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Samy Adghirni

Um brasileiro no Irã

Perfil Samy Adghirni correspondente em Teerã.

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Protestos brasileiros vistos do Irã

Por Samy Adghirni
01/07/13 12:35

Assim que entrei no carro, o taxista do ponto perto de casa, velho conhecido, lançou: “o que está acontecendo no Brasil? Por que as pessoas estão tão irritadas?”. Por mais que eu me esforce, lendo jornais brasileiros e selecionando postagens de amigos no Facebook para acompanhar diariamente os protestos e consequente crise política, a distância dificulta o entendimento. “É a economia? Vocês também estão em crise, como a gente?”, questionou o taxista. “Não é bem isso, a questão é mais complicada”, respondi, em meio a outras platitudes. Cheguei ao meu destino um tanto envergonhado por não ter conseguido explicar direito.

Na academia de musculação da minha vizinhança, todo mundo parava quando a TV de tela plana cravada sobre a parede de espelhos mostrava imagens do quebra pau nas grandes cidades brasileiras em meio à Copa das Confederações. Foi um tanto surreal ver as torres do Congresso Nacional e o uniforme azul claro da Polícia Militar de Brasília, cidade de onde venho, enquanto eu fazia esteira do outro lado do mundo, literalmente.

Politizados por natureza e ávidos consumidores de notícia, os iranianos se interessam pelos protestos brasileiros, ainda mais depois que a seleção iraniana se classificou para a Copa do Mundo. O tema acaba surgindo em quase todos os contatos entre pessoas dos dois países, dos meios diplomáticos aos comerciais.

No único pronunciamento oficial de Teerã até agora, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, disse o seguinte: “Esperamos que surja o mais rápido possível uma solução aos conflitos e lutas dentro do Brasil para que possamos observar uma gloriosa Copa do Mundo com a participação da seleção iraniana”.

A imprensa local vem dando grande destaque aos acontecimentos. O jornal reformista “Bahar” publicou na semana passada longa matéria analítica com o título “Um carnaval de protestos no Brasil”, no qual explica que o país que sempre foi conhecido pela alegria agora ficou famoso pela violência policial. O texto também rejeita a tese do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, que relacionou protestos na Turquia e no Brasil, dizendo que ambos têm a mesma essência e são parte de um complô internacional.

“A acusação de Erdogan de que os manifestantes são ligados a estrangeiros é absurda e sem sentido. Já Dilma Rousseff demonstra ter bom entendimento da natureza dos protestos, se esforça para corrigir e melhorar os efeitos negativos do governo. Ao contrário da Turquia, líderes do movimento, partidos oposicionistas, jornalistas, ativistas online e manifestantes no Brasil não foram acusados de traição nacional, e o governo não conduziu uma repressão generalizada dos protestos”, diz a matéria. O texto afirma ainda que o premiê turco chama manifestantes de “terroristas” enquanto a presidente brasileira se dirige a eles com respeito e considera legítimas suas exigências.

Um dos mais conhecidos jornalistas internacionais iranianos, o conservador Mohammad Hoseyn Jafarian, também dissertou sobre o suposto paralelo entre Brasil e Turquia. “Um mesmo problema, duas abordagens distintas. Rousseff ouve os manifestantes e promete reformas, enquanto Erdogan segue uma [estratégia] combativa que lhe fará perder muito apoio”, diagnostica.

Já o site Iran Diplomacy, plataforma online de reflexão sobre questões globais, atribui a onda de revolta aos persistentes contrastes sociais no Brasil. “Apesar de todas as conquistas por parte do governo esquerdista na última década, que contribuiu para a ascensão de milhões de pessoas da pobreza à classe média e transformou o Brasil numa potência econômica global, o país ainda enfrenta muitos problemas, sendo a desigualdade o maior de todos”, escreveu o analista Davoud Rezaei Eskandary. Ele aponta a má qualidade do ensino, especialmente no primário e as carências de saneamento básico e infraestrutura como “falhas do sistema” brasileiro. O texto lembra que uma avaliação feita em 2009 pela OCDE para medir o nível de estudantes de vários países em ciência e matemática deixou o Brasil entre as últimas posições.

Bem informado por já ter servido como diplomata em Brasília, Eskandary também aborda o absurdo custo da vida no Brasil. “O país se tornou um dos mais caros do mundo. Alguns produtos custam mais caro no Brasil do que na Europa ou nos EUA. Muita gente não tem acesso a esses produtos, outros só conseguem obtê-los por meio de crédito com altas taxas de juros”.

About Samy Adghirni

Samy Adghirni, 34, é correspondente da Folha no Irã. Está no jornal desde o fim de 2007. Cobriu as revoltas árabes no Egito, na Tunísia, na Líbia e na Síria e fez reportagens no Iraque, Iêmen, Síria, Cisjordânia, faixa de Gaza, Turquia, Marrocos, República Dominicana, Equador, Argentina, EUA, Suécia, Bélgica e Finlândia, entre outros países. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Stendhal de Grenoble (França) em 2001 e trabalhou em Paris para as rádios BFM e Radio France Internationale. Em Brasília, foi setorista de Itamaraty e colunista musical pelo "Correio Braziliense" e colaborador da agência France Presse.
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Comentários

  1. luiz cesar comentou em 02/07/13 at 15:55

    Interessante notar que mesmo à distância haja desejo de informação sobre a realidade de um outro país, e, sobretudo, que me parece mais importante, entendê-la. E por parte de pessoas comuns.

  2. Gustavo comentou em 02/07/13 at 0:00

    Só quero lembrá-los de um irrisório, porém decisivo, detalhe: Brasil e Turquia obtiveram um acordo nuclear com o Irã em 2010!
    E essa foi só uma das inúmeras conquistas políticas/econômicas desses dois países nos últimos anos.

    Qualquer semelhança é mera coincidência!

  3. Felipe comentou em 01/07/13 at 16:53

    É realmente risível, quase hilário, os meios de comunicação do Irã, como sempre controlados e censurados pelo governo, anunciando e tentando explicar os protestos no Brasil, quando os problemas que temos aqui no nosso país são na essência os mesmos problema que o governo totalitário do Irã tem – a corrupção desenfreada, o autoritarismo policial, gastos com obras faraônicas desnecessárias e até o fundamentalismo religioso querendo se meter na vida do cidadão – mas consegue abafar e suprimir os desejos de mudança dos iranianos. É como se os meios de comunicação estatais da Turquia começassem a condenar a opressão policial dos protestos no Brasil e até defendessem os manifestantes do nosso país.

    • Fernando comentou em 02/07/13 at 8:53

      Felipe, veja que o Samy destaca as fontes (Jornal Bahar, Iran Diplomacy, o jornalista Mohammad Hoseyn Jafarian), mostrando pontos de vistas múltiplos no Irã sobre as manifestações no Brasil. Observe que em nenhum momento o Samy cita fontes do governo, com exceção do pronunciamento “neutro” do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores. Portanto, não dá para generalizar e dizer que os meios de comunicação no Irã são “risível” e “hilário”. De todo modo, achei interessante ver opiniões tão críticas livremente expostas num regime teocrático. Será que não seria uma discreta “alfinetada” da imprensa iraniana ao seu próprio regime? Quando penso na repressão ao protestos aos estudantes quando Ahmadinejad foi reeleito … penso que sim.

  4. SIDNEI comentou em 01/07/13 at 15:44

    Verdade>>>>

  5. Rejane comentou em 01/07/13 at 14:01

    Parabéns ao analista Davoud Rezaei Eskandary, foi o que melhor entendeu o que se passa no Brasil. Também são corretas as opiniões a respeito da suposta semelhança entre as situações políticas na Turquia e no Brasil.

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