Castigo ao bandido: ser vestido de mulher
29/04/13 12:42
A cena no vídeo acima é meio surreal, mas aconteceu de verdade, há duas semanas, numa cidadezinha perdida no interior do Irã. Uma picape circula por uma avenida comercial levando na caçamba um sujeito trajando um vestido vermelho enquanto é segurado por policiais com pinta de pelotão de choque. Vários carros da polícia seguem, formando um comboio que desfila diante da população local. Os homens no vídeo usam calça larga, tipo bombacha gaúcha, típica da região do Curdistão, palco do ocorrido.
O homem do vestido vermelho é um condenado de Justiça. Ele foi considerado culpado de violência doméstica e, como castigo, acabou obrigado a se vestir de mulher e a ser exibido como tal pelas ruas de Marivan, aglomeração situada perto da fronteira com o Iraque. O procurador-geral local alegou que a humilhação era necessária para “dar o exemplo”. Mas a punição foi tão chocante que, no dia seguinte, dezenas de moradoras vestidas de vermelho foram às ruas para protestar contra o que consideram uma ultrajante ofensa às mulheres, ao islã e aos curdos, minoria étnica alvo de discriminações. Várias levaram cartazes com mensagens lembrando que não é nenhum mal ser mulher e que o castigo é mais humilhante para a população feminina do que para o condenado. Segundo ONGs de direitos humanos, policiais reprimiram a manifestação a golpes de cassetete e spray de pimenta.
O protesto mudou de forma ao ganhar a solidariedade dos homens. Um iraniano chamado Massoud Fahtipour postou na internet uma foto na qual aparece vestido de mulher. Nascia assim a campanha “Homens curdos pela Igualdade [de gênero]”, que já conta quase 200 fotos de homens vestidos de mulher e 13 mil curtidas na página na rede social Facebook. Uma das muitas mensagens de apoio foi escrita por um homem chamado Ala M: “Estou feliz e honrado em me vestir de mulher e fazer humildemente parte da luta justa para expressar [meu apoio] às mulheres do meu país.” Outro, identificado como Namo Kurdistani, postou o seguinte comentário: “Devemos nos unir e condenar esta estupidez, brutalidade e desumanidade contra mulheres”.
Um conhecido jornalista curdo, Saman Rasoulpour, escreveu: “É a primeira vez no Irã que um acusado vestido de mulher é exibido na rua como forma de humilhação. É um ato sem precedente [no país]”.
A repercussão logo chegou à esfera política. Os deputados curdos no Parlamento iraniano conseguiram o apoio de colegas não curdos e formaram uma frente de 17 parlamentares que enviou protesto formal aos ministérios do Interior e da Justiça. A frente afirma que a pena aplicada em Marivan contraria os princípios mais fundamentais do islã e representa uma humilhação não só para as mulheres, mas para todos os muçulmanos.
Oi Samy,
Primeiramente, gostaria de dizer que gosto muito do seu blog. Acho-o muito rico em detalhes, além de preencher uma lacuna no jornalismo, que era a ausência de infos. não estereotipadas deste país.
Tenho uma curiosidade: sei que a situação financeira, muda muito de acordo com a profissão e cidade ….
Mas você chutaria que um engenheiro tem uma melhor qualidade de vida – refiro-me a aspectos puramente materiais, e não subjetivos como liberdade, diversão, etc. – no Brasil ou no Irã?
Abraços.
Difícil responder, Leandro. Brinca-se que o Irã é um país de engenheiros. De fato, a quantidade de engenheiros é alucinante. Até uma ex-assistente minha era engenheira de formação. As universidades são boas e os alunos iranianos são amplamente tidos como inteligentes quando estudam no exterior. O problema é que há engenheiros de mais e empregos de menos. E aqui há muito nepotismo e Quem Indica. Ou seja que poucos conseguem bons empregos. Até estágio é difícil. Ou seja que o aluno se forma-se com bom conhecimento teórico, mas não consegue adquirir prática. Ainda acho, e assumo fazer puro “achismo”, que é melhor ser engenheiro no Brasil.
Castigo ao bandido: ser vestido de mulher
Depois falam mal do Irã, mas se isso ajuda a corrigir o cidadão é sinal que o povo não é violento suficiente para ter de encarcera-los!
Olha só uma coisa simples dessas faz o cara aprender uma lição, enquanto que no Brasil tem de ter penitenciárias e aquela zona. Aqui isso não daria certo pois seria um desfile o dia todo rss
Interessante notar que um homem iraniano foi condenado por praticar violência doméstica. Eu achava que o machismo não permitia isso. Fiquei surpreso também com as manifestações de homens curdos na internet e de mulheres nas ruas, ainda que reprimida. A imagem que eu tenho é de que a censura não permitiria isso. Mas tudo me pareceu mais nacionalismo curdo do que a questão feminina propriamente dita. Quanto ao castigo, essa modalidade de Lei Maria da Penha (rsrsrsrs) é bem melhor do que enforcamentos em praça pública. Samy, seu Blog é muito bom porque desmistifica nossos preconceitos.
“A justiça não é nada mais do que a ‘conveniência’ do mais forte, fazer o que é do ‘interesse’ do mais forte.”
Definição de Trasímaco – personagem de A República de Platão.
Samy, havemos de convir que alguns destes marmanjos levam jeito pra coisa.
Abs.
concordo plenamente com o Eduvaldo só que a ultima foto é uma montagem e bem fajuta.
De fato para vcs só isto q importa, estão mesmo acostumado a ver deste tipo de ” marmanjos”! parece q o principal ficou para atrás e escondido nas palavras de Samy!
Então pergunto eu se às pessoas q fizeram estes comentário entenderam alguma coisa deste atitude???!!!
não, não entenderam nada. nadinha.
Samy, tenho a impressão que você vive num universo paralelo, numa outra dimensão. E que inveja de você!!
Samy, boa tarde.
Não houve repressão por parte da polícia moral contra esses homens?
De modo geral, como a população curda é vista pelos órgãos oficiais (parece que são discriminados pela população geral, mas o mesmo preconceito se reflete na esfera do poder público?)?
Abraços.
– Alexandre
Alexandre, não sei o que houve com os homens envolvidos na campanha. Acho difícil as autoridades gastarem tempo e energia atrás deles, as forças de segurança aqui são bem mais seletivas do que se imagina. Além do mais, a preocupação é com a eleição, é isso que concentra todos os esforços e atenções do governo. Os curdos tendem a ser discriminados, sim, mais pela população. No plano político não há uma perseguição sistemática, mas o Estado desconfia das aspirações identitárias e territoriais dos curdos.