O brasileiro Nilson, astro do futebol no Irã
30/09/13 09:47Quando recebeu proposta para jogar no Perspolis, do Irã, o veterano goleiro Nilson, 37, ficou perplexo. Como ele, com sólida carreira no futebol profissional brasileiro e português, poderia se aventurar num campeonato tão distante da elite internacional?
Os amigos não ajudaram. “Você ficou louco? O que vai fazer lá? Quer colocar sua vida em risco?”
Com incentivo da mulher, a jornalista pernambucana Gilvana, Nilson Correa topou o desafio.
Mas ao desembarcar em Teerã, no ano passado, Nilson foi… deportado!
“Cheguei sem visto e sem informação. O oficial da alfândega perguntou o que eu queria fazer no Irã, e eu disse que iria jogar no Perspolis. Ele não acreditou e mandou me colocarem de volta no avião”, contou Nilson dias atrás, em longa conversa na cafeteria do suntuoso prédio onde mora, a oeste de Teerã.
Furibundo com o destrato, jurou nunca mais pisar na república islâmica. Mas os dirigentes do Perspolis imploraram perdão pelo desencontro e aumentaram a oferta de salário anual de US$ 500 mil para US$ 600 mil. Mais bichos e um adicional por jogo sem levar gol. “Aí eu disse que aceitava.”
Em sua segunda temporada iraniana, Nilson hoje é superastro do Perspolis e o brasileiro mais destacado da liga iraniana.
“Estamos muito felizes com ele. Ele caiu nas graças da torcida e a equipe inteira gosta dele porque, além de grande goleiro, é uma pessoa muito boa”, me contou um dirigente do time, sempre na disputa pela liderança.
Embora desconhecido no Brasil, o Perspolis é um dos maiores e mais tradicionais time da Ásia. O alvirubro de Teerã diz ter torcida de 30 milhões, a maior do continente. Registrados com carteirinha, são 1,2 milhão. Nada mal. Seu arqui-rival é o azul Esteghlal, também de Teerã, com quem protagoniza uma das maiores rivalidades do futebol mundial. Clássicos podem facilmente levar ao estádio Azadi 100 mil pessoas em delírio.
Alguns dos principais nomes do futebol iraniano passaram pelo Perspolis, como o meia-atacante da seleção Ali Karimi, ex-Bayern de Munique, e o ex-centroavante Ali Daei, também ex-Bayern, apontado pela FIFA como maior artilheiro da história em partidas oficiais internacionais, com 109 gols _Puskas é segundo (84) e Pelé, quinto (77). Daei hoje é treinador do Perspolis.
“O futebol aqui é bom. O jogador iraniano tem qualidade e valoriza a técnica”, diz Nilson, fala mansa e gestos suaves,
O goleiro garante ter se adaptado à nova vida.
“Quem fala mal do Irã não conhece. Além de tranquilo e seguro, o país é bonito, tem praia, floresta, montanha etc. Teerã é enorme, no Brasil só São Paulo é maior. Tem tudo aqui. E as pessoas são muito boas”, afirma o goleiro, que mora com a mulher e a filha Letícia, de quatro anos.
No tempo livre, vão a parques e shoppings. O casal é evangélico e faz orações diárias. “Até minha filhinha já participa”, alegra-se Nilson, que diz nunca ir às alucinadas farras clandestinas que agitam o ocidentalizado norte de Teerã.
Quando o time faz a reza islâmica antes de entrar em campo, Nilson fica na dele, orando para Jesus. “Os iranianos respeitam minha fé, nunca tive problema por isso.”
“A maior dificuldade é a língua. Mas já decidi começar aulas particulares de farsi”.
O capixaba Nilson foi revelado pelo Vitória e fez parte do grupo que chegou à final do Brasileirão de 1993. “Era
uma turma boa, tinha Dida, Paulo Isidoro, Alex Alves, Vampeta…”
À época considerado grande promessa, foi convocado para a Seleção Brasileira sub-20 e sub-23, jogando ao lado de estrelas como Caio, Luizão, Zé Elias, Denilson e Emerson.
Nilson passou por vários times brasileiros, mas brilhou mesmo no Santa Cruz e no Nautico. Em 2005 transferiu-se para o Vitória Guimarães, de Portugal, onde foi feliz até a crise econômica europeia tornar as finanças do clube incompatíveis com seu salário. Foi o técnico português Manuel José que levou o goleiro ao Irã. José deixou o Perspolis, Nilson ficou.
Em 2011, Nilson recebeu passaporte de Burkina Faso para atuar pela seleção do país africano. “Me deram 100 mil euros pela naturalização e me prometeram 4.000 euros por convocação mais 3.000 euros por vitória.” Ele chegou a passar dez dias concentrado com o time na Namíbia, até que a CBF vetou a transação. “Devolvi o passaporte, mas me disseram que eu poderia ficar com os 100 mil euros.”
Nilson acompanha à distância a nova geração de colegas brasileiros. Mas só merecem elogios arqueiros da velha guarda. “Taffarel foi o melhor. André era sua cópia fiel no estilo sóbrio, não espalhafatoso. Dida é outro grande goleiro. Fabio se perdeu numa época, mas se recuperou”.
Gringos? “Preud’homme foi melhor goleiro do mundo com 40 anos de idade. Van Der Saar e Buffon também são impressionantes”.
Nilson diz que pretende jogar por até mais dois anos. “Depois disso quero ser treinador. Vai ser muito bom se Deus abrir esta porta.”
Samy, poderia publicar esta matéria no site em que escrevo, o Doentes por Futebol, com, ululante, os créditos e o link a seu blog? Abraços de um leitor assíduo.
Leo, você pode divulgar o link, sim, desde que com o devido crédito. Obrigado.
Obrigado, Samy. Este é o tipo de matéria que nós priorizamos – as simples, o lado lúdico do futebol, os locais a que o esporte conduz o atleta. Os leitores agradeçerão bastante. Deixarei o link completo à folha e a teu blog, uma aula para pessoas como eu, que almejo ser um jornalista e me arrisco tecendo algumas linhas sobre esse esporte que tantos cativa. Abraços. PS – O site é http://www.doentesporfutebol.com.br
Samy, que bom que vc nos mostra o outro lado do Iran, pois está vivendo la. Geralmente só vemos noticias negativas do Iran distribuidas para o mundo pelas matrizes judias da Central da Midia Mundial de NY.
Tanto que ontem foi noticiado por aqui com destaque que o chefe da filial americana no OM foi pedir ao Obama para continuar com as sanções economicas ao Iran.
Isso é uma vergonha, porque Israel tem armas nucleares e não quer que o Iran tenha. Um verdadeiro absurdo!
Na minha cidade tem famílias irarianas, inclusive uma Comunidade da Fé Baha’i, e eles falam português corretamente. São empresários e cordiais. Totalmente diferente do ex-presidente que diz querer varrer Israel da face da Terra. Nilson, deve ter goleiro de time grande aqui, querendo um salário igual ao seu.
Desconhecia esse lado do Irã, bom saber !!! Abs. e boa sorte Nilson !!!
caros amigos,tenho muitas curiosidade em saber como age a justiça do ira em relação a quem rouba,mata,estupra etc. muito grato.
Vi uma reportagem na televisão sobre o Irã e confirma todos os comentários descritos.Realmente é um belo país,onde a cultura e o repeito humano é a marca desse povo.Parabens e felicidades para este grande goleiro que nunca tinha ouvido falar.
Com certeza, Samy, o Nilson parece ser um grande boa-praca, alem de ser competente. Alem de ter defendido o meu Santa Cruz, tambem tive o prazer de acompanhar a sua passagem pelo Vitoria de Guimaraes. Que ele continue fazendo um excelente trabalho no Persepolis (que e’ nome internacional do clube). Um grande abraco.
Ed, webseigner at http://www.bluetulipdesign.com
Esse daí tá reclamando do quê ?
Saudades deste grande goleiro que quando estava no náutico nos deu muitas felicidades,
Deus lhe abençoe Nilson….
O goleiro capixaba Nilson é um dos muitos jogadores descobertos na Copa A Gazetinha, competição de futebol infanto-juvenil, que é realizada no Espírito Santo desde 1976. Ela jogava na Associação Esportiva e Recreativa Tubarão (Aert) e aprendeu a ser goleiro com o treinador Geneci das Mercês. Além de Nilson, foram descobertos na Copa A Gazetinha jogadores como Carlos Germano, Geovane (ex-Vasco), Sávio, Maxwell, Jussiê, Werlesson, França, Ely Tadeu, Gladstone, etc., etc., etc…
Poxa, que legal ler essa matéria!! Achei interessante os comentários aqui postados e pude com toda certeza, ter um conhecimento um pouco melhor a respeito desse País tão distante de nós Brasileiros. Fiquei imaginando a coragem do Nilson de ir jogar num Time grande de lá, mas desconhecido do restante do Mundo e principalmente pela cultura completamente desconhecida por parte dele. Mas no final deu tudo certo e esse bom goleiro tem feito historia por la e nos representando dignamente. Parabéns ao Nilson e parabéns pelo autor da belíssima matria!!! Valeu muito!!!
torcida grande so
parece um timinho aqui de
itaquera
kkkkkk!!!! pois é, só não é mais desconhecido que um famoso “mauricio” de não sei de onde nem sei do que… valeu pelo ibope, mas preferia alguém mais famoso comentando, pelo menos alguém conhecido…
Excelente matéria: desmistificadora, trazendo realidades do Irã às quais temos conhecido apenas por meio das lentes americanas. Parabéns ao Nilson pela postura.
O Irã é um país muito acolhedor e o povo trata os brasileiros muito bem,principalmente jogadores de futebol…Um dos maiores ídolos do futebol iraniano recente era o brasileiro Fabio Januário q foi tri campeão da Liga Iraniana e fez muito sucesso principalmente jogando no Estehglal,principal rival do Perspolis,eu mesmo já presenciei um clássico com 100 mil pessoas no estádio e metade era azul(Estehglal) e a outra vermalha(Perspolis).
O goleiro Nilson é uma pessoa muito querida
no meio esportivo de Pernambuco. Tem muita identificação com as torcidas do Santa Cruz e Náutico.
José Nunes
O Irã é um país decente para se viver, só não pode é introduzir outra religião sem ser o Islã.
Procure se informar antes de falar besteira. O Irã tem a segunda maior comunidade de judeus do Oriente Médio, perdendo apenas para Israel. O Parlamento iraniano é representado por 5 religiões entre elas o judaísmo.
Brilhou no Santa Cruz, um dos grande goleiros que tivemos nos últimos anos.
Olá, me chamo Heitor, sou muçulmano sunita e vivo no Brasil.
Minha esposa é de origem paquistanesa e cidadã inglesa, devido a minha profissão não posso me mudar para algum dos dois países.
Descobri seu blog hoje e vou acompanhar, assim como faço como o do Bercito e assuntos árabes…
Gostaria de perguntar sobre, em sua opinião, qual a relação do Irã com o Paquistão? São países vizinhos, mas pouco se lê sobre como convivem?
Abraço.
Jazak’Allah khair 🙂
Ah, por esses US$ 600.000 eu vivo no Irã sem problemas, mesmo sendo sunita, eu pelo menos não levo nossas diferenças ao fanatismo.
Me preocupo mais com o wahabismo saudita, esse sim, danoso ao islam.
Abraço.
Jazak’Allah khair
Heitor, Irã e Paquistão de fato se conhecem pouco e não têm grande empatia, em parte devido ao Paquistão ser visto no Irã como país com forte cultura sunita conservadora. A língua e os modos são muito diferentes. Sem falar no problema do Sistão-Baluchistão, região onde os dois países se encontram marcada por militância contrária ao governo de Teerã. Mas há importantes negócios entre iranianos e paquistaneses, o que ajuda a manter uma agenda bilateral cordial.
Minha esposa diz que o Urdu, falado no paquistão, não é tão diferente do farsi, ela consegue até entender algumas palavras.
Concordo quanto ao conservadorismo sunita, a família dela é de Karashi e quando fui lá fiquei impressionado com esse conservadorismo.
Infelizmente as pessoas levam essas diferenças aos extremos, principalmente os sauditas que financiam as guerras contra o xiismo na Síria e no Iraque.
Eu chego a pensar que os atentados de 11/9, que levaram os EUA ao xiita Iraque, foram feitos pelos sauditas (governo ordenando sauditas e pagando a família Bush por meio da Halibarton), eles querem exterminar o xiismo..
O que me preocupa é que se eles terminarem com os bastiões xiitas na Síria e principalmente no Irã o que virá depois?
Desde o século XIX tentando implantar o wahabismo em nossa fé.
Abraço e boa sorte no Irã, passei horas lendo os posts, me surpreendi com o ambiente do país, parece muito seguro, tranquilo, respeitoso com minorias.
Falando nelas, sabia que no Paquistão existem muitos travestis? hahaha é muito engraçado.
Os iranianos, são muito simpáticos, educados, limpos, respeitadores, criativos, cultos, e também é um povo bonito! O país também é muito bonito e limpo.
Além disso é normal você encontrar iranianos, falando o persa iraniano, seu dialeto local, Inglês e Frances (praticamente todos os estudantes). O lenço tradicional nas mulheres, apenas fazem parte da religião deles, mas nada impede que usem apenas um leve lenço, e não cobrem os belos rostos das iranianas.
Tenho vários amigos iranianos, que conheci em universidades europeias (eles também tem boas universidades!), Conheço o pais, e me tornei fã deles. Fico triste quando pessoas inventam asneiras sobre eles.
Ricardo nada q dizem sobre iranianos é asneira mas sim frutos de experiencias diferentes de cada um e manifestados em pontos de vista diferentes!
Parabens ao Nilson por representar dignamente nosso país numa cultura bem diferente…bela matéria…
Parabens ao Nilson , por brilhar e ser respeitado num país de cultura bem diferente da nossa. Quem é decente, mais cedo ou mais tarde , sempre será recompesado…bela matéria….
Alguém pode confirmar, mas acho que o Nilson jogou na Inter de Limeira, no começo dos anos 2000. Se for o mesmo Nilson que estou falando, é um baita de um goleiro, torcida da Inter de Limeira gostava muito dele. Teve um jogo pelo Campeonato Paulista que foi para disputa de penais e a Inter venceu, ele pegou alguns, acho que foi 18 a 17 pra Inter contra o Verdão… Grande goleiro Nilson, realmente gente boa e bom goleiro…
Sucesso ao goleiro!
Boa matéria!
Confira: http://www.tudoemtecnologia.com
Muito bacana a coluna, primeira vez que acesso. Acho interessante termos notícias do Irã, um grande país, ora esquecido ora massacrado pela mídia ocidental.
qualquer lugar é melhor que esse buraco que é o brazil, boa sorte!
Interessante esta noticia,sei que o nível do futebol iraniano é muito bom, as torcidas comparecem aos estádios, e é bem animado. Ele é o único brasileiro jogando no Irã ?
Alfredo, há alguns poucos outros, mas não em times de ponta do campeonato iraniano. Alguns anos atrás o número de brasileiros era maior.
Samy, uma curiosidade: mulheres vão ao estádio ver futebol? Ficam separadas dos homens? Aproveito e pergunto se mulheres e homens ficam separados em outros espaços públicos (como ônibus, escolas, empresas, etc).
Grande abraço nordestino
Fernando
Fernando, mulheres não podem ir a estádios. A segregação por gênero acontece principalmente no transporte público urbano, onde homens e mulheres sentam em áreas separadas, nas escolas de ensino fundamental e, obviamente, nas mesquitas. Mas em quase todas as esferas sociais homens e mulheres podem conviver. Um médico homem pode inclusive atender uma paciente mulher, e vice-versa.
então Samy cadê o preconceito e racismo sincero dos iranianos contados nos seus dois postes anteriores???!!!
Ameh Khanum, em momento algum mencionei comportamentos sistemáticos e padronizados. Apenas me referi a tendências relevantes. O post sobre o preconceito surgiu de um estudo citado pelo “Washington Post” que identificou o Irã como país com alguma tendência à xenofobia. No vídeo sobre a Síria, os comentários dos comandantes iranianos zombando dos sírios falam por si.
Ainda bem que o dito jornal é “totalmente imparcial” visto que um dos maiores inimigos dos americanos hj é o Irã
Falando sério Samy lembre-se q há uma história detrás de cada pessoa e existe uma razão pela qual somos o q somos! pense nisto
Eu sei q a maioria dos iranianos são preconceituosos e a parte q alega não ser e pode até ser verdade mas no fundo no fundo odeia os árabes e sabe porq?
porq a crença popular é q a invasão árabe destruiu a grande civilização persa e depois da revolução o plano deste governo é acabar com o q sobrou da grande cultura persa. Vc mora lá basta observar como e de q maneira o povo contraria o governo, porém agora com o novo governo parece uma criança contente com um novo brinquedo tentando restaurar a esperança!
Vc deve lembrar o olhar das pessoas quando falam dos árabes, o olhar q não dá para descrever aqui.
Sinto muito mesmo mas acho q é isto: nós somos um povo preconceituoso 🙁
Legal saber do Nilson, Samy. Em 2011 fiz uma matéria sobre ele aqui mesmo na Folha quando ele estava por jogar por Burkina. Um andarilho da bola! abs
Salve, Adriano, tinha lido sua matéria naquela época e reli para preparar a conversa. Grande abraço.