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Samy Adghirni

Um brasileiro no Irã

Perfil Samy Adghirni correspondente em Teerã.

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O sequestro que choca o Irã

Por Samy Adghirni
01/04/14 14:18

Iranianos acompanham com apreensão e revolta o drama de cinco jovens soldados sequestrados no início de fevereiro por um obscuro grupo insurgente na fronteira com o Paquistão.*

A facção, conhecida como Jaish Al Adel, anunciou na semana passada ter executado um dos reféns. Identificado como Jamshid Danaeifar, tinha 27 anos de idade. Deixa mulher e um bebe recém nascido.

Redes sociais estão tomadas por uma campanha implorando clemência pelos que continuam vivos. Presume-se que tenham sido arrastados para algum cativeiro do outro lado da fronteira, em território paquistanês. Páginas de apoio aos soldados no Facebook já reúnem dezenas de milhares de seguidores. Até quem não simpatiza com o regime aderiu à mobilização. Afinal, os reféns são simples recrutas cumprindo os dois anos de serviço militar obrigatório. Nada a ver com os voluntários da Guarda Revolucionária que vão para a Síria ajudar as tropas de Bashar Al Bassad. Danaeifar era o único militar de carreira, mas soldado raso.

Houve protesto em Teerã na frente da Embaixada do Paquistão, país acusado de ser negligente com grupos armados clandestinos e de não se empenhar o suficiente pelos reféns. A diáspora iraniana também se manifestou diante das representações paquistanesas no exterior. Um porta-voz do Paquistão disse à BBC que as buscas deram em nada.

Muita gente reclama que o Ocidente não dá a mínima para o caso por se tratar de iranianos. Bem diferente do sequestro de Gilad Shalit, soldado israelense sequestrado por militantes palestinos em 2006, que atraiu a atenção do mundo inteiro até ser liberado, seis anos depois, lembram os críticos.

O governo do presidente Hasan Rowhani está sob intensas críticas por não conseguir proteger seus recrutas. A ala linha dura, tanto dentro do regime quanto na opinião pública, exige que o Irã aja por conta própria e envie forças especiais para libertar os reféns. Teerã pode fazer isso, mas seria uma grave violação da soberania territorial do Paquistão. Arriscado mexer com um vizinho que possui um Exército forte – e a bomba atômica.

Numa de suas primeiras crises como chanceler, Mohammad Javad Zarif disse que o governo não mede esforços para que os soldados retornem ao “abraço de suas famílias.” Zarif enviou carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, dizendo que condenar o sequestro não é suficiente. Ban chamou o ataque de “ato pavoroso” e pediu que os autores sejam julgados.

Sabe-se quase nada sobre o Jaish Al Adul (Exército da justiça, em árabe), cujos blogs e sites estão fora do ar há meses.

Aparentemente formado por étnicos balúchis, o grupo diz defender os direitos dos muçulmanos sunitas, que formam 10% da população iraniana. O Irã não só tem maioria populacional xiita como também é governado por um Estado teocrático xiita.

O preconceito contra sunitas existe, sem dúvida. Teerã tem várias igrejas cristãs e até sinagogas, mas nenhum local de culto para os sunitas. Além disso, a minoria sunita compõe a parcela mais pobre da população. Isso não justifica as atrocidades cometidas por extremistas sunitas que, segundo o Irã, são bancados pela arqui-inimiga Arábia Saudita. Há quem veja também o dedo dos Estados Unidos ou de Israel por trás do interesse em fomentar instabilidade no Irã. Em 2010, o líder de um dos grupos sunitas mais radicais, responsável pela morte de dezenas de militares, foi preso e enforcado, para alegria de muita gente num país onde existe amplo apoio à pena de morte.

Em outubro passado, o Jaish Al Adel massacrou 14 recrutas na mesma região da fronteira com o Paquistão.

O caso atual é mais dramático, por envolver suspense sobre o paradeiro dos reféns. Surgiram na mídia iraniana relatos de que o Jaish Al Adel agora oferece a Teerã uma troca de prisioneiros – soltar os quatro recrutas em troca da libertação de centenas de militantes sunitas detido pelo Irã. Autoridades locais negam ter recebido essa proposta.

Os agressores filmaram a o momento da captura, ocorrido quando os soldados, encarregados de monitorar a fronteira com o Paquistão, descansavam numa barraca de lona. Assista ao vídeo abaixo, editado pelos sequestradores ao som de cantos jihadistas. É de partir o coração. Um dos recrutas chora de desespero. Outro pede licença para colocar uma calça antes de ser levado.

Sequestro

* Os quatro recrutas foram libertados na sexta-feira 4 de abril e já estão reunidos com suas famílias. Não está claro se o Irã fez alguma concessão aos sequestradores.

About Samy Adghirni

Samy Adghirni, 34, é correspondente da Folha no Irã. Está no jornal desde o fim de 2007. Cobriu as revoltas árabes no Egito, na Tunísia, na Líbia e na Síria e fez reportagens no Iraque, Iêmen, Síria, Cisjordânia, faixa de Gaza, Turquia, Marrocos, República Dominicana, Equador, Argentina, EUA, Suécia, Bélgica e Finlândia, entre outros países. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Stendhal de Grenoble (França) em 2001 e trabalhou em Paris para as rádios BFM e Radio France Internationale. Em Brasília, foi setorista de Itamaraty e colunista musical pelo "Correio Braziliense" e colaborador da agência France Presse.
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Comentários

  1. Ulisses comentou em 08/04/14 at 11:28

    Bom dia! O Irã possui políticas inclusivas para deficientes físicos, similares as do Brasil?
    Englobando redução de barreiras arquitetônicas, acesso ao serviço público e mercado de trabalho, auxílio financeiro, dentre outros aspectos da política brasileira?
    Seu trabalho, na modesta opinião deste leitor, é um destaque na plural imprensa brasileira.

    • Samy Adghirni comentou em 08/04/14 at 11:58

      Obrigado, Ulisses. Infelizmente, o Irã não é muito acolhedor para deficientes físicos, até por razões culturais. Neste lado do mundo, exist a crença de que deficientes físicos e mentais são uma espécie de maldição, e que pessoas nesta condição devem ser mantidas em casa, longe dos olhares de condenação. É muito raro ver deficientes em locais públicos. Nesse contexto, não é de se estranhar que a estrutura para facilitar sua inserção social seja pífia.

      • Ulisses comentou em 08/04/14 at 13:10

        Samy, sua resposta foi com poucas, emblemáticas e esclarecedoras palavras!
        Há discussões neste sentido na imprensa, judiciário e parlamento?
        Existem ONG com este objetivo?

        • Samy Adghirni comentou em 08/04/14 at 13:12

          Existem ONGs dedicadas a dar assistência aos deficientes, mas falta debate público sobre esse tema, que continua tabu.

  2. Renata comentou em 07/04/14 at 13:24

    Samy muito obrigada por trazer à luz os acontecimentos de uma região pouco, ou quase nada, mencionada nos veiculos de comunicação do Ocidente….gostaria que vc comentasse sobre os 4 milhões de sirios (1 milhão de crianças) que estão vivendo em condições subhumanas no Libano!!!! Nosso Oriente Médio um dia terá paz????

    • Samy Adghirni comentou em 07/04/14 at 19:15

      Renata, este blog se dedica a temas ligados diretamente ao Irã. O tema dos refugiados sírios foge um pouco desta seara, embora o Irã seja um dos grandes responsáveis pela sobrevivência de Bashar Al Assad.

      • Renata comentou em 07/04/14 at 21:52

        Que pena Samy!!! Pois eu já vejo o Oriente Médio como uma imensa panela de pressão prestes a explodir. Vc com tanto conhecimento e raízes árabes podia nos brindar com seu sempre pontual ponto de vista. Thanks anyway!!!

  3. Salomão comentou em 07/04/14 at 11:39

    CORRIGINDO COM A NOTÍCIA CERTA.

    Samy, notícia sobre investimentos no setor de turismo no Irã.
    Consta que a maioria dos visitantes vem do Iraque, para usar serviços como médicos, ou visitar monumentos religiosos.
    Como fomentar uma legítima indústria do turismo, com imposição de véus, proibição de bebidas, separação de sexo, etc.
    Estas questões são abordadas nestas discussões?
    Aparentemente os iranianos teriam muito a ganhar com a indústria do turismo.

    https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=4&ved=0CD0QqQIwAw&url=https%3A%2F%2Fbr.noticias.yahoo.com%2Fir%25C3%25A3-acredita-mudan%25C3%25A7a-tom-governo-ajude-abrir-caminho-090608582–finance.html&ei=Q7hCU5OwA6ay2wXJr4F4&usg=AFQjCNGbhuHgUqMAp8gQs4nAcS6xYuP4sQ&bvm=bv.64367178,d.b2I&cad=rja

    • Samy Adghirni comentou em 08/04/14 at 12:04

      Salomão, já tratei deste assunto em reportagens na versão impressa da Folha de S.Paulo.

      http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/11/1378811-novo-ira-atrai-35-mais-estrangeiros.shtml

      http://www1.folha.uol.com.br/turismo/2012/05/1094581-turismo-no-ira-encontra-fe-cultura-e-historia.shtml (matéria principal com links para vários outros textos sobre o mesmo tema).

  4. Margot - Campinas comentou em 07/04/14 at 0:53

    BOA NOITE.
    VI NOTÍCIA DE QUE O PARLAMENTO DO IRÃ VOTARÁ LEIS SOBRE ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS.
    ISTO AUMENTARÁ OU RESTRINGIRÁ TANTO O PODER PRESIDENCIAL, COMO CAPACIDADE DE ESCOLHA DOS ELEITORES?

    • Samy Adghirni comentou em 08/04/14 at 12:06

      Margot, essa discussão é muito embrionária, não se sabe exatamente o que está por trás dessa iniciativa.

  5. Simão comentou em 07/04/14 at 0:50

    Samy, vi na internet uma notícia sobre execuções em massa que ocorreram em 1988 no Irã. Foi assim mesmo?
    As pessoas comentam por aí?

    http://pt.globalvoicesonline.org/2013/10/07/apos-25-anos-ira-ainda-e-assombrado-pelas-execucoes-em-massa-de-1988/

    • Samy Adghirni comentou em 07/04/14 at 5:13

      Simão, forças ultraconservadoras que dominam o Judiciário e o aparato de segurança sempre tentam sabotar governos reformistas ou com inclinação reformista. Após a chegada de Mohammad Khatami à Presidência, em 1997, não só o número de execuções disparou como também houve uma guinada repressora contra críticos do regime, que teve até assassinatos políticos. O cenário parece estar se reproduzindo desde a eleição de Rowhani.

  6. Andre comentou em 04/04/14 at 21:00

    Como sempre quem paga com a vida pelas politicas dos governantes são os jovens soldados que são mandados para a morte enquanto quem comanda fica na sombra e no sossego. Não creio que este caso tenha um final feliz para os soldados, visto que parece se tratar de retaliação em virtude da morte de centenas balúchis pelo governo iraniano nos últimos anos, não só balúchis , como também cidadãos curdos e outras minorias que são executadas ao menor sinal de suspeita de sedição . Infelizmente é uma via de duas mãos que vai se perpetuando.

  7. Heitor comentou em 02/04/14 at 23:26

    Nossa que horror, concordo com o que já foi dito, que exército lixo é esse que perde 14 soldados e manda mais recrutas para a morte, onde está o sentinela?

    Lição primária de exército! Uns bebem e comem, outros protegem e as armas então? Nem se fala.

    Sami, tu acha que as relações entre Irã e Paquistão podem se deteriorar a que ponto?

    • Samy Adghirni comentou em 03/04/14 at 7:29

      Heitor, as relações bilaterais Irã-Paquistão costumam ser complicadas, e esse episódio não deve melhorar as coisas.

      • Heitor comentou em 03/04/14 at 8:38

        Minha esposa costuma assistir muito os canais paquistaneses, eu não falo urdu, eles estão praticamente ignorando o caso e quando e falam usam um tom de indiferença.

        E se tu for ver os comentários no vídeo tu vai ver que existe um abismo entre sunis e shias, infelizmente eles corrompem a religião =/

  8. Benny Assayag comentou em 02/04/14 at 20:50

    Enquanto nos deixarmos dominar pela ideologia, qualquer que seja, fatos tristes e lamentáveis iguais a esse vão continuar acontecendo lá, aqui e em qualquer outro lugar.

  9. isa comentou em 02/04/14 at 0:55

    O que mais choca, no vídeo, é constatar o abandono a que os recrutas estavam relegados. Cinco jovens numa barraca ( ou barraco?) naquela imensidão árida, sem a menor condição de se defender. Antes de reclamar sobre omissão do Ocidente ou da ONU, o governo iraniano deveria refletir sobre sua própria postura nesse caso. Se, em outubro, na mesma região, já tinham sido massacrados 14 soldados, não seria o caso de alterar a estratégia militar? Aqueles jovens foram vítimas, em primeiro lugar, de todos seus superiores, inclusive seus governantes. Só resta – a quem tem fé – unir nossas orações às dos iranianos.

  10. Fernando/Maceió/Alagoas comentou em 01/04/14 at 21:51

    Samy, é mesmo de cortar o coração. Os jovens soldados, ainda com feições de meninos, assustados, em posição de submissão, com mãos amarradas e rifles apontados para suas cabeças. Penso que os sequestradores também deveriam ser jovens. Os dois grupos, com certeza, são jovens pobres, recrutados por grupos poderosos que disputam o poder e decidem a vida de milhares de pessoas em suas mansões com piscina e champagne francês. Triste cena deste video. Retrato deste mundo. É mesmo de cortar o coração. Até quando?

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