Analista iraniano prega "otimismo cauteloso"
26/06/13 13:02Passada a agitação por conta da vitória do pragmático clérigo Hasan Rowhani na eleição presidencial iraniana, é hora de refletir, com a cabeça mais fria, sobre o que levou tanta gente a votar no candidato que prometia políticas mais zen dentro e fora do país. Compartilho com vocês o que me contou o analista Reza Marashi, diretor de pesquisas acadêmicas do Conselho Nacional Iraniano Americano, com sede em Washington. Marashi vive nos EUA, mas mantém fortes vínculos com o Irã, o que lhe dá credibilidade como observador _ao contrário dos que se acham grandes especialistas mesmo sem ter pisado em solo iraniano há décadas.
RECADO DAS URNAS
“Os iranianos sabem que o atual governo não lhes dá muita possibilidade de cobrar e pressionar seus dirigentes. Por isso, num esforço em busca de mudanças pacíficas e sem derramamento de sangue, a população foi às urnas e escolheu o único candidato centrista na disputa. Depois que os ex-presidentes Mohamad Khatami [1997-2005) e Ali Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997) selaram uma aliança entre reformistas e centristas, as chances de Rowhani aumentaram de forma significativa.”
“As antigas divergências no campo conservador, talvez conjugadas a uma briga de egos, levaram os candidatos a não escutarem o conselho do jornal “Keyhan” [tido como próximo do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei], que havia pedido a união das forças conservadoras. Sua incapacidade de seguir este conselho fragmentou o voto e ajudou a pavimentar a vitória de Rowhani.”
PRESIDENTE X LÍDER SUPREMO
“Rowhani pode não ter sido o candidato preferido de Khamenei, mas nem por isso significa que sua vitória representa uma derrota para o líder supremo. Rowhani assessora Khamenei há muito tempo e, embora tenham tido divergências, os dois homens sempre conseguiram trabalhar juntos. Sendo o centrista que ele é, Rowhani provavelmente caminhará devagar na sua busca por mudança dentro e fora do país, pois ele sabe que o líder supremo deverá manifestar ao menos apoio tácito para qualquer esforço bem sucedido.”
RAZÕES PARA OTIMISMO
“O Ocidente deveria estar cautelosamente otimista. Rowhani não mudará as políticas iranianas, mas seu estilo é muito diferente do de Mahmoud Ahmadinejad [atual presidente], e sua equipe de política externa e segurança nacional deverá seguir os passos do novo presidente neste novo estilo, que é muito mais aceitável para o Ocidente. Até o ex-ministro das Relações Exteriores do Reino Unido Jack Straw chamou Rowhani de durão, mas justo, dizendo que é alguém com quem o Ocidente pode trabalhar [os dois homens conviveram com frequência entre 2002 e 2005, quando Rowhani chefiava negociações nucleares pelo lado iraniano].”
“A eleição de Rowhani nos prova que, ao contrário do que muita gente fora do Irã acredita, o país tem vida política. E, mais importante, a eleição nos mostra que reformistas e centristas estão aí para ficar e continuarão fazendo parte do sistema. Isso é importante, porque eles representam as ideais de milhões de iranianos que querem mais interação com o mundo mas também continuam apaixonadamente nacionalistas.”
Pois é Samy, a eleição de Rowhani deixa evidente o desejo do Irã de se aproximar do Ocidente. Sinal de fraqueza do regime teocrático iraniano? Creio que não, ao contrário, é mais uma tentativa de melhorar as relações com o mundo exterior (e, internamente, dar um alento aos setores da população que querem mudanças) e seguir em frente, firme e forte. O líder supremo e seus apoiadores sabem que ensaiar mudanças, simular concessões é uma forma de acalmar os ânimos mais exaltados. Todos sabem que as bravatas de Ahmadinejad só serviram para isolar ainda mais o país e que ninguém ganhou com isso.
Grande abraço