Ferraris e Porsches em Teerã
22/04/13 16:47A foto acima foi tirada na esquina da rua onde moro, num bairro residencial de classe média alta ao norte de Teerã. As máquinas são uma Ferrari 458 e um Porsche Cayman, carrões que valem fortunas e estão entre os sonhos de consumo mais universais que se possa imaginar.
A capital iraniana está cheia de automóveis caríssimos. Quem visita Teerã geralmente diz nunca ter visto tanto Porsche como aqui. Os modelos mais comuns são Cayenne e Panamera. Também há uma incrível quantidade de Mercedes e BMWs reluzentes e com cores algumas vezes para lá de excêntricas, como marrom claro, roxo e verde. Carros de ponta, como Maseratis e Ferraris, são mais raros, mas desfilam vez ou outra pelas ruas de Fereshteh, o equivalente do bairro paulistano Jardins em Teerã. Por causa das sanções, praticamente não há modelos americanos no Irã.
Muitas lojas espalhadas por Teerã vendem carrões. Iranianos capazes de comprar veículos deste tipo geralmente pagam de uma vez só, com cheque em bilhões de rials, a moeda local, ou até mesmo com malas de dinheiro. Em fevereiro a mídia local relatou a chegada de um navio carregando 500 Porsche tinindo de novos num porto ao sul do país. A marca alemã admitiu, há dois anos, que o Irã era seu maior mercado no Oriente Médio. Só em 2012 foram vendidas 563 unidades zero km.
Detalhe: a taxa de importação para carros de luxo no Irã é de quase 90%, ou seja que um veículo vendido normalmente por US$ 200 mil acabará custando, na prática, quase U$S 400 mil ao comprador iraniano. Isso dá 1,36 bilhão de rials na moeda local.
A abundância de supercarros, que não se restringe a Teerã, reflete várias realidades.
A primeira é que o Irã tem muita gente endinheirada. Há os velhos ricos, entre os quais as famílias tradicionais ligadas aos comércios de bazar, os mercadões das principais cidades. Existem, ainda, os empresários que gravitam na esfera do Estado, grande provedor de contratos, e os profissionais liberais bem sucedidos, médicos, advogados e consultores, entre outros. O Irã, apesar das crescentes dificuldades e do empobrecimento geral da população, ainda está com os cofres cheios graças à bonança gerada pelas exportações de petróleo e gás.
Nos últimos anos o Irã viu surgir uma nova categoria de ricos. As sanções financeiras e comerciais favoreceram o surgimento de uma economia paralela e clandestina, na qual intermediários, contrabandistas e negociantes ganham fortunas usando canais privilegiados. Não é segredo que a corrupção gangrena todos os níveis da economia iraniana. Dia desses ouvi de um jovem empresário local: “Eu não saberia ganhar dinheiro na Europa ou nos EUA. Aqui no Irã conheço os atalhos e sei como tirar proveito da situação. Tempos de crise sempre representam uma grande oportunidade de ganhar muita grana”.
A segunda realidade traduzida pela fartura de carrões é a desvalorização da moeda conjugada à inflação nas alturas, que transforma automóveis em patrimônio sustentável. Como já mencionei neste blog, muitos iranianos preferem gastar suas economias adquirindo um bem de alto valor que passa a ser uma posse segura em vez de ver a poupança derretendo no banco à medida em que a moeda nacional se desvaloriza por causa das sanções. A revista “Economist” publicou no mês passado uma matéria matéria sobre o frenesi por carrões no Irã (“Islamist Maseratis”, 16.mar.2013). Além do mais, o Irã é um lugar onde carro usado se desvaloriza pouco. Já ouvi histórias de pessoas que venderam o carro mais caro do que compraram.
Acho que nesta equação também entra a questão do culto às aparências. No Irã, como em muitos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, a ostentação material é prática comum.
E as iranianas ostentando jóias valiosas e vistosas no dia a dia não ficam atrás dos homens e suas ferraris. Já presenciei cenas de pena e reprovação de mulher não usar jóias no dia a dia. Curiosidades do Irã.
O sheik perguntou ao filho, estudante em Harvard, se ele gostaria de uma Ferrari de ouro maciço, ao que o garoto respondeu que seus colegas americanos vâo à escola de ônibus.
O sheik refletiu alguns instantes, e avisou ao filho que um ônibus de ouro maciço demoraria um pouco mais.
Samy, gostaria de saber se no islamismo no Irã, se prega, tal como no catolicismo, o desapego aos bens materiais ou se, ao contrário, o acúmulo de riquezas não é mal visto pelos clérigos e fieis. Obrigado
Fernando, o Corão abomina a ostentação e o apego aos bens materiais, vistos como elementos supérfluos que desviam o ser humano das coisas essências, como devoção, amor e generosidade. Na prática, entretanto, a realidade é e sempre foi diferente…
caro Fernando e Samy toda religião na sua excencia tem como principio fundamental abominar a luxuria mas quando o poder é alcançado e suas benefices são adquiridas a conversa é outra, é só olharmos aqui os pastores evangélicos, ressalto que na igreja católica os bens não são dos padres, bispos ou cardeais, os pregadores sào empregados da igreja, assim como na Igreja Anglicana e outras sérias e com tradição.
Agora gozar das regalias de estar governo ou ser amigo do governo É MUNDIAL
Samy, eu queria uma matéria sobre o sufismo. A corrente islâmica mística, que promove música, dança e alegria. Quando puder, você faz?
Ue, voce nao esta em Washington?
Por que estaria em Washington?
Desculpa, me confundi.