.
Samy, neste caso há uma resposta: ante o punhado de ‘gatos pingados’ que protesta por melhores condições de vida, dá para afirmar que a Copa do Mundo é mais importante.
As manifestações dos ‘black blocks’ não chegou aos pés de movimentos como o Diretas Já, usando um parâmetro.
Neste contexto, ao menos pelo que você viu na imprensa, o que é mais importante?
A eventual transgressão a regras morais, ou o destaque que teve a atriz ante seu bom trabalho e do cinema do Irã como um todo?
Deve ser salientado que a atriz estava em outro país, com outras regras.
Uma estrangeira no Irã deve usar o véu.
E uma iraniana no estrangeiro, deve ser seguir as leis do Irã, ou do país onde ela está?
O Estado teocrático espera que as iranianas sigam as regras e leis do Irã até no exterior. Para a maior parte dos iranianos comuns, me parece que prevalece o orgulho em ver uma atriz nacional brilhar no exterior.
Samy, em post anterior você fala de atrito entre o ex-presidente Armadinejad e o líder supremo, Kahmenei.
Sendo eles conservadores, o que gerou tal atrito?
Salomão, a gama de conservadores é imensa. Eles não foram um bloco unido e coeso, longe disso. Mas a razão central do atrito é que Ahmadinejad desafiou reitaradas vezes a autoridade do líder supremo.
Samy, com estes 500 dolares, dá para manter uma familia de casal e 2 filhos?
Voce fala POLICIAIS DE RUA.
Então não existe uma ‘policia moral especifica’?
Uma mesma policia cuida de tudo: transito, criminalidade, moral e patrimonio publico?
Com um salário desses se vive modestamente, mas não falta o básico. Lembre-se que há muitos subsídios para transporte, alimentos, gasolina, calefação etc. E que educação é gratuita. Há várias forças policiais no Irã. Entre as diversas polícias de rua encontra-se a polícia moral, conhecida como gashte ershad.
Samy,
Tem uma cena em que um cara passa dançando e, no fundo, tem uma foto/propaganda do lider supremo, o Khamenei ou do Khomeini? (eles são muito parecidos em suas barbas).Ironia das ironias, um iraniano dançando ao som de uma musica americana… Obrigado pelo texto, amigo. Voce consegue se superar e desanuviar esse ambiente tenso das guerras e disputas politicas. Parabens.
Obrigado, Gedeon. Sabe me dizer qual dos três videos tem a cena que você menciona?
Deve ser a primeira cena do terceiro vídeo…
Então se trata do aiatolá Ali Khamenei, atual líder suprempo.
No Irã, ao contrário do Brasil, é possível homenagear pessoas vivas?
E as propagandas do governo podem ter o nome do governante?
O líder supremo então é como um monarca, apenas não sucedido pelo filho.
Para os teocratas, não seria um pecado isto, uma vaidade intensa se auto-homenagear com a uma estátua?
Este ‘teocratas’ em verdade conseguiram um bom osso com esta tal Revolução Islâmica…
Não sei se estamos falando da mesma coisa, Atento. Não há estátuas do líder supremo, apenas cartazes com seu rosto.
Certo, talvez eu esteja um pouco desatento, rs
Mas dá na mesma.
Divulgar a própria imagem em cartazes não é muito distinto do que divulgar o nome em estátuas.
Coisa de autocratas de qualquer forma!
Excelente artigo! Além de mostrar um lado lúdico, que pouco se vê quando se fala do Irã, Samy conseguiu mostrar que no Irã, como em qualquer pais, a vida segue apesar de tudo. Achei engraçado os homens mexendo a bunda, quase como nós aqui no funk kkkk. Legal ver gente como a Gente!
Uma impressão minha, mas nota-se que todos são magros. Isto é um reflexo de fatores genéticos dos iranianos, ou de hábitos alimentares. Ou os dois?
Demonstram boa saúde, inclusive a dentição.
Mormai, iranianos tendem a ser magros, de fato. Não sou experto, mas acho que há fatores genéticos envolvidos. Há poucos grandalhões. Mas o mais importante é que sua comida é extremamente saudável, com pouca fritura e gordura, e uma tara nacional por comida caseira.
Bom dia!
Jornalismo e diversão de qualidade.
Esta POLÍCIA MORAL citada, quando recebe de salário mensal, em dólares?
Dá para ter uma boa vida?
Existe plano de carreira, tal qual no Brasil?
Como se ingressa nela, mediante concurso público, ou outro meio?
Ulisses, por que você acha que a polícia noral recebe em dólar? Não há razão para isso. São iranianos pagos pelo Estado e, como quase todo no mundo no país, recebem salário em rials. Desconheço a realidade salarial. Imagino que seja modesto, mas suficiente para viver corretamente. Lembre-se que no Irã há subsídios para quase tudo, ainda mais quando se trabalha para o Estado. A entrada é por concurso e há plano de carreira.
Houve uma falha de comunicação.
Eu não quis dizer que eles ganham seu salário em dólares.
Pedi que fosse convertido em dólares, para termos uma noção do valor!
Sim, indo mais.
Falando de orçamento, eles têm um orçamento anual?
Discutido e publicado previamente?
Quem decide?
As autoridades religiosas estão incluídas no mesmo orçamento geral?
Ulisses, as verbas do aparato de segurança são discutidas dentro do pacote do orçamento geral do Estado, como em qualquer outro país. A discussão do orçamento é feita a cada ano no Parlamento, embora hava verbas especiais para as forças de segurança estratégicas, como a Guarda Revolucionária. Não sei quanto ganha um policial de rua, mas duvido muito que seja mais de US$ 500 por mês.
Com estes clips vemos a mudança de comportamentos dos Iranianos os quais não ligam para o que pensam os políticos que com suas convicções muitas vezes atrapalha o desenvolvimento geral do pais, mas o povo em si só querem ser feliz.
Interessante. As pessoas tem uma imagem muito distorcida do Irã e outros países muçulmanos em geral. Acham que só existe opressão e tortura, mas pelo menos acredito eu que isso seja uma minoria de casos em relação aos demais. Embora católica, sou apaixonada pela cultura. Acho que eles devem preservar a cultura deles e não se ocidentalizar. Porque para mim, o ocidente, com toda essa cultura de banalização da sexualidade, que está errado e não eles.
Isto é jornalismo?jornalismo sem fronteira ?
se 0 sr tem medo de escrever, nao escreva.
qual sera o novo titolo? (“iranianos o povo mais feliz do mundo”)?
folha voce precisa reler os prinsipios de jornalismo e etica
Javad, antes de fazer acusações sem sentido, que tal ler o texto todo para além do título? Deixo claro que aquilo é um recorte incompleto do Irã e que a sociedade iraniana vive sob diversas restrições. Se quiser criticar, nenhum problema, mas traga argumentos mais sólidos, por favor.
Este e um artigo enganoso com título enganoso.
Já no governo khatami o ocidente caiu nessa, e o que vimos depois foram 8 anos de ahmadinejad.
Agora vamos cair de novo nessa história, desta vez no governo de ruohani.
Não e melhor parar de dar direção e endereço errados?! Você diz que eu só li o título, mas eh justamente o título que faz com que todos que lêem seu texto e não conhecem o pais pensem que o povo iraniano está feliz. Com todas as desgraças que o povo iraniano está passando, você não tem nada mais importante para falar? Não fiz uma acusação sem sentido: falei a realidade! Você tem medo de falar o que ocorre lá. Esse seu tipo de jornalismo deveria estar na seção de diversão do jornal.
Javad, você está de má fé. O texto diz apenas que no Irã também é possível dar risada e se divertir. Ou você acha que aquelas dezenas de pessoas se fingiram de alegres? Esta coluna, conjugada às reportagens para a versão impressa da Folha, trazem um panorama abrangente do Irã, mostrando o país em suas nuances. Se você lesse o que eu escrevo como um todo, perceberia que não tenho medo algum de criticar o regime. Isso não me impede de tratar de outros temas, mais leves. O Irã não se resume a seus dirigentes, certo? Mau jornalismo é aquele que só enxerga preto e branco, como você sugere.
Samy você vai escrever um artigo sobre jornalistas iranianos que estão em prisão?
E verdade que o Irã é a maior prisão do mundo para jornalistas?e verdade que neste governo reformista quantidade de execução aumentou?verdade que o maioria povo iraniano passa com dificuldade econômico?tehran com todos aqueles Ferrari lamborghini e,,,,,como?
Gostaria ler um artigo sobre sua opinião.
Entrevista com uma prisioneira política:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/03/1422812-nao-perdi-a-fe-no-presidente-rowhani-diz-ativista-do-ira.shtml
Sobre a desilusão com Rowhani:
http://samyadghirni.blogfolha.uol.com.br/2014/02/18/a-eleicao-de-rowhani-mudou-alguma-coisa/
Sobre a barbárie da pena de morte no Irã:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2012/07/1112795-ahmadinejad-e-seus-guindastes-da-morte.shtml
Da próxima vez, faça uma pequena busca e se informe direito antes de fazer acusações levianas.
Samy, não dê bola para esse aí, o nome já diz da onde ele vem e que educação recebe,u típico sioniSSta, só te cuida que o mossad pode te pegar por aí.
Samy, paciência de Jó a sua em “tentar” dialogar com essa pessoa, que pelo visto só quer ler aquilo que lhe agrada e que é a pura verdade (em sua opinião), creio que para ela só a verdade dela própria importa. Deve ser do ParTido.
KD os links?
Gabriel, os vídeos estão postados abaixo do texto, qual a dificuldade?
Gabriel,
Se vc quiser copiar o link, clique com o botão direito sobre o vídeo, e clique em “Copy video URL”.
Samy,
Pelo que entendi, são 3 vídeos, mas o blog só mostra 2. Parece que o vídeo do meio está com problemas, pois aparece aqui entre os vídeos um espaço em branco bem grande, dando a entender que um dos vídeos ficou oculto.
Foi corrigido, Leandro. Obrigado por avisar.