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Samy Adghirni

Um brasileiro no Irã

Perfil Samy Adghirni correspondente em Teerã.

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O ranking dos títulos sociais no Irã

Por Samy Adghirni
19/07/13 15:53

No Irã, país cheio de formalidades e regras hierárquicas, todo mundo tem um título social acoplado ao nome.

Mesmo o título mais simples, o de senhor (aghá, em farsi) ou senhora (khanúm), é levado muito a sério. Fora amigos e parentes próximos, todo mundo deve ser chamado de senhor(a). “Você” ou “tu” (toh), nem pensar. O certo é usar “vós” (shomá). Mesmo nas festas clandestinas onde rola pegação e álcool, deve se cumprimentar uma pessoa recém-apresentada dizendo: “olá, como vós estais?”. Já vi brigas de trânsito em que as pessoas trocavam insultos mas continuavam se chamando de senhor(a). Minha diarista é a senhora Manijeh. O manobrista do restaurante ao lado de casa também é senhor Hossein, mesmo sendo mais moço que eu.

Uma classificação acima encontra-se o título de ostâd, que significa professor. Como o ensino é amplamente respeitado por aqui, convém ressaltar o título de quem exerce tão nobre profissão. Ostâd também pode ser usado para se dirigir de forma mais respeitosa a encanadores, técnicos de informática ou mestres de obra. “Bom dia, professor, quanto tempo falta para terminar a pintura da parede do quarto?”.

Ainda mais valorizadas são as pessoas chamadas de mohandês, literalmente, engenheiro, outra gloriosa profissão aos olhos iranianos. Mas não são somente os formados em engenharia (mecânica, eletrônica, nuclear, petroleira, agrícola etc) que aspiram a esse título. Em virtude do taarof, a exagerada etiqueta iraniana descrita num post do ano passado, recomenda-se chamar de mohandês qualquer pessoa que se queira agradar ou de quem se espera algum favor.

Mas o título dos títulos é o de doctôr, reservado à nata. Em tese, somente pode ser considerado doutor quem possui um doutorado ou Phd, independentemente da área. Mas convém chamar generais e demais altos funcionários do regime de doutor, mesmo quando estes não possuem o diploma equivalente. Para ressaltar a importância do título, a pessoa deve ser chamada de senhor doutor (aghaye doctôr). O título também vale para mulheres.

A preocupação com essas coisas é tamanha que isso afeta a vida política. Os adversários do presidente Ahmadinejad achavam um absurdo ele ser chamado de doutor enquanto proferia barbaridades sobre o Holocausto, os gays etc. Mas o homem tem, sim, doutorado em engenharia urbana pela respeitada Universidade de Teerã (diz-se que obteve nota mediana). Durante a campanha para sucedê-lo, o único dos oito candidatos que não era chamado de doutor nos debates na TV era o nanico Mohamad Gharazi, a quem os apresentadores se dirigiam como mohandês (engenheiro).

Num determinado comício, alguém interrompeu o então candidato Ali Akbar Velayati para elogiá-lo, dizendo que ele, por ser médico de formação e Phd, era o único “verdadeiro doutor” na campanha. Velayati quase derreteu de tanta alegria.

O vencedor das eleições foi o clérigo Hasan Rowhani, a quem céticos acusavam de ter mentido sobre o doutorado obtido numa universidade escocesa. Para alívio da nação, alguém recuperou o vídeo da entrega do diploma.

Já ouvi relatos de que os responsáveis pelo cerimonial do regime iraniano ficavam um tanto desnorteados com o então presidente Lula nos anos dourados da relação com o Brasil. Para os membros do regime, era uma situação inédita lidar com um chefe de Estado sem formação universitária. Mas a boa vontade em ambos os lados fez com que isso se tornasse algo sem relevância.

Existem ainda títulos de cunho religioso. Seyed é o prenome usado por todas as pessoas que possuem laços de parentesco, supostamente documentados, com o profeta Maomé. Já os clérigos se dividem entre hojatoleslam (como o presidente Rowhani ou o ex-presidente Mohamad Khatami) e aiatolá (cargo máximo na hierarquia xiita). O líder supremo do Irã, máxima autoridade do país, é chamado oficialmente de aiatolá Seyed Ali Khamenei.

Já eu sou simplesmente senhor Adghirni, prova de que ninguém por aqui dá muita importância para jornalista.

About Samy Adghirni

Samy Adghirni, 34, é correspondente da Folha no Irã. Está no jornal desde o fim de 2007. Cobriu as revoltas árabes no Egito, na Tunísia, na Líbia e na Síria e fez reportagens no Iraque, Iêmen, Síria, Cisjordânia, faixa de Gaza, Turquia, Marrocos, República Dominicana, Equador, Argentina, EUA, Suécia, Bélgica e Finlândia, entre outros países. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Stendhal de Grenoble (França) em 2001 e trabalhou em Paris para as rádios BFM e Radio France Internationale. Em Brasília, foi setorista de Itamaraty e colunista musical pelo "Correio Braziliense" e colaborador da agência France Presse.
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Comentários

  1. Elton S comentou em 20/07/13 at 6:59

    Essa hierarquia social é bem parecidas com o que existe no Japão. Eles também valorizam a educação. Mas existe mais prestígio em ser chamada de professor do que doutor.

  2. Gedeon alencar comentou em 19/07/13 at 19:53

    Samy, que tal um post com uma bibliografia sobre o Ira? Tenho lido além de seu blog, diversos outros. Comprei alguns livros em ingles também. Mas para voce o que e fundamental ler hoje para começar a entender esse fascinante pais?
    ps – como a CIA monitora nossos emails – ainda mais o transito de emails no Irã – se alguém da CIA quiser me enviar uma bibliografia eu agradeço. Seria a melhor indicação para nao ler.
    Um abraço amigo,
    Gedeon

  3. Renato Dalmo comentou em 19/07/13 at 17:59

    Seus textos são muito bons, parabéns, parece que eu moro no Iran a muito tempo. Gosto do seu olhar pitoresco e respeitoso para com o Iran. Parabéns novamente!

  4. Carla Masri comentou em 19/07/13 at 17:25

    Alguns titulos tem semelhanca ou igual ao arabe .

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