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Samy Adghirni

Um brasileiro no Irã

Perfil Samy Adghirni correspondente em Teerã.

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Como é a votação presidencial no Irã

Por gmanzini
14/06/13 12:38

O Irã vai às urnas amanhã, sexta-feira 14 de junho, para escolher o sucessor do presidente Mahmoud Ahmadinejad, que não pode concorrer de novo por já ter cumprido dois mandatos seguidos.

QUEM VOTA?

O país tem cerca de 50 milhões de eleitores aptos a votar, o equivalente a toda a população acima de 18 anos, homens e mulheres de qualquer grupo étnico (persas, azeris, curdos, etc) ou religioso (muçulmanos, judeus, cristãos, zoroastras e bahá’ís). O voto não é obrigatório, mas os iranianos adoram política e acabam sempre comparecendo às urnas em grande número. A campanha para a última eleição, há quatro anos, eletrizou a população, e a participação foi de 80%. Em 2005, antes o clima era mais morno, mas ainda assim 60% dos eleitores votaram. Para o regime, quanto mais alto o comparecimento, maior a legitimidade popular do Estado teocrático fundado com a revolução de 1979.

Nos meios conservadores alinhados ao regime, o voto é visto como uma obrigação religiosa. Neste ano, o regime fez coincidirem as eleições para presidente e vereador, voto mais importante em algumas cidades do interior. Unir as duas votações denota um esforço das autoridades para obter a participação mais alta possível.

COMO É A VOTAÇÃO?

A votação é secreta e acontece em centenas de escolas e mesquitas em todo o país, dos bairros mais chiques de Teerã até as ilhas no golfo Pérsico, passando pelos povoados perdidos nas montanhas do Curdistão. Não há zonas eleitorais, ou seja que todo mundo pode votar onde quiser. O eleitor se apresenta, mostra um documento de identidade e mergulha o dedo indicador na tinta para evitar repetição de votos.

Resultados são anunciados pelo Ministério do Interior algumas horas após o fechamento das urnas. Se ninguém levar 50% + 1 dos votos, haverá segundo turno, uma semana após o primeiro. A posse será no início de agosto.

Mulheres iranianas esperam em fila para votar, em um templo da cidade sagrada de Qom; país vai às urnas decidir o sucessor do presidente Mahmoud Ahmadinejad (Seda Ravandi/AFP)

QUEM SÃO OS CANDIDATOS DA VEZ?

Após duas desistências na reta final da campanha, seis candidatos estão na briga. Os principais são três conservadores (Mohamad Qalibaf, prefeito de Teerã; Ali Akbar Velayati, assessor diplomático do líder supremo; e Said Jalili, chefe negociador nuclear) e um clérigo centrista (Hasan Rowhani, ex-negociador nuclear) que se tornou a opção da oposição reformista. Num reflexo das sutilezas da política iraniana, o candidato mais radical é um diplomata (Jalili) e o mais moderado, um mulá (Rowhani).

Correm por fora um ex-comandante militar (Mohsen Rezaee) e um ex-ministro dos Correios (Mohamad Gharazi).

TODO MUNDO PODE CONCORRER À PRESIDÊNCIA?

Em tese, qualquer iraniano nato, muçulmano xiita, maior de idade, com pós graduação e sem ficha policial pode concorrer. Basta juntar RG, fotos 3 x 4 e currículo e levar a papelada ao Ministério do Interior no mês que antecede a eleição. Neste ano, quase 700 pessoas se registraram, de estudantes a malucos beleza. Mas há uma filtragem rigorosa por parte do regime. Quem avalia as candidaturas é o Conselho de Guardiães da Revolução, formado por seis juristas e seis teólogos encarregados de avaliar a conformidade dos presidenciáveis aos ideais islâmicos da revolução de 1979. Mulheres podem se candidatar, mas nenhuma até hoje conseguiu ser aprovada pelo conselho.

No fundo, o conselho acaba refletindo a vontade do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, o homem que mais manda no Irã. Como Ahmadinejad deu muito trabalho a Khamenei nos últimos anos, contestando sua autoridade e pregando até mesmo, pasme, uma relação direta com Deus, o regime desta vez só liberou candidatos vistos como irrestritatamente leais ao sistema teocrático.

COMO SÃO AS CAMPANHAS?

A maior particularidade das campanhas no Irã é sua curta duração. O prazo entre o anúncio dos nomes aprovados pelo Conselho de Guardiães da Revolução e o dia do voto não passa de algumas semanas. Nesta campanha, Teerã só passou a ter clima de eleição uma semana antes do voto. Há cartazes por toda a cidade, distribuição de panfletos, carros de som, musiquinhas de candidatos, passeatas e comícios. A disputa monopoliza conversas nos mais variados meios sociais. Como os iranianos adoram ter opinião sobre tudo, até quem não vai votar gosta de dar pitaco.

Não há financiamento público de campanhas. Candidatos dependem de doações, que são ilimitadas. Cada presidenciável teve nas últimas semanas 360 minutos gratuitos na TV estatal, incluindo espaço para documentários e entrevistas. Além disso, tiveram quatro horas na rádio estatal.

ELEIÇÕES REALMENTE IMPORTAM NO IRÃ? RESULTADOS SÃO CONFIÁVEIS?

O regime funciona com base num sistema que mescla entidades com poder divino e órgãos republicanos nos quais os cargos são eletivos (presidente, deputados, conselheiros municipais).

Predomina no Ocidente a ideia de que as eleições no Irã são manipuladas. A última votação presidencial, há quatro anos, ficou marcada por acusações de fraude para favorecer Ahmadinejad. Há vários indícios de irregularidade, mas faltam provas definitivas. Um ex-diplomata americano especialista em Irã, William R.Polk, lembra em seu livro “Understanding Iran” que todas as pesquisas eleitorais de 2009, inclusive as feitas a pedido da oposição, previam uma vitória de Ahmadinejad, que tinha grande base de apoio popular devido a programas sociais. Os pleitos anteriores ao de 2009 não geraram as mesmas acusações de fraude.

Várias vezes o líder supremo aceitou derrotas de candidatos que tinham sua preferência. O caso mais famoso é o do reformista Khatami, que foi eleito e reeleito à Presidência (1997 e 2001), apesar de Khamenei preferir outros líderes. Dito isso, os tempos mudaram, e especula-se que o regime talvez não esteja mais disposto a aceitar um presidente reformista.

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Comentários

  1. alfredo Gomes de Azevedo comentou em 17/06/13 at 22:41

    Bem, pelo exposto, podemos concluir a inexistência de partidos políticos no Irã, ao menos de acordo como o modelo Ocidental. Mas, o que realmente faz a diferença, em termos da importância que se dá à política, comparando-se com o que se passa por aqui, é o expressivo comparecimento às urnas. Se tomarmos como modelo os EUA, cujo comparecimento diminui a cada eleição – tivemos nas duas eleições do Obama algo em torno de 56% de eleitores nas mesas eleitorais – e sem esquecermos que o apelo ao comparecimento era fortíssimo. Conclusão: ou a Democracia representativa nos moldes ocidentais, terá que ser revista quanto a forma de sua arquitetura atual, ou então estará fadada a uma morte pelo desinteresse com a coisa pública. No Irã, vemos esse foco de interesse com bastante energias, naturalmente com as idiossincrasias sabidas. É portanto, um sistema político diferente, não necessariamente pior ou melhor que o Ocidental.
    Parabéns pela concisão e clareza do exposto.
    Abraço, Alfredo.

  2. Fernando comentou em 15/06/13 at 10:41

    Pra quem acha “estranho” que uma “assembleia de peritos” escolha os candidatos à presidência, não esqueçam que monarquias, como a britânica, por exemplo, também escolhem (e interferem) na escolha dos candidatos à primeiro ministro. Nos EUA a vida política é decidida entre apenas dois partidos: democratas e republicanos (embora partidos menores possam lançar “candidatos independentes”). No Vaticano, pais independente, o “presidente” é o papa, escolhidos por um “colégio de cardeais” com ares de divindade à la “Assembléia de Peritos” iraniana. No Brasil, durante a ditadura militar, tivemos, por mais de 20 anos, nossa “assembleia de peritos”, o nosso “colégio eleitoral” que escolhia os candidatos à presidente. Hoje são os partidos que escolhem seus candidatos e nos “democraticamente” escolhemos um deles para presidente. Tudo com ares de boa democracia…
    Não estou aqui defendendo o sistema político iraniano, apenas perceber que ele não é assim tão alienígena como a grande mídia nos quer fazer pensar.

    • Parvaneh comentou em 18/06/13 at 9:53

      Me desculpe caro Fernando, mais ainda prefiro que meus candidatos à presidente sejam escolhas de partidos políticos e não produto da decisão de um líder religiosos, semideus, idolatrado e intocado. Eu vivi no Irã e sei o que viver sobre este regime.

  3. vladmir comentou em 14/06/13 at 19:51

    E como é que se fal a escolha do Ayetola???

    • Samy Adghirni comentou em 14/06/13 at 21:17

      Vladmir, o nome do cargo é líder supremo. Aiatolá é apenas um título religioso na hierarquia teológica xiita. Há muitos aiatolás, mas um só líder supremo. O líder supremo é escolhido pela Assembleia dos Peritos, um órgão deliberativo de 86 especialistas em Direito islâmico xiita, que têm também o direito de derrubar o líder caso julguem necessário.

      • vladmir comentou em 14/06/13 at 22:01

        Samy, obrigado pelas informações.

  4. F Pait comentou em 14/06/13 at 13:40

    Precisa ter pós graduação para ser presidente? Ah, se essa moda pega! Não sei se tenho mais receio de ser governado por um semi-analfabeto ou por meus colegas com PhD.

    Ah, uma correção: na última eleição persa, os resultados foram anunciados algumas horas antes da apuração.

    • Samy Adghirni comentou em 14/06/13 at 21:13

      F Pait, não procede que os resultados foram divulgados antes da apuração.

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