Bomba ecológica no Irã
12/07/13 15:16O grito de alerta veio na semana passada.
“O maior problema que nos ameaça, mais perigoso que Israel, EUA ou que a disputa política no governo, é a questão da vida no Irã. O planalto iraniano está se tornando inabitável [e] as águas subterrâneas estão desaparecendo sem que ninguém esteja pensando nisso. (…) Se nada for feito, daqui a 30 anos o país inteiro se parecerá com uma cidade fantasma”.
O autor da fala é Issa Kalantari, 61, ministro da Agricultura do Irã de 1989 a 1998 e Phd em estudos agrícolas pela Universidade Iowa (EUA). Hoje membro de um grupo de pensadores estratégicos ligado ao regime, Kalantari foi convidado a integrar a equipe de transição do presidente eleito Hasan Rowhani, que assume no dia 4 de agosto. As declarações sobre a situação potencialmente catastrófica do abastecimento em água no Irã foram dadas em entrevista ao jornal “Ghanoon”. A fala do ex-ministro soa como uma tentativa de acordar um país em grande parte alheio a questões ambientais.
“Todos os conjuntos de água natural no Irã estão secando, como os lagos Urumieh, Bakhtegan, Tashak, Parishan e outros. (…). Os desertos estão se espalhando e alerto que [as áreas] de Alburz Sul e Zagros Leste serão inabitáveis e isso forçará as pessoas a migrarem. Mas para onde? Posso afirmar com certeza que dos 75 milhões de pessoas no Irã, 45 milhões sofrerão as consequências disso (…). Estou falando de uma crise séria. A vida das pessoas está ameaçada”, diz Kalantari, lembrando que os recursos hídricos estão pressionados por 7.000 anos de presença humana permanente no Irã. Além de absorver 90% dos recursos hídricos, a agricultura responde por 13% do PIB e 23% dos empregos no país, cujo território é formado essencialmente por montanhas e desertos.
Kalantari atribui a culpa em grande parte à falta de planejamento e à má gestão pelos políticos da questão agrícola, que inclui desperdício maciço de água e de alimentos produzidos. O ex-ministro afirma que a situação se deteriorou sob a Presidência de Mahmoud Ahmadinejad. O quadro tende a se agravar devido ao ciclo que leva camponeses a migrar para a cidade por falta de água, causando ainda mais demanda por recursos hídricos para abastecer as aglomerações e deixando ainda menos água para as áreas rurais. Agricultores de duas das principais cidades iranianas, Isfahan e Yazd, já brigam por um duto que leva água pela região central do país. A lista de problemas ambientais inclui ainda a inexistência de coleta de lixo seletivo, na pobreza das iniciativas de reciclagem e nos níveis de poluição apavorantes nas grandes cidades.
O site The Diplomat, voltado para análises e comentários sobre questões asiáticas, lembra que o tema preocupa até mesmo os americanos. A empresa de inteligência privada Stratfor escreveu o seguinte num relatório: “A população iraniana está concentrada nas montanhas, não nas planícies, como acontece nos outros países. Isso se deve ao fato de as planícies serem inabitáveis, com exceção do sudoeste e do sudeste [onde se concentram minorias étnicas, como árabes e baluches, geralmente mais pobres que os persas dominantes]. O Irã é uma nação de moradores de montanha.” O The Diplomat relata que a escassez de água no Irã foi até mencionada no relatório Global Trends 2030, redigido pelo Conselho Nacional de Inteligência dos EUA.
Kalantari está certo quando diz que “a tarefa de Rowhani não será nada fácil”.
Eu espero mesmo que o novo governo se dedique tambem a esse fator e ache alguma solucao .
Acho que num futuro, não muito distante, a água será mais valiosa que o petróleo.
Samy, a teocracia iraniana ficaria preocupada se as reservas de petróleo estivesse chegando ao fim. Água? Desertificação? Falta de alimentos? O que isso importa. É triste saber que meu país caminha para o abismo. Saudades infinitas.