Irã x Iraque
06/05/14 16:42Voltei há pouco de Bagdá, onde fui cobrir a eleição parlamentar. Foi minha primeira ida ao Iraque desde que estou instalado no Irã – por isso, minha “lente” mental esteve bastante focada no que une e separa os dois vizinhos.
Primeiro, as diferenças óbvias entre os países, que travaram nos anos 1980 uma das guerras mais bárbaras e mortíferas do século 20.
O Iraque é predominantemente árabe, e o Irã, persa. O Iraque é fragmentado em clivagens confessionais (muçulmanos xiitas, muçulmanos sunitas, cristãos) e étnicas (árabes, curdos e assírios) enquanto minorias no Irã (país majoritariamente xiita e persa) são muito menos expressivas em tamanho e influência. O Iraque tem origem na antiga Mesopotâmia. O Irã até 1935 era conhecido como Pérsia.
O governo iraquiano é uma república parlamentar, enquanto o Irã é uma teocracia. A guerra com o vizinho foi a única que o Irã protagonizou na era contemporânea. Já o Iraque viveu dois outros grandes conflitos, ambos contra EUA e aliados, em 1991 e 2003.
Irã e Iraque estão montados num oceano de petróleo. Mas iranianos vivem sob sanções duríssimas que os impedem de arrecadar o que poderiam com exportações de óleo bruto. Iraquianos se livraram das sanções depois da queda de Saddam Hussein, mas têm sua capacidade petroleira abalada pela violência sectária e pelas ameaças separatistas dos curdos ao norte.
Paisagem e ambiente também opõem os dois países. O Iraque é um grande deserto, enquanto o Irã é cortado de norte a sul, leste a oeste, por montanhas. Teerã tem trânsito enlouquecedor e poluição que deixa a de São Paulo no chinelo. Mas é uma cidade extremamente limpa, bem cuidada e moderna. Serviços são desorganizados, mas funcionam. Em dois anos e meio aqui, só vivi três ou quarto blecautes, causados por obras na rua onde moro. Em matéria de segurança, ouço aqui e ali histórias de pequenos furtos. Mas não conheço uma pessoa sequer que tenha sofrido violência física na mão de criminosos no Irã. A pior história na minha volta é de uma conhecido que teve o iPhone roubado por assaltantes armados com faca.
Já Bagdá é tomada por pobreza, sujeira e destruição. Não só por causa das guerras nos tempos de Saddam, mas também pela violência que não dá trégua e pela corrupção endêmica. A energia elétrica funciona só por algumas horas por dia, obrigando todo mundo a usar geradores a combustível que, além de custarem uma nota, poluem o ar e fazem um barulho insano. Karada, um dos bairros mais caros de Bagdá, não passa de uma favela com fachadas de lojas mais arrumadas que no resto da cidade.
Atentados com carros bomba ou camicases podem ocorrer a toda instante e em todo lugar. Na noite da minha chegada, fui parar por acaso no escritório-residência de uma agência de notícias internacional, onde o chefe oferecia comes e bebes a colegas estrangeiros para festejar seu casamento (a noiva, obviamente, estava no exterior). Enquanto conversávamos num terraço, ouviu-se o eco distante de uma forte explosão. Ninguém deu a mínima. Na véspera, alguns dos colegas que estavam na mesma festinha escaparam por pouco de uma carnificina ao sul de Bagdá. Eles cobriam o comício de candidatos ligados a uma milicia xiita quando viram uma van-bomba avançar a toda velocidade sobre a multidão antes de explodir, estraçalhando mais de 30 pessoas.
Em Teerã, diplomatas e/ou cônjuges e filhos dirigem o próprio carro. Em Bagdá, representantes oficiais se abstêm de sair de suas fortalezas e, quando são obrigados a fazê-lo, andam em comboio de carros blindados com seguranças privados armados até os dentes. Mas o Iraque tem uma grande vantagem para os ocidentais: permite venda de bebida alcóolica, ainda que em pontos restritos. O Irã veta álcool até nos hotéis para turistas, obrigando embaixadas (e amigos) a se abastecerem via mala diplomática.
O principal denominador comum entre Irã e Iraque é o fato de estarem entre os raros países onde os xiitas são maioria. Em Teerã como em Bagdá, comemoram-se o feriado de Ashura com procissões. Nas duas cidades, veem-se muitas imagens dos imãs (santos xiitas). Peregrinos formam fluxo constante entre os dois países – iranianos vão às cidades xiitas santas de Karbala e Najaf, no Iraque; iraquianos lotam voos e ônibus em direção a Mashhad e Qom, os grandes santuários do Irã.
Mas teólogos e clérigos de cada país divergem em muita coisa. Sem entrar em discussões sobre minúcias de jurisprudência e filosofia islâmica, digamos que a escola religiosa de Najaf é mais aberta. Fruto, talvez, da tradição iraquiana de convívio entre grandes comunidades etnico-confessionais com características muito distintas. Já a escola de Qom destaca-se pela militância mais política. Muitos dos aiatolás com discurso mais confrontativo se formaram em Qom. Dito isso, o Irã também produz pensadores islâmicos muito tolerantes e progressistas.
Aparências enganam, e os nomes dos países não têm origem comum. Iraque vem de Uruk, nome de uma cidade que prosperou na Suméria, na Idade do Cobre. Já Irã tem origem no nome Iran, que significa terra dos arianos, em sânscrito.
Nos dois países, o visitante estrangeiro encontra recepção afável e generosa. Cada um à sua maneira, o iraniano e o iraquiano são extremamente hospitaleiros. O primeiro (perdoem as generalizações) tende a ser mais formal. No Irã, pessoas costumam ser ao mesmo tempo afetuosas e cerebrais. No Iraque, o contato é mais espontâneo. Iraquianos, expansivos, falam alto e gesticulam um monte. Confesso, porém, ter ficado impressionado com a gentileza do pessoal do aparato de segurança no Iraque. Mesmo sob sol escaldante e risco constante de ser destroçados por atentados, soldados e policiais iraquianos são alegres e cheios de humor. Agentes iranianos costumam ser mais carrancudos.
Surpreende, por fim, a profunda desconfiança mútua. No Iraque nem os xiitas mais fervorosos se dizem inspirados pelo Irã – seja pelo modelo de governo, seja pela sociedade. Entre os sunitas, então, o sentimento é de hostilidade aberta. Muitos sunitas são nostálgicos de Saddam e compartilham com o ex-ditador um ódio aos persas, que chamam pejorativamente de “safávidas” – nome de uma dinastia xiita que reinou sobre a Pérsia entre os séculos 16 e 18. Xiitas e sunitas concordam em que o atual governo iraquiano, comandado pelo premiê xiita Nuri Al Maliki, deveria afastar-se da órbita iraniana.
Qualquer camelô de Bagdá sabe que Teerã tenta por todos os meios estender seu poder geopolítico, econômico, militar e religioso sobre o Iraque, mas a dimensão exata deste alcance é difícil de avaliar. Americanos e sauditas acreditam que o Irã quer transformar o governo vizinho em fantoche. Mas muitos analistas dizem que a influência iraniana no Iraque é superestimada.
Entre iranianos, o Iraque continua amplamente visto como o país agressor e invasor que deflagrou a guerra. Saddam é considerado o grande culpado, assim como os ocidentais que o apoiaram, mas tenho a impressão que muita gente no Irã se ressente pelo fato de os iraquianos não terem resistido às ordens de partir para cima do povo vizinho. Segundo analistas e diplomatas, iranianos morrem de medo de ver um Iraque novamente forte e altivo – vai que resolve atacar de novo. Na minha primeira ida ao Iraque, em 2009, ouvi do filho de um ministro: “o Irã nos vê como concorrente petroleiro e, por isso, quer nos manter na subserviência e na violência.”
Minha leitura sobre os laços Irã-Iraque estava fechadinha até chegar ao aeroporto de Bagdá para pegar meu voo de volta a Teerã. Lá encontrei um jovem empresário iraniano com quem bati um papo enriquecedor. Massoud, como se chamava, quer construir infraestrutura de telecomunicação no Iraque. “Por causa da violência, ninguém quer investir. Mas o mercado iraquiano tem enorme potencial. Quem estiver disposto a correr o risco pode ganhar muito dinheiro”, me explicou.
Massoud discorda da minha leitura antagônica entre iraquianos e iranianos. “São os mesmos hábitos, a mesma hospitalidade e o mesmo carinho. Para mim, só muda o idioma”. Ponderei que no Irã as pessoas tendem a ser mais polidas e contidas, e que a cultura árabe era diferente da persa. O empresário respondeu: “É só uma questão de acesso a educação e instrução. Faz três décadas que os pobres iraquianos vivem num país em guerra e disfuncional, enquanto o Irã deu um salto em desenvolvimento. Iraquianos são iranianos com 30 anos de atraso.”
Não me convenceu, mas quase.
PS: no Irã se come melhor, mas no Iraque é possível navegar numa internet decente e sem filtros impostos pela censura.
Achei a comparação entre iranianos e iraquianos superficial, sobretudo no lado dos iraquianos. Parece que as mudanças trazidas pela invasão e influência americana no país não têm relevância nenhuma.
Houve uma invasão absurda e ilegal no Iraque! A guerra Irã e Iraque foi um conflito orquestrado pelos EUA! Não acho justo que você analise as diferenças entre os dois países como se eles tivessem uma birrinha regional por razões bobas, do nível Brasil x Argentina. As diferenças mais fortes entre Irã e Iraque existem por causa da influência americana (ocidental) e interesse no petróleo e na desestabilização da região. Fora isso, eles são unidos pelas tradições e laços islâmicos que defendem a tolerância e compreensão entre todos os muçulmanos. As subdivisões poderiam existir, mas violência e extremismo, nunca.
Gostaria também de enfatizar que as suas observações sobre o Irã não deveriam se resumir somente a partir da sua experiência na rica área norte de Teerã. O país não é tão fácil, “cool” e “prafrentex” como você demonstra. Sim, o Irã é um país MUITO melhor do que a mídia pinta, mas também não é exatamente o que li por aqui no blog. Imagine alguém escrevendo um blog sobre o Brasil narrando experiências vividas apenas no Jardins, Higienópolis ou Leblon? De qualquer modo, parabéns pelo blog.
Andre, eu estive em praticamente todas as cidades relevantes do Irã e viajei muito pelo interior rural, inclusive em áreas muito pobres afetadas por um terremoto. Ao contrário do que você diz, eu ando por toda Teerã – e ando quase sempre de ônibus. O texto em momento algum diz que o Irã é “cool” e “prafrentex”. O que eu destaco é o nível de desenvolvimento do Irã, alto até para padrões brasileiros. O Estado iraniano provê serviços básicos de qualidade razoável (saúde, educação, luz, água) até nas áreas mais remotas do país. Além disso, o país é estável e seguro. Os problemas do Iraque que você levanta foram amplamente abordados em reportagens publicadas na versão impressa da Folha.
Samy, este vídeo é realmente autêntico, feito no Irã?
Estas pessoas representam um pequeno grupo, o de forma geral o povo daí é assim?
Ou mais em Teerã?
Se verdadeiro, trata-se de um vídeo censurado, ou que passa na televisão e internet públicas?
http://youtu.be/-SG_WireSwQ
Confira a coluna mais recente, Marcelo.
Boa tarde!
Esta matéria é verdadeira?
Muitas mulheres envolvidas?
Se houver um movimento geral de tirar os véus, serão mortas?
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/35202/Em+selfies+sem+veu+iranianas+protestam+na+web+por+mais+liberdade.shtml
Mortas por tirarem o véu? Acho que você precisa reavaliar a escolha de suas fontes de informação sobre o Irã, Pedro. O Irã pode ser cruel em alguns casos, mas não é para tanto. Este protesto é simbólico e irrisório em termos de volume. Além disso, como eu sempre escrevi, inclusive na minha longa reportagem sobre a condição feminina no Irã (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/03/1432402-realidade-velada.shtml), muitas mulheres se incomodam com o véu obrigatório, sim, mas isto está longe de ser a principal preocupação delas.
Samy, em verdade usei mais uma figura de linguagem. Estava ao computador agora.
Mas, um movimento no sentido de tirar o véu seria reprimido com certeza. Ainda mais se fosse amplo.
Ou, justamente pela amplitude seria respeitado?
Claro que li sua matéria sobre as mulheres do Irã.
Uma referência em termos de bom jornalismo.
Esta polícia de costumes criada pelo presidente anterior, pode ser extinta pelo atual?
Se um presidente criou, outro pode finalizar…
Custa muito caro manter uma polícia para ver se alguns fios de cabelos estão muito expostos?
Os iranianos discutem isto?
A polícia moral não foi criada pelo presidente anterior. Ela remonta aos primórdios do Estado revolucionário. O que aconteceu foi que, sob Ahmadinejad, ela recuperou plenos poderes que havia perdido sob Khatami (1997-2005). Seu alance pode mudar conforme a Presidência da vez, mas nenhum presidente tem poder de aboli-la. Como eu sempre digo, o Judiciário e o aparato de segurança no Irã são sempre conservadores, pois respondem ao líder supremo, não à Presidência. O fim da polícia moral é tão improvável que ninguém gasta tempo e energia discutindo esse tema.
Valeu Samy, conhecendo o Irã!
E o monopólio estatal sobre rádios e televisão é questionado, você não comentou.
Mas, esta discussão sobre capital estrangeiro não é algo ultrapassado?
Todos os países querem investimentos, e a tendência é a abertura dos mercados
A interação do capital internacional com interno depende da legislação de cada país.
Veja o Brasil, que já foi muito fechado.
Ou a China, ou antigos países comunistas.
Esta visão do Irã não está na contra-mão da modernidade?
Na imprensa estes temas são discutidos com liberdade e profundidade?
Não há debate sobre o monopólio das TVs e rádios estatais pelo simples fato de todo mundo possuir parabólicas para assistir a canais estrangeiros. Ninguém está preocupado com o monopólio. Também não vejo questionamento acerca da lei de investimento, pois seria uma briga perdida de antemão. O Irã foi explorado em dose tão cruel pelos ocidentais na época do xá que não cabe debate para permitir novo domínio estrangeiros sobre os recursos do país. Nem na Arábia Saudita, que não passava de um deserto povoado por pequena população de beduínos, houve tamanha injustiça na repartição dos lucros petroleiros na primeira metade do século 20.
Para finalizar minhas dúvidas.
Uma legislação similar à brasileira, sobre o investimento estrangeiro, não caberia ao Irã?
Ou ao contrário, a lei do Irã traria mais progresso ao Brasil?
Investimento não significa uma via de mão dupla, ou eles não vêm assim?
Vi sua matéria hoje sobre o wattzapp.
O líder supremo está no poder há quase 30 anos.
Não se cogita sua aposentadoria?
Ou ele é tratado como um monarca?
Nas eleições do próximo ano parlamentares do próximo ano, o que se vislumbra é uma vitória dos reformistas.
Caso ocorra, pode mudar muita coisa?
Haverá muita interferência nas eleições para censurar o máximo de candidatos reformistas?
Silva, o cargo do líder supremo é vitalício. Ele é chefe máximo e absoluto da teocracia iraniana. Seu papel é ao mesmo tempo político e religioso. Quem disse que se vislumbra uma vitória reformista no pleito parlamentar? Os reformistas estão quase mortos politicamente. O sistema os aniquilou.
Samy Adghirni novamente, me sinto na obrigação de elogiar de forma honesta, sua atual matéria (Irã X Iraque). E confesso que cada vez mais me interesso pelo Oriente Médio e principalmente pelo Irã. Você conhece algum livro que pode trazer mais conhecimento sobre este assunto? (De preferência que tenha tradução em português. Sucesso em seu trabalho ai!
Obrigado, Jefferson. Em português há poucas opções de livro. Sugiro “Todos os Homens do Xá”, de Stephen Kinzer, que narra o golpe de Estado angloamericano que derrubou o primeiro-ministro democraticamente eleito Mohammad Mossadegh, em 1953.
Samy, você fala árabe? No Iraque se fala árabe, certo?
Qual seria a vantagem que eles vêm hoje, em relação a Sadam Hussein?
Será possível uma união do país?
O que eles dizem que impede esta união? Há uma busca de consenso, com concessões recíprocas?
O governo Malik visa unir o país, virar a página do passado em nome do futuro, ou o governo dele tenta se vingar dos sunitas?
Salomão, me viro no árabe, sim. É o idioma praticado no Iraque. Depende da pessoa a quem você dirigir a pergunta. Xiitas (majoritários) e curdos estão aliviados por não ser mais sistematicamente perseguidos por Saddam (sunita) e dizem que qualquer coisa é melhor que o antigo regime. Xiitas dominam o governo e curdos têm uma região autônoma muito segura e próspera. Em contrapartida, muitos sunitas dizem que o Iraque era um país seguro, estável e funcional na época de Saddam. Por mais que os políticos atuais digam defender a união nacional, na prática quase todos defendem agenda sectária. Um analista de Bagdá me disse algo interessante: “Iraquianos querem melhores serviços e governança, mas, no fundo, questões de identidade e religião continuam sendo as mais importantes.” A isso soma-se a ausência total de cultura democrática. O Iraque sempre teve autocratas. Ou seja que não se pode esperar que pessoas e governantes tenham inclinações políticas calcadas no modelo ocidental.
Samy, esta questão do veto do presidente ao bloqueio do Wattzap pode significar aumento de seu poder, em detrimento dos conservadores e liderança suprema?
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/05/presidente-do-ira-veta-proibicao-de-whatsapp-no-no-pais.html
Mormai, esta notícia me pareceu precipitada, por isso não escrevi a respeito. Essa história de que o Whatsapp “quase” foi vetado ainda é obscura. Mas, sem dúvida, Rowhani se opõe a tentativas de aumentar restrições às redes sociais e tecnologias de comunicação.
Então, por dedução, podemos concluir que o WATTSAPP é liberado no Irã?
Sim, o Whatsapp funciona normalmente no Irã.
Aqui você diz que Teerã é uma cidade moderna.
Sempre tive a impressão de que se trata de um local tipo Cuba, parado no tempo.
Uma vez vi uma matéria sobre turismo, pessoas criticavam os hotéis, por serem muito antigos.
Esta minha impressão então é equivocada?
Sizefredo, parte da infraestrutura é, de fato, antiquada, como o aeroporto doméstico e alguns hoteis estatais. Mas as ruas são impecavelmente pavimentadas e bem sinalizadas (sempre em farsi e inglês). A coleta de lixo e o trato dos espaços verdes tem padrão europeu. Teerã está cheia de prédios reluzentes, galerias de arte contemporânea e comércio de luxo, inclusive com grifes internacionais. A capital não somente é gigantesca, com 12 milhões de habitantes, como tem astral de metrópole – anonimato, gente apressada e vizinhos que mal se conhecem. Ainda sobre os hoteis, ruins são os administrados pelo governo, mas novos empreedimentos privados eleveram consideravelmente o padrão das instalações e do atendimento.
De forma geral, quais atividades econômicas são monopólios estatais, ou são privadas, mas restritas a iranianos?
Estrangeiros podem investir em todas as áreas da economia, desde que iranianos sejam majoritários no capital. Há poucas áreas de monopólio verdadeiro, uma delas é a rádio e TV, exclusividade do Estado.
Samy, discute-se abertura de investimentos a estrangeiros sem o sócio iraniano? O que pensa o presidente?
Quanto ao monopólio estatal sobre rádio e televisão, discute-se abrir ao capital privado? Igualmente, o que pensa o presidente?
Rowhani não pode se dar ao luxo de querer abrir investimentos sem sócio iraniano, e isso por duas razões: o investimento já é escasso, oor causa das sanções e da tensão política, ninguém está disposto a encarar tanto perrengue por ora; a lei sobre a preservação do capital nacional é um pilar da ideologia revolucionária, que quer evitar os abusos da época do xá, quando o Ocidente sugava todas as riquezas do Irã, ou seja que ninguém no Irã ousa defender uma volta do domínio de capital estrangeiro no Irã.
O artigo está excelente… Sou iraquiano estrangeiro e moro no Brasil….olha o que eu mandei para minha amiga (O artigo está perfeito… ele diz quase tudo…. ahhh. Irã quem invadiu e atacou duas vilas iraquianas. Na verdade começou a guerra por causa religiosa que o governo iraquiano limitou a entrada dos iranianos para visitar Karbalaa e Najaf (eles estavam entrando por milhões e muitos deles entram sem visto), o que deixou o governo iraniano e o presidente deles que era xiita religioso muito nervosos e bravos, e por outro lado, os iranianos sempre acham que o Iraque sempre foi um parte de Irã, desta que a babilônia era o capital da Pérsia, MAS O IRAQUE SEMPRE FOI ÁRABE e os iraquianos foram tratados como população de segunda linha. Saddam Hussain tenha orgulho de ser iraquiano e não deixou essa passar (mesmo assim acho Saddam era um ditador) …. por isso começo a guerra…. os outros parágrafos no artigo são verdadeiras.)…No ponto de vista mundial, o Iraque ganho a guerra devido a ajuda financeira dos países árabes (Kuwait e Arábia Saudita) e ajuda das armas de EUA. pois o plano do Irá era ocupar o mundo árabe inteiro (Oriente médio), o que prejudica a exportação do petróleo para o mundo e para EUA.
Se cuida viu… Abraços
Samy mais um excelente texto. Seus trabalhos são como um bom seriado de TV que passa quinzenalmente. A gente fica na expectativa!
Como é a situação da mulher no Iraque?
E a influência da religião no Iraque, similar ao Irã?
max weber, a situação da mulher no Iraque é paradoxal – do ponto de vista da lei, ela tem muito mais direitos do que no Irã, mas a sociedade iraquiana é muito mais conservadora que a iraniana.
Por que os conservadores do Irã estariam contra o acordo nuclear, conforme esta notícia? Qual seria o “cálice venenoso”, citado?
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,conservadores-protestam-no-ira-contra-acordo-nuclear,1161889,0.htm
Ulisses, o programa nuclear é uma questão de honra nacional, alta tecnologia alcançada com recursos próprios. Sugiro que leia esta entrevista que fiz com um dos homens de confiança do líder supremo.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/05/1449432-porta-voz-do-lider-supremo-do-iracritica-presidente-e-diz-que-ocidente-quer-derrubar-regime.shtml
Eu já tinha lido a entrevista.
Acho que faltou uma pergunta ao seu entrevistado.
O que deseja o eleitor iraniano?
Rowhani foi eleito com ampla maioria, inclusive dispensou o segundo turno nas eleições.
E ele já havia antecipado que iria fazer negociações, além de propostas de abertura.
O eleitor votou neste caminho.
Assim, faltou ao porta-voz do líder supremo dizer qual a legitimidade para contrariar a maioria?
Nenhuma ditadura é boa, embora quase não haja uma real democracia no mundo, mas talvez a ditadura de Sadan tenha sido pior que a teocracia iraniana por ser muito personificada, o que aumenta ainda mais os desmandos.
Pelo que leio no seu blog, Samy, percebo que há uma grande identidade nacional no Irã.
Vc ficou pouco tempo no Iraque, mas gostaria de saber qual a sua impressão a respeito de identidade nacional nesse país tão dividido.
Obrigado!
Leon, concordo com sua avaliação das ditaduras. Sem dúvida, o nacionalismo é grande no Iraque, mas talvez seja um pouco menos à flor da pele do que no Irã. Afinal, o Irã é um Estado-nação mais antigo e mais coeso do que o Iraque – além de mais proeminente no cenário global.
Boa noite, Samy.
Confesso q nao acessava o blog ha alguns dias por estar ocupado, mas devo dizer que suas reportagens estão cada vez melhores… O histórico de informações vai acabar ajudando futuras pesquisas sobre este país, tendo em vista a escassa literatura na língua portuguesa.
Show de bola! Espero que a sua estadia aí possa ser cada vez mais enriquecedora e, claro, que renda muita diversão 🙂
Samy, você poderia me explicar melhor o seguinte trecho ? “…muita gente no Irã se ressente pelo fato de os iraquianos não terem resistido às ordens.”
Não entendi muito bem o que você quis dizer nesta parte do texto.
Abs,
André
André, muitos iranianos acham que os iraquianos deveriam ter se erguido contra ordens de Saddam para atacar e invador o Irã.
Maravilha de matéria! O que aconteceu com os iranianos sequestrados por insurgentes do Paquistão?
Caio Castro, inseri uma atualização ao final daquele texto sobre os reféns. Um morreu, e os demais foram libertados.
Muito obrigado, abraço.
Caio
Excelente cobertura Samy. Apesar de todas as tensões, me fez despertar uma enorme vontade de conhecer o Iraque. Já o Irã, não tenho como reclamar da hospitalidade e poética deste povo que me acolheu de forma generosa. Prabaéns por sua sensibilidade e imparcialidade!
Excelente texto, que ilustra dois países que conhecemos apenas a partir de representações vazias. Obrigado e sucesso!