John Kerry e seu genro iraniano
22/03/13 21:57Mergulhados na celebração do Nowruz, o ano novo persa festejado na última quarta-feira, os iranianos receberam mais uma vez os parabéns oficiais do governo americano, que tenta mostrar não ter nada contra a população da república islâmica. Repetindo o que fez várias vezes desde sua chegada à Casa Branca, em 2009, Barack Obama divulgou um vídeo cheio de acenos apaziguadores. Ele destacou a importância do Irã na história da civilização mundial, citou o grande poeta persa Hafez e encerrou a gravação com um “feliz ano ano” pronunciado no idioma farsi: “Eid shomá mobarak”.
O recém-empossado secretário de Estado John Kerry foi ainda mais enfático na sua mensagem. O chefe da diplomacia dos EUA desejou “saúde e prosperidade” aos iranianos e, pela primeira vez, fez menção oficial ao seu genro, um médico iraniano radicado nos EUA, onde adquiriu cidadania local. “Tenho orgulho dos iranianos-americanos na minha própria família e sou grato por terem enriquecido minha vida”, disse Kerry, que escapou por pouco de ter a nomeação vetada pelo Congresso justamente por ser visto como suave demais com o Irã.
O genro de Kerry chama-se Behrooz Vala Nahed, tem 30 e poucos anos e é um respeitado neurocirurgião formado em Yale e especializado em câncer do cérebro, atualmente em seu quinto de ano de residência pela Universidade Harvard no hospital geral de Massachussets, em Boston. Filho de abastados pais iranianos instalados em Los Angeles, Behrooz é casado com Vanessa Bradford Kerry, cuja mãe foi a primeira mulher de John Kerry. Vanessa tem 35 anos e também é médica. A história de seu encontro, se for mesmo conforme o relatado por sites americanos, é engraçadinha.
Numa madrugada de 2005, Behrooz e Vanessa faziam plantão juntos no hospital geral de Massachussets. Os dois, que já haviam reparado um no outro nos corredores do hospital, aproveitavam uma pausa para bater o primeiro papo. Conversa vai, conversa vem, uma enfermeira bonitona entra na sala e, cheia de graça, interrompe o papo dos jovens médicos para oferecer um café ao rapaz. Vanessa não gostou. “Olhei para ele com cara de: ‘já saquei qual é a sua’”, relatou anos depois. Mas o iraniano soube contornar com maestria o avanço da enfermeira. Para deixar claro quem era sua prioridade, ele agradeceu o cafezinho da moça e sugeriu que ela trouxesse outro para Vanessa. Dois meses depois, começava o namoro, que virou casamento em 2009. Há relatos de que o paizão Kerry, à época senador democrata e riquíssimo empresário, fez questão de participar de cada detalhe dos preparativos.
Behrooz e Vanessa parecem levar uma vida tranquila, longe de qualquer posicionamento político público. A agência de notícias iraniana Mehr, ligada ao regime, especula que o casal pode ter visitado a família de Behrooz no Irã alguns anos atrás.
Os adversários políticos de John Kerry dizem que o genro iraniano contribui para afrouxar a sua posição em relação ao governo dos aiatolás e lembram que o democrata, quando senador, ofereceu-se para ir à república islâmica como abre-alas de uma eventual reaproximação entre Washington e Teerã, rompidos há três décadas. Acho difícil uma questão familiar influenciar uma posição de Estado, principalmente quando se trata da Casa Branca. Mas é verdade que Kerry defende uma abordagem muito mais serena e pragmática do que a média dos políticos americanos para lidar com o Irã.
No fundo, esse caso vai além da simples discussão geopolítica. Behrooz é parte da importante comunidade iraniana-americana, avaliada em ao menos 2 milhões de pessoas. É tanta gente que, por ironia do destino, uma das maiores delegações iranianas no exterior encontra-se nos EUA, país com quem Teerã oficialmente não tem relação formal. Questões consulares, legais e de cartório são tratadas na seção de interesses iranianos abrigada pela Embaixada do Paquistão em Washington. Teerã faz questão de manter vínculo com a diaspora, apesar de muitos iranianos dissidentes não se sentirem seguros para voltar ao seu país.
Iranianos vêm migrando para os EUA desde o início do século 20, mas a tendência acentuou-se após a Revolução Islâmica no Irã, em 1979. Aos olhos de muita gente, trata-se de uma comunidade discreta e bem integrada. Há abundantes histórias de sucesso, desde anônimos que fizeram fortuna até grandes cientistas, intelectuais e artistas. O Conselho Nacional Iraniano-Americano (NIAC, na sigla em inglês) é um dos principais lobbies em defesa de uma diplomacia americana que enxergue além das sanções e ameaças. Mas de tão arredio devido à desconfiança acumulada, o Irã costuma não responder aos acenos americanos.
PS: Pelo calendário persa, começa agora o ano de 1392. Esta maneira de contar os anos existe no Irã e em algumas comunidades persas no Afeganistão e Turcomenistão, entre outros países. O Irã tem população e governo islâmicos mas não segue o calendário muçulmano tradicional (atualmente em 1434). O ponto de partida é o mesmo: o ano de 622 D.C, quando o profeta Maomé migra da Meca para Medina. Mas os persas adotaram em seguida um calendário solar, enquanto os árabes mantiveram e espalharam ao longo dos avanços islâmicos na Ásia e na África uma contagem lunar, com anos mais curtos. Isso explica a discrepância nas contas.
Claro, claro. O problema é “desconfiança acumulada”.
Islamismo, terrorismo, Hamas, Hizbollah, bomba atômica, perseguição religiosa… não têm nada com o problema.
isso fora a esposa d kerry q se chama teresa, e é da comunidade lusófona dos eeuu!
Uma bela história de amor de Behrooz e Vanessa. Pena que nas relações iternacionais a afetividade é o que menos se vê. Pelo pouco que sei das relações entre EUA e Irã, não creio que a gestão Obama atacaria o Irã. Israel não atacaria sem apoio americano e as bravatas de Israel dizendo que atacará as instalações nucleares iranianas é só pressão. Os israelenses preferem métodos mais sofisticados, como matar cientistas iranianos, invadir os computadores de cientistas iranianos e outros métodos que eles próprios se envergonham de contar.