A eleição de Rowhani mudou alguma coisa?
18/02/14 17:50Dias desses, um amigo correspondente e eu subíamos a rua Valiasr, que corta Teerã de sul a norte, após almoçarmos com uma fonte. Conversávamos sobre os rumos do Irã e debatíamos se havia mudança desde que Hasan Rowhani assumiu a Presidência, em agosto, com mil promessas de abertura externa e interna.
Na nossa frente caminhavam, também em direção ao norte, duas moças bem vestidas e com perfume carregado. Seus longos cabelos transbordavam por todos os lados para fora do véu, reduzido a um pano displicentemente jogado por cima da cabeça. Visual típico das mulheres de classe média liberal, que vivem testando os limites da lei islâmica à moda iraniana. Mostrar o cabelo, só dentro de casa, de acordo com o código moral e legal dos aiatolás. Por estarmos atrás delas, não víamos seus rostos. Mas era fácil deduzir que eram jovens.
Quando as moças se preparavam para atravessar a rua, um carro da polícia irrompeu da direita e parou na frente delas. Um agente, fardado e barbudo, saiu do veículo e ordenou que parassem. Uma van chegou em seguida, da qual saíram duas mulheres cobertas com chador preto, tipo de véu que cobre o corpo da cabeça aos pés, deixando apenas o rosto à mostra. Era uma equipe da temida polícia moral, incumbida de caçar roupas e comportamentos considerados impróprios aos olhos da lei. Como a mesma lei proíbe contato físico entre homens e mulheres sem parentesco, cabe a agentes femininas executar as detenções.
Para não chamar atenção, meu amigo e eu passamos reto. Algumas passadas depois, demos uma espiada por trás do ombro. As moças, ainda mais jovens do que imaginávamos, estavam paralisadas de medo. Havia um agravante: elas tinham o rosto copiosamente maquiado, algo também vetado em público.
De lá, certamente acabariam levadas para a delegacia, de onde só sairiam depois de alguém levar algum véu mais pudico. Casos assim dificilmente resultam em processos. Mas ser parado pela polícia moral significa perder o dia – e aguentar um estresse em dose cavalar.
A cena foi um balde de água fria na nossa animada especulação sobre abertura do Irã. Por alguns minutos, continuamos caminhando em silêncio.
Na semana passada, um colega de academia me contou a seguinte história, ocorrida numa noite recente em Teerã.
Um de seus amigos tinha tomado uns drinques numa festa (combinação também vetada pela lei) e dirigia de volta para casa quando se envolveu numa batida de carro – culpa do outro motorista, garante meu colega de academia. Ao chegar, a polícia sentiu cheiro de álcool e obrigou o rapaz a soprar no bafômetro. Resultado: ele deverá se apresentar ao tribunal e dificilmente escapará de umas chibatas nas costas.
Não faltam outros exemplos para mostrar que, enquanto as relações diplomáticas do Irã com o Ocidente se reaquecem numa fartura de sorrisos e interesses convergentes, quase nada mudou na agenda doméstica. E olha que Rowhani ganhou, em parte, graças ao apoio dos jovens que acreditaram na sua promessa de aliviar a pressão interna.
Os filtros na internet continuam. Acessar redes sociais, Google Brasil e até mesmo o site da Folha, só com programas antifiltros que tornam a navegação mais lenta. Um amigo carioca me mandou um link para assistir uma reportagem de TV na qual ele aparece. Video de dois, três minutos. Não consegui assistir.
Isso é irrelevante diante de outros problemas.
Presos políticos continuam atrás das grades ou sob restrição de circulação. Entre eles estão os líderes reformistas Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karoubi, que contestaram sua derrota nas urnas para Ahmadinejad na eleição de 2009. O ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005) estava até meses atrás proibido de deixar o país. Não sei se ele recuperou esse direito.
Jornalistas ainda são incomodados. Mulheres e minorias continuam em desvantagem perante a lei.
Mais urgente: o número de execuções disparou nos últimos meses, alimentando todo tipo de especulação.
É aí que entra um esboço de explicação.
As restrições listadas competem à Justiça e às autoridades morais, sobre as quais Rowhani tem pouco controle.
O presidente, segundo a Constituição, cuida da economia, dos programas sociais e da infraestrutura. Na política externa, ele também tem margem de manobra. Mas no xadrez político iraniano, os poderosos inimigos de Rowhani, alguns dos quais vêm a ser justamente os ultraconservadores chefões do aparato securitário, usam e abusam de suas prerrogativas para tentar sabotá-lo. Há quem diga que a disparada das penas capitais é uma maneira de enviar ao mundo a mensagem de que o Irã não mudou nem mudará.
Claro, quem mais manda no país é o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. Khamenei apoia Rowhani na frente externa. Na política doméstica, ninguém sabe direito, mas o líder tem histórico conservador.
Resta a economia, que, na falta de uma melhora, ao menos parece ter se estabilizado. O dólar interrompeu sua queda e há meses se mantem no mesmo nível. Estudos apontam que a inflação arrefeceu. O consumo parece a todo vapor, e as empresas animam-se com o início do alívio às sanções, como parte de um acordo nuclear provisório com as potências. Mais punições serão levantadas se houver um acordo definitivo.
Simpatizantes de Rowhani não perdem esperança. Eles dizem que o presidente e seus ministros estão apostando todas as fichas nessa reaproximação com o Ocidente por um bom motivo. Se a coisa continuar andando e a economia melhorar, Rowhani conseguirá, segundo eles, capital político e apoio das massas para brigar por mais liberdades civis, políticas e individuais.
Obs: Alguns leitores escreveram perguntando porque já não encontram “Um brasileiro no Irã” na lista dos blogs da Folha. Este espaço migrou para a categoria de colunas do jornal.
Samy, existe algum tipo de opressão a minorias etinicas (azeris, curdos, árabes) no Irã? Eu quero saber também se regime islâmico do Irã apoia o pan islamismo, restauração do Califado islâmico alguma coisa do tipo?
Vinicios, a questão étnica é cheia de nuances. Turocs-azeris costumam se integrar bem à maioria persa, assim como os turcomenos. Há algumas tensões envolvendo curdos e árabes, que ocasionalmente se queixam de discriminação. Situação mais difícil é no Baluchistão, onde há grupos armados sunitas que se opõem ao governo central xiita. A revolução nasceu para ser exportada, pelo menos era o que queria o aiatolá Khomeini. Hoje em dia o Irã abandonou esse sonho e age de forma mais pragmática, focando apoio em grupos xiitas no Líbano, Iraque, Iêmen e Bahrain. O Irã bem que tentou chamar as revoltas árabes de “despertar islâmico”, mas nem a mídia estatal manteve essa apelação.
Por que o Irã abandonou esse sonho?
Por várias razões, Vinicios. Os oito anos da guerra iniciada pelo Iraque arrasaram o país e suas ambições; a prevalência de ditaduras pró-Ocidente em boa parte dos países de maioria islâmica; e talvez também um entendimento de que o modelo de revolução iraniana, conservadora e mão pesada, não ecoou o suficiente junto às populações, é algo que teve pouco poder de inspirar outros países.
Samy, falando novamente revolução.
Naquela tempo, o Irã crescia muito economicamente.
O que descontentava o povo?
Eles queriam tirar o Xá, ou implantar uma monarquia parlamentarista?
Komehini chegou e logo virou o lider supremo e vitalício do Irã?
Isto era desejado por quem?
As forças de Komeini, especificamente, eram jovens fanáticos, dispostos a morrer por seu lider. Isto os levou, ainda que sendo minoria, a tomar as armas e, por consequencia, tomar o poder?
Aqui a oportunidade para você nos expor seu pensamento sobre estes cinco tópicos, que há muito procuro respostas na internet.
Junior, na época da revolução o crescimento já havia desacelerado. Havia miséria e analfabetismo em larga escala, e o país afundava em dívidas por conra da loucura armamentista do xá. A polícia aterrorizava a população e o modelo de sociedade do governo era rejeitado por amplos segmentos da população. A exemplo do que ocorreu em revoltas árabes, o povo se uniu contra o xá sem um plano claro para sucedê-lo. O aiatolá Khomeini, que era a figura mais proeminente e carismática da oposição, voltou do exílio para comandar a revolução. Equívoco seu, se me permite, achar que a bade de Khomeini era composta de “jovens fanáticos.” O aiatolá tinha apoio em quase todos os segmentos da sociedade, intelectuais, comunistas, trabalhadores etc, que viam nele a força necessária para mudar o país. De início Khomeini se cercou de intelectuais e pragmáticos, como o presidente Bani Sadr. Mas aos poucos meses a ala mais conservadora dos religiosos se apropriou totalmente o poder. Recomendo a leitura desta entrevista que fiz em 2009 com uma grande pensadora iraniana.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0102200903.htm
Li a entrevista de FARIBA ADELKHAH, muito boa. Muito bom.
Fiz esta observação pelo que vi estes dias na imprensa mundial, por ocasião dos 35 anos da Revolução Islâmica.
Li que logo em março de 1979 começaram a funcionar os ‘comitês de execução’, (algo assim) e que eram atuantes. Julgavam e executavam pessoas pró-monarquia e liberais. Assim, quem iria se atrever a ir contra? E qual a racionalidade disto? Uma ex-ministra foi executada por ‘corrupção na terra’.
Isto não é coisa de fanático? E, mesmo que eles fossem ou sejam minoria, quem vai se atrever a ir contra?
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Li que Khomeini ficou fora do Irã por uns 12 anos, exilado. Nesta época houve grandes transformações por aí.
Chegou para liderar a revolução, nos seus 78 anos.
Quando morava em Paris, dizem que caminhava para cuidar da saúde, mas sem olhar para os lados. Talvez para não ver o ‘pecado’.
PERGUNTO: até que ponto o estilo de vida dele era o objetivo da população, e até que ponto ele estava atualizado com o Irã de 1979?
Interessante você falar de Bani-Sadr eu iria perguntar mesmo.
Li que ele foi eleito presidente em janeiro de 1980 com ampla maioria de votos, e não era o candidato de Khomeini.
Quis convocar um plebiscito ou similar sobre questões do país, mas Khomeni teria dito: “se 34 milhões dizem que sim, posso dizer que não!”
Para finalizar, se quiser comentar, faço duas PERGUNTAS:
– o que dizem de Bani-Sadr por aí hoje?
– Khomeini já não possuía um plano de implantar uma ditadura no Irã, sendo ele o líder absoluto, já há muito tempo, e sendo esta a ideia de seu grupo?
Júnior, difícil saber o que se passava na cabeça do aiatolá Khomeini antes da revolução. Mais uma vez, o fato de haver extremistas nas fileiras khomeinistas não significa que ele não obteve apoio da maioria da população, principalmente antes de a revolução ser implementada. Bani Sadr é uma figura esquecida, conhecido apenas pelos mais velhos. Radicado em Paris, o ex-presidente vive dando entrevistas criticando o regime. Mas aqui dentro do Irã, ele não tem relevancia alguma.
Mais: você diz que a Revolução queria mudar uma ditadura sanguinária, a do Xá.
Pessoas de mais idade, superior a 50 anos, o que dizem quando comparam o Irã atual com o daquele tempo?
Hoje acham que têm mais liberdade e prosperidade?
Mais uma vez, Júnior, tudo depende da pessoa a quem você irige a pergunta. Uns acham que o Irã é mais autoritário do que naquela época. Outros dizem que o governo atual é mais aberto, pois permite certa alternância (não havia eleições na época do xá) e há no Irã uma sociedade civil inexistente naquela época.
Samy, bom dia!
Vi uma notícia hoje sobre uma cantora Googoosh, diz que ela é muito popular por aí.
Realmente? Foi perseguida pelo governo?
Quando o povo pediu a revolução, banir cantoras como ela era um objetivo?
Junior, a lei iraniana instaurada após a revolução de 1979 proíbe o canto feminino – ou melhor, permite que uma mulher cante com a condição que sua voz esteja acompanhada por um homem cantando junto. Googoosh gerou fúria das autoridades nas últimas semanas por defender direitos dos gays.
Oi Samy, participar deste bom debate é algo muito interessante.
Mas, duas perguntas não respondidas. E outra nova.
Uma você não poderá responder, mas considerações serão úteis:
– Casos como desta Googoosh incomodavam tanto a população que justificava uma revolução?
– Ela ainda é muito popular?
– Você diz que ela é ‘proibida’. Caso você sai por aí andando com um rádio tocando músicas dela, em local movimentado. As pessoas comuns irão se incomodar, ou apenas os agentes do sistema?
1) A revolução não começou como movimento religioso ou conservador. Era um levante generalizado contra uma ditadura sanguinária. O objetivo era derrubar a monarquia e trocá-la por uma democracia. Quase todo mundo se revoltou contra o xá, comunistas, intelectuais, classe média e religiosos, que eram os mais organizados. As leis moralmente repressoras foram adotadas nos anos seguintes à revolução, quando os clérigos que haviam se apropriado o poder ganharam confiança suficiente para impor sua visão. Vale lembrar que o Ocidente acabou ajudando o regime sem querer ao apoiar a invasão do Irã pelas tropas de Saddam Hussein após a revolução. Em vez de derrubar o aiatolá Khomeini, como queriam iraquianos e ocidentais, a guerra cerrou fileiras e reforçou o regime iraniano revolucionário. Ou seja que, apesar da predominânca dos religiosos, a raíz da revolução foi muito mais política que moral. Mas quem moldou o novo Estado foram forças ultraconservadoras que tinham uma interpretação do Islã contestada por alguns.
2) Sim, ela é popular.
3) Pessoas comuns não se incomodariam, mas quem vive no Irã sabe que não se sai por aí impondo sua música ao povo na rua, qualquer que seja a música. Dito isso, vá a qualquer café descolado de Teerã e verá que o som ambiente vai de Madonna a Lady Gaga, passando por Celine Dion e Beyonce – que também tocam a todo volume na academia que frequento. Em tese, essas músicas são proibidas. Mas as autoridades toleram, desde que seja em locais de propriedade privada.
Samy, a política no Brasil e nas democracias em geral teoricamente é determinada de ‘baixo para cima’.
Ou seja, uma eleição mostra o que deve ser mudado.
No Irã, as eleições vencidas por ampla maioria por Kathami e agora Rowhani mostram o desejo de algumas mudanças.
Mas, por aí parece que o governo visa, ao invés de servir ao povo, impor-se ao povo.
Como se a suprema liderança tem a verdade, e todos os demais devem recebê-la, ainda que por imposição.
A palavra ‘humildade’ é cultuada por aí?
Houve inegáveis mudanças na época de Khatami. A aplicação das leis morais ficou mais flexível e a relação com a Europa era tão normal que havia até bancos franceses e britânicos em Teerã. Rowhani está tentando recuperar parte desta atmosfera. Não tenho dúvidas de que seu governo busca melhorar a vida das pessoas, mas os poderes da Presidência são limitados. Um comentário sobre o que você coloca: um dos mais brilhantes sociólogos iranianos, professor em Princeton (EUA), certa vez me disse o seguinte que “povos geram governos, governos não geram povos.” Vale a reflexão.
Samy, antes de mais nada parabéns pela coluna, que é um,a visão bastante enriquecedora da sociedade iraniana. Não sei se tu ouvistes falar, mas há um plano de governo, que se eu não me engano está sendo apreciado no Parlamento, que propõe dificultar o acesso feminino a cursos superiores, principalmente os da área de exatas. Inclusive, o Fantástico último domingo apresentou reportagem feita no próprio Irã na qual fala sobre essa iniciativa. Tu sabes alguma coisa sobre este plano, que parece está sendo recebido com resistência pela população? Se ele foi aprovado ou não? O plano, em inglês, se chama “Comprehensive Population and Family Excellence Plan”. Desde já, grato pela atenção.
Dante, o plano de restringir o acesso das mulheres a algumas áreas acadêmicas já foi implementado a partir de 2012.
Regimes totalitários como o iraniano douram a pílula por fora (para mostrar ao mundo exterior que estão fazendo mudanças), mas mantêm o mesmo conteúdo interior (para o povo do pais). Regimes totalitários como o iraniano, saudita, cubano e norte-coreano só cairão se houver uma revolta popular ou invasão norte-americana. Quem está no poder não quer largar o osso.
P.S. Não defendo as invasões americanas de nenhum país. Os US são tão autoritários quanto os regimes que agridem.
Uma coisa é certa: militares ou religiosos no poder do estado, como a história demonstra, não é uma boa alternativa política. Lugar de religioso é na igreja/mesquista/sinagoga/terreiro e de militares na caserna! Governo civil, laico, pluripartidarismo e alternância de poder ainda é, para mim, a melhor receita para se viver num mundo com mais liberdade e prosperidade. O militares já comandaram o Brasil e já sabemos o final da história. A Europa foi governada pela Igreja Católica por século, na Idade Média, e sabemos das atrocidades cometidas…
Como árabe muçulmano você não deveria apoiar esse modelo de democracia imperialista do Estados Unidos. Me envergonha você defender os Estados e criticar nossos irmãos iranianos.
لا إله إلا الله محمد رسول الله
Seria exagero afirmar que antes o Irã tinha um monarca e sua nobreza. Agora, tem um líder supremo e os clérigos?
O objetivo de muitos que fizeram a revolução era ter um governo que não fosse subordinado ao voto?
Você escuta conversar sobre o processo revolucionário?
Ulisses, antes era um monarca e sua nobreza. Hoje o regime é fragmentado entre facções rivais com agendas às vezes opostas – clérigos, militares, Presidência, juristas, Parlamento… Cada uma aponta numa direção, e muitas vezes isso afeta o processo de tomada de decisões. A questão nuclear deixa isso claro. Hoje, pela primeira vez em anos, o Irã tem uma política de negociação nuclear coerente, mas há muita resistência interna por parte de juristas, clérigos e parlamentares. O sistema iraniano é muito complexo e cheio de nuances. O líder supremo é máxima autoridade, mas ele precisa do apoio de uns e de outros. A revolução buscou democracia eleitoral, que existe, em parte. O Irã tem eleições constantes (para presidente, deputado, vereador e até o líder supremo é eleito por uma assembleia) e a maioria ocorreu sem suspeita de fraude. Dez vez em quando ouço os mais velhos questionarem a revolução em si, mas são raras as pessoas que gostariam de ver outra revolução. É sempre um trauma enorme e algo muito custoso com resultado incerto. O que acontece na Síria e no Egito também contribui para esfriar eventuais ímpetos revolucionários.
Samy, realmente a mudança do blog para coluna foi um erro estratégico e pior, sem divulgação. Antes até viamos na home da folha os destaques seus. Mas agora como coluna nem isso. Deveria ter a mesma entrada no blog com o seu nome informando o novo local.
Obrigado pela atenção e um bom trabalho.
Pude observar in loco que a repressao moral/comportamental continua a pleno vapor no Ira pos-Ahmadinejad. Andando com uma amiga iraniana em Teera, por duas vezes tivemos que rapidamente pegar um taxi para sair da Vanak Square porque o camburao da policia moral estava la estacionado procurando vestimentas inadequadas; e a minha amiga estava muito maquiada e portava um hijab que deixava a maior parte do seu cabelo a mostra.
Apesar disso, senti um clima mais leve e imagino que na epoca de Ahmadinejad o ambiente nao estava assim. Apos as ultimas eleicoes, os iranianos tem esperancas de melhoria na relacao com o ocidente e consequentemente tambem na situacao economica do pais.
Sobre Rouhani especificamente, e’ interessante notar que a maioria dos iranianos o consideram um “moderado”, e nao um “reformista” como Mousavi. Sera que Rouhani teria vontade e coragem para enfrentar a linha dura do regime e brigar por maiores liberdades civis e politicas?
Bom dia Samy!
Esta estrutura de repressão deve ser muito cara, manter uma polícia para fiscalizar os cabelos das pessoas.
Por outro lado, muita gente deve viver disto.
Se não se importarem com detalhes da vida pessoal de cada um, então muitos podem perder o emprego.
Pergunto: uma discussão sobre a necessidade ou não de manter esta política poderia ser feita no Irã?
Não que vá mudar, mas o questionamento seria tolerado, via imprensa e legislativo?
Ulisses, essa discussão existe nas rodas privadas e, de maneira elíptica, em setores da imprensa. Mas é improvável que se transforme num debate institucional. Até porque essa não é a prioridade. Muito mais urgente é a situação econômica, e quase todos os iranianos concordam que, por enquanto, é preciso resgatar o poder de compra e os empregos antes de pensar em liberdades civis e individuais.
Mais uma pergunta? O que acontece se um casal de 20 anos de idade for pego mantendo uma relação sexual?
Estão em um carro, nus, e não são casados.
O
Difícil saber, Junior, dependerá dos rumos do processo. Mas estarão sujeitos a penas de prisão, multa e chibatadas. Mas esta é uma cena bastante improvável.
Samy, em buscas na internet existem muitos vídeos com o título “Iran: before and after 1979.”
Mostra imagens do Irã na época do Xá.
Vemos mulheres sem o véu, vestidas com roupas da moda, mulheres e homens juntos conversando.
Praias com mulheres e homens juntos, estando elas de maiô ou biquine.
Este ‘mundo’ era minoritário no Irã? Ou refletia o sentimento da maioria?
Hoje, aquele ‘mundo’ está apagado, ou represado no inconsciente coletivo das pessoas?
Não há como responder objetivamente, mas suas ponderações serão muito enriquecedoras.
Júnior, isso mereceria uma dissertação profunda! Sim, a dinastia dos xás Pahlavi pai e filho tinha leis muito liberais e ocidentalizadas, mas o resultado disso é que os bairros cosmopolitas de Teerã viviam numa contradição frontal com um enorme segmento da sociedade conservadora e rural. Como diz o historiador Michael Axworthy, o xá quis transformar os iranianos em britânicos. Não deu certo. Não tinha como dar certo. Não é de esse estranhar que a revolução tenha sido liderada por religiosos, que formavam a parcela mais oprimida e organizada da oposição. E revoluções só dão certo quando têm apoio expressivo da maioria. Dito isso, muita gente se decepcionou com a imposição de leis muito restritivas depois da revolução. Mas veja como são curiosos os paradoxos. Antes da revolução o véu era muito mal visto pela polícia e vetado em alguns lugares. Com isso, muitas moças deixavam de sair de casa. Depois da revolução o número de mulheres na universidade disparou. Hoje, mais da metade dos alunos universitários são mulheres.
Samy, você comentou parte da questão.
Falou sobre a abrangência.
Havia bairros cosmopolitas em Teerã, e outros não.
Mas, a oposição que você disse seria rivalidade, ou um contraste apenas, havia uma coexistência?
A questão que você poderia abordar é se aquele mundo está morto, ou apenas hibernando o inconsciente das pessoas.
Tal qual a religião nas extinta União Soviética.
Junior, nenhum “mundo” está morto, a sociedade iraniana apenas se adaptou. As leis consevaradoras do atual regime empurraram para o ambiente doméstico as práticas antes permitidas. Nas festas privadas dos círculos liberais e seculares, todo mundo enche a cara, dança e se agarra. Nos condomínios de ricos, é comum ver homens e mulheres dividindo a mesma piscina, mesmo que isso seja vetado pela lei. Esses mundos díspares sempre conviveram um com o outro no Irã.
Interessante sobre as piscinas…
Nestes condomínios privados, as mulheres usam maios e biquinis tipo do brasil?
Se tiver conhecimento a policia moral vai la?
Caso va, precisa pedir autorizacao judicial?
Sim, mulheres usam biquinis e maiôs – mais comportados que no Brasil, verdade seja dita. Em tese, a polícia não pode invadir propriedade privada sem autorização judicial. Mas basta que um morador descontente abra a porta do prédio para que a polícia acabe com a festa. Neste caso, o síndico ou o dono do prédio correrão risco de ser processados.
Samy, por que não convivem estas mulheres de chador preto, com as meninas mostrando os cabelos, ou mesmo sem véu?
Qual a lógica de não se aceitar a individualidade nestas escolhas? Talvez seja esta características que causem temor dos regimes islâmicos.
Estas execuções são públicas ou televisionadas?
Junior, em espaços públicos não há meninas sem véu simplesmente porque cobrir a cabeça é obrigatório, independentemente da vontade individual. Ao implementar o regime teocrático, após a revolução de 1979, os aiatolás decidiram que os iranianos, como nação de maioria muçulmana, deveriam ser submetidos a uma rígida interpretação da lei islâmica. A expressão que você usa, “regimes islâmicos”, é escorregadia, pois o que vale para alguns países não se aplica em outros. O Marrocos também segue a sharia, a lei inspirada no Corão, mas não impõe o veu e permite bares e discotecas. A Arábia Saudita tem o regime mais conservador do mundo, que proíbe mulheres até de dirigir. O Paquistão tem um governo secular, mas a sociedade é tão conservadora que poucas paquistanesas ousam sair sem véu, mesmo que não seja obrigatório por lei. Não se esqueça de aqui não é Ocidente, ou seja que as pessoas não têm tanta obsessão pelo véu. O ambiente cultural é muito diferente e nem todo mundo quer viver à moda ocidental.
Execuções públicas são cada vez mais raras. Elas ocorrem quase sempre dentro das cadeias. Não passam na TV.
Escrevi longa reportagem a esse respeito em 2012.
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2012/07/1112795-ahmadinejad-e-seus-guindastes-da-morte.shtml
Ali Khamenei e o verdadeiro e unico que decide
no Ira. Ele esta usando Rowhani para aliviar a
economia. No momento que Ali Khamenei achar
que nao precisa mais de Rowhani ele simplesmente vai se livrar de Rowhani.
Ira NAO mudou.
Sou filho de iranianos, nascido no Brasil. Entendo perfeitamente o que você destaca neste seu artigo. Nada muda no Irã se não mudar o sistema por inteiro. Sai Khatami, entra Ahmadinejad, este sai e entra Rowhani e nada mudará se o regime teocrático continuar. E ainda acrescento um outro grupo que serve de teste para verificar a sinceridade de Rowhani em mudar as coisas no Irã: o tratamento dado aos seguidores da religião bahá’í. Todos perseguidos e discriminados ao máximo. Será que nossos parlamentares que foram ao Irã na semana passada perguntaram sobre o tratamento dado aos bahá’ís? Fariam bem se o tivessem feito. Enquanto a perseguição promovida pelo Estado continuar no Irã contra esta minoria religiosa, não há aurora democrática que resista. Que tal o nosso brasileiro no Irã fazer um artigo sobre os bahá’ís ?
Concordo com voce. O Governo Iraniano diz
uma coisa ao Ocidente(dizem o que o Ocidente quer ouvir com muintos risos) e fazem outra coisa.(Sem democracia , sem respeito a liberdade de Religiao).