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Samy Adghirni

Um brasileiro no Irã

Perfil Samy Adghirni correspondente em Teerã.

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Bolsistas iranianos rumo ao Brasil

Por Samy Adghirni
14/01/14 11:59

Manhã recente no consulado brasileiro em Teerã. Enquanto estou sentado na sala de espera para resolver um rolo de passaporte, uma jovem iraniana chega, pega uns papeis no balcão de atendimento e começa a preenche-los numa mesa ao lado. Espio de canto de olho, e vejo que a papelada leva a marca da USP. Mais precisamente do Departamento de Matemática e Estatística. Bisbilhoteiro por profissão, arrisco um oi em inglês. “Você vai estudar no Brasil?”. O “yes” da moça, seco e baixinho, deixa claro que ela não quer conversa.

Um rapaz alto, de gravata e gabardine, entra na sala. Em seguida, um baixinho vestindo tênis e casaco. Perguntam algo ao atendente no balcão e se acomodam nas cadeiras da sala de espera. Me parece claro que ninguém ali se conhece, mas quando me dou por conta os três iranianos já estão no maior papo. Ligo o meu tradutor mental na potência máxima e grudo na conversa.

Todos são estudantes inscritos em programas de pós-graduação em universidades brasileiras. Contam sobre seus respectivos cursos e trocam dicas sobre passagens aéreas para o Brasil. Nenhum jamais pisou nas Américas. O baixinho nunca sequer saiu do Irã.

A moça, deduzo, está no consulado para dar entrada no pedido de visto depois de ser aceita pela USP. O rapaz alto, já PHD, vai fazer pós-doc em Ciência dos Alimentos na Unicamp. Ele está na embaixada para retirar o visto. O baixinho, que também aguarda a emissão do visto aprovado, conta com orgulho que integrará o Departamento de Geociência da Unicamp, “um dos melhores do mundo”, segundo ele.

Os três conseguiram bolsa do CNPQ. Estão empolgadíssimos. Quando finalmente entro na conversa, me perguntam se o valor de R$ 2000 e poucos que cada um receberá é suficiente para morar no Brasil. Detalhe: os dois rapazes se instalarão em Campinas com suas respectivas mulheres, que não terão renda. Deixo você, caro leitor, imaginar o que respondi sobre o custo de vida brasileiro, tema abordado extensivamente em posts anteriores.

Depois que a moça sai, continuo a conversa com os dois rapazes, que devem desembarcar no Brasil em fevereiro. Me pedem recomendação de algum professor de português em Teerã. Sem graça, admito que não conheço nenhum. Aliás, também venho recebendo mensagens de leitores atrás de professores de farsi no Brasil.

Esse encontro fugaz teve algo de caricatural para quem conhece o Irã. Eu estava diante de três “nerds” de exatas, perfil típico dos estudantes iranianos. Humanas não fazem muito sucesso por aqui.

As melhores universidades de ciência e engenharia no Ocidente, americanas inclusive, estão cheias de iranianos. “São dedicados, competitivos e não se metem em confusão”, me disse certa vez a cônsul da França. “Só não damos visto para estudantes ligados à área de pesquisa nuclear”.

About Samy Adghirni

Samy Adghirni, 34, é correspondente da Folha no Irã. Está no jornal desde o fim de 2007. Cobriu as revoltas árabes no Egito, na Tunísia, na Líbia e na Síria e fez reportagens no Iraque, Iêmen, Síria, Cisjordânia, faixa de Gaza, Turquia, Marrocos, República Dominicana, Equador, Argentina, EUA, Suécia, Bélgica e Finlândia, entre outros países. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Stendhal de Grenoble (França) em 2001 e trabalhou em Paris para as rádios BFM e Radio France Internationale. Em Brasília, foi setorista de Itamaraty e colunista musical pelo "Correio Braziliense" e colaborador da agência France Presse.
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Comentários

  1. Igor /Roraima comentou em 20/01/14 at 21:14

    eles vão se apaixonar pelo Brasil.

  2. Igor - roraima comentou em 20/01/14 at 21:12

    Samy, será que é muito difícil pra eles obterem visto na embaixada iraniana? quanto tempo leva para ser aprovado? Eu acho que eles vão se apaixonar pelo Brasil e voltarão várias vezes, apezsar da violência.

    • Samy Adghirni comentou em 21/01/14 at 5:32

      Igor, a Embaixada do Brasil em Teerã fornece visto sem dificuldade a quem provar inscrição em universidade brasileira.

  3. Orlando Peres comentou em 16/01/14 at 15:08

    sobre a questao de moradia, o mesmo se apllica para qualquer estudante que vem a UNICAMP. a solucao eh dividir uma casa, a republica.

    Tenho a experiencia pessoal de ser um professor que trouxe um iraniano (+esposa) ao Brasil , e foi uma experiencia de muito sucesso. Estou muito feliz com a minha escolha de trazer ele ao Brasil. A pessoa veio para fazer pos-doutoramento e entao a questao financeira nao era tao apertada para Campinas. Em Rio de Janeiro, o custo do aluguel eh o dobro de Campinas, e a bolsa eh a metade da bolsa do estado de Sao Paulo.

  4. Vahid comentou em 16/01/14 at 13:54

    Ola, Samy!
    Eu sou Iraniano e estou fazendo doutorado em fisica na UFJF, Brasil.
    Eu escolhi o Brasil pois queria conhecer um pais diferente. Um lugar que recebem bem os estrangeiros e eu poderia conhecer a cultura alem de estudar fisica.
    Depois de tres anos estou satisfeito com a minha escolha. Eu recomendei o Brasil para muitos amigos.
    Viva Brasil!

  5. moisés comentou em 15/01/14 at 9:53

    Samy,suponho que vc tenha dito pra eles trazerem um troco a mais no bolso porque manter um padrão de classe média,pagando aluguel,com mulher e custo de vida alto R$2000,00 não daria nem pro cheiro(rs).
    Ab.

  6. Fernando/Maceió comentou em 14/01/14 at 19:51

    É grande o número de estudantes estrangeiros que vêm estudar no Brasil e acabam ficando. Como as universidades brasileiras permitem (recentemente) que estrangeiros concorram às vagas nos concursos para professores, este acaba sendo um dos incentivos para a permanência no Brasil. Que sejam bem vindos os iranianos. Estudei na UNICAMP e é uma grande universidade. Os iranianos só terão que se acostumar com a violência extrema e os preços exorbitantes no Brasil. O rapaz que vai estudar engenharia de alimentos tem grande chance de ser contratado por grandes empresas alimentícias e quem sabe o baixinho das geociências vai parar na Petrobrás? Boa sorte para todos!

  7. Tárcio Augusto comentou em 14/01/14 at 15:56

    Olá Samy !acompanho sua epopéia desde o comecinho aqui na folha e tenho uma pergunta: Qual o motivo que levou esses iranianos a escolherem o Brasil, você teria alguma pista? E por que não Alemanha, Rússia ou mesmo os EUA?

    Obrigado e boa sorte!

    • Samy Adghirni comentou em 14/01/14 at 18:18

      Tárcio, me parece que os dois rapazes escolheram o Brasil por causa dos cursos bastante especializados da Unicamp – Geociência e Ciência dos Alimentos, que não são tão comuns. Mas imagino que outras razões entraram na conta, como possibilidade de obter bolsa e obtenção de visto mais fácil.

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