Fotos de um Irã surpreendente
31/10/12 09:46Dia desses estava num taxi indo para o centro de Teerã quando vi, ao passar em frente à sinagoga Abrishami, um grupo de jovens judeus conversando tranquilamente, quipá na cabeça, no meio da rua. Me lembrei que o Irã tem a segunda maior comunidade judaica no Oriente Médio depois de Israel. Apesar de algumas restrições, judeus iranianos praticam sua fé sem sofrer maiores incômodos. Já escrevi a respeito em reportagem publicada em junho na versão impressa da Folha, mas essa realidade, como tantas outras acerca do Irã, continua desconhecida da maior parte dos brasileiros. O fato é que a imagem externa do Irã é moldada em grande parte pelas tensões entre Teerã e as potências ocidentais. E essa imagem externa não poderia ser pior.
Para quebrar os estereótipos e humanizar uma nação estigmatizada por seus líderes, a lendária revista americana “The Atlantic” compilou em seu site no início deste ano uma série de 42 fotos de agências de notícias internacionais mostrando aspectos inusitados da vida no Irã. A galeria tem gente na praia, competição de robô em gincana científica, pilotos de motocross, cristãos iranianos e belas paisagens, entre outros retratos. Nem crítica ao Irã, nem ode ao país, apenas uma visão diferente. Confira aqui:
http://www.theatlantic.com/infocus/2012/01/a-view-inside-iran/100219/
É sempre a mesma coisa, o problema de maioria das pessoas é que confunde o povo com o Regime! A verdadeira cultura iraniana é diferente com cultura islâmica.
Irã nos tempos antigos até foi governado pelas mulheres mas hoje é maior camada reprimida da sociedade são as mulheres. Colocar véu deste ou de outro jeito é uma maneira de lutar contra hijab islâmico, vejam durante mais de 30 anos o regime islâmico não conseguiu fazer de mulher iraniana o que os Talibans fizeram com mulher afegã e isto não é porque xiita ou sunita são mais ou são menos radicais mas sim porque a cultura iraniana ainda luta e não acata as imposições do regime islâmico.
Gente a história é longa e bem complexa.
Samy por favor se você é um jornalista neutro fala também das mulheres, dos estudantes, dos curdos… de todo povo atingido de Azerbaijão pelo terremoto que está sofrendo de frio, fome e doença por que o governo iraniano não dá assistência e nem deixa que ajuda chegue de fora, para que o povo brasileira conheça a cara real.
Ameh, todos os assuntos que você levanta foram tratados neste blog ou nas páginas impressas da Folha. Aliás, estive pessoalmente no Azerbeijão para cobrir o terremoto.
Oi, ótimos artigos os teus, parabéns! A propósito, já fez alguma reportagem sobre como vivem os zoroastrianos no Irã???
abraços!
Ainda não, Nildo.
A coleção de fotos é ótima, mas não surpreende, a não ser a quem ainda acredita, cegamente, em qualquer coisa que lê. O discurso político do presidente de “Varrer Israel do mapa” ou slogans gritados pela massa como “Morte a Israel e aos Estados Unidos” não passam de aspectos da propaganda ideológica do governo para consumo interno. No mundo real, como constatou Samy Adghirni em seu artigo para a Folha, não há perseguição a judeus no Irã, e o escritório de Ahmadinejad apoia e até presta auxílio financeiro a atividades sociais de judeus iranianos (vide Hospital Sapir). Além disso, sabe-se que mpresários israelenses continuam exportando rodutos, principalmente frutas e vegetais, ao país persa, apesar do bloqueio. Isso é o mundo real, fora da mídia.
Um pouco do que o Irã faz e fez contra judeus:
1994: Atacou alvos judeus em Buenos Aires.
2012: Tentou cometer atentados na Tailândia e no Azerbaijão contra israelenses.
2012: Conseguiu cometer um atentado que matou israelenses na Bulgária.
HOJE, neste exato momento: Patrocina grupos terroristas, entre eles Hamas e Hezbollah, que atacam Israel dia sim, dia também.
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Um pouco do que o Irã faz e fez contra os EUA:
1979-1981: Tomou a embaixada americana e fez seus funcionários reféns.
1983: Promoveu o ataque contra tropas americanas no Líbano.
2003-2011: Patrocinou ataques contra os EUA no Iraque.
2011: Tentou cometer um atentado contra o embaixador saudita nos EUA.
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Será que devemos acreditar no que o governo iraniano fala e FAZ ou fazer de conta que eles não falam de verdade e nunca fazem nada?
Outro excelente post! Cada vez melhor o blog!
Samy, obrigado pelas brilhantes notícias que nos tem proporcionado sobre o magnífico país que é o Irã. Gostaria que em um de seus posts falasse sobre a perseguição aos cristãos não étnicos (armênios, etc) e o aumento das igrejas domésticas (por ser tratar de um assunto complicado, pode ser que como visitante ao país você ainda não tenha tido contato com esse situação – mas te digo, é um submundo efervescente que existe aí nesse país). Abraços
Caro Samy, infelizmente esses relatos e olhares não chegam ao grande público; o que chega à população é a demonização do regime e do país. Israel e americanos criam um cerco, ou embargo noticioso que funciona como um filtro: do Irã só pode ser visto e ouvido aquilo que lhes interessa. O verdadeiro Irã, cujos detalhes, somos obrigados a apanhar em relatos corajos como os seus, são raríssimos na imprensa Ocidental. Por vicejar apenas esse lado preconceituoso, generalizante é que também nós, ficamos privados de ter do Irã uma imagem mais em conformidade com a realidade e verdade. Parabéns por nos propiciar essa pequena janela do verdadeiro Irã.
“Israel e americanos criam um cerco, ou embargo noticioso que funciona como um filtro: do Irã só pode ser visto e ouvido aquilo que lhes interessa.” (sic)
Isso é apenas mais uma das muitas absurdidades com as quais nos deparamos no dia-a-dia.
Deve-se ler de tudo, mas há que se “ler” nas entrelinhas para um bom e completo entendimento do texto e isso é básico em qualquer leitura. Do contrário, se essa didática é complicada, é melhor nem perder tempo e ler apenas a manchete.
A propósito, “as forças maléficas” dos Estados Unidos e de Israel não são onipresentes como parece que se teme, e tampouco há “filtros”, “cerco” ou “embargos” na mídia. Esses cercos ou embargos podem estar localizados em outro lugar que, derepente, não se admite.
Ola Samy, sou de cabo Verde, para quem não conhece é um pequeno país de 500 mil habitantes, composta por 10 pequenas ilhas na costa ocidental africana e que tem o portugues como lingua oficial. Tenho lido com regularidade os teus artigos e tem sido interessante aprender um pouco mais sobre o Irao a partir do ponto de vista de um brasileiro. Precisamos de mais perspectivas desta natureza para outras paises que também nos são desconhecidos e em relação aos quais temos preconceito varios
Samy, no artigo sobre Mashad você tocou num ponto desconhecido para a maioria dos brasileiros: o radicalismo xiita não é maior do que o radicalismo sunita. Nem maior que os radicalismos das outras duas religiões abrâmicas, cristianismo e judaísmo. Radicalismo religioso, em qualquer meio e circunstância, é fruto de ignorância ou está subjacente ao projeto de poder de quem comanda ou manipula os seus fieis.
Quanto ao fato de os brasileiros considerarem os xiitas fundamentalmente mais radicais do que os sunitas, essa má compreensão vem dos primeiros tempos da revolução iraniana, no início dos anos 80, quando as posições de fato se radicalizaram no Irã, com a chegada de Khomeini ao poder. Nesse momento, no Brasil, se bem me recordo, havia economistas que pregavam medidas radicais para controlar a espiral inflacionária no Brasil. Eram então,chamados de xiitas, numa alusão ao radicalismo da política aiatolás. Depois, a revoluçao iraniana trilhou outros caminhos, como em qualquer processo do gênero, até chegar à tímida abertura promovida pelo simpático Khatami. O fracasso dessa abertura acabou por desapontar a população iraniana e favorecer os setores mais à direita do regime, que elegeram Ahmadinejad. Ou seja, quem se espanta com as idas e vindas da revolução iraniana deveria estudar um pouco mais a revolução francesa, para compreender que o que ocorre no Irã a partir de 1979 não é um fenômeno tipicamente oriental ou islâmico. Quem sabe se daqui a alguns anos não haverá até mesmo um Napoleão persa?
Hoje em dia, o radicalismo sunita erode ou destroi muito mais os projetos de democratização em curso na região, financiado por Governos muito mais radicais com seus subordinados do que os partidários da teocracia iraniana. Basta ver a condição da mulher em algum desses países majoritariamente sunita, que me escuso de mencionar, por força da minha profissão.
Por falar nisso, por que você não escreve um artigo apenas sobre a situação das mulheres no Irã? Quando aí estive, em meados dos anos 90, elas já faziam quase tudo o que se pensava ser privilégio dos homens no mundo muçulmano: dirigiam taxis, caminhões, eram médicas, advogadas, engenheiras e, pouco depois, até conquistaram o direito de frequentar os estádios de futebol. Hoje em dia devem ser até mesmo eletricistas, último reduto dominado pelos homens ocidentais. Até agora!
Obrigado pelos valiosos comentários, caro Anuar. Já escrevi a respeito das iranianas no seguinte post:
http://samyadghirni.blogfolha.uol.com.br/2012/03/08/o-dia-da-mulher-no-ira/
O assunto certamente voltará a ser tratado aqui.
A imagem do Irã no exterior é de um país governado por teocratas tresloucados que patrocinam o terrorismo no exterior, inclusive contra judeus em Buenos Aires, que buscam a bomba atômica e volta e meia ameaçam Israel.
Essa imagem é irreal ou exagerada por acaso?
Apontar a podridão do governo iraniano por acaso é sinônimo de demonizar o povo iraniano?
As iranianas são muito bonitas, com ou sem véu. Uma das coisas que me surpreendeu na minha viagem, aliás, foi como elas estavam colocando o véu bem para trás. Em Bandar-e-Anzali eu vi uma com o véu simplesmente transparente. Muito bom, Samy, um post que mostra outras visões do Irã, para além daquelas da chamada “irãfobia” preconceituosa e maniqueísta.
Samy,so queria te dizer que tenho um companheiro de trabalho que saiu do Ira
ha exatos 6 anos atras.O que ele me conta
nao e o que voce relata aqui.Para ele sair
de la definitivamente teve que entregar seu negocio (pequeno) para um dos empregados, e a casa onde ele morava ele a entregou de mao beijada.Ele veio para ca com uma mao na frente e outra atras dizendo que se nao saisse as coisas
ficariam muito piores para os judeus.Como
realmente ficaram.Quem esta falando a verdade? voce ou ele? Eu acho que e ele.
Fabio, sugiro que leia a reportagem que escrevi a respeito, pela qual visitei sinagogas e entrevistei muitos judeus, inclusive empresários e o deputado judeu no Parlamento. Falei da situação dos judeus com todas as nuances, e mencionei com todas as letras as restrições aos quais estão submetidos. O título da matéria principal resume a situação: “Judeus no Irã têm liberdade com limites”. Está nos arquivos da versão impressa da Folha (para assinantes).
É Samy, uma pena q a maioria das pessoas possa ser tão facilmente “infectada” com a idéia de que aquele que pensa diferente (na política, no futebol, etc…) é, antes de tudo, um “inimigo” a ser combatido e eliminado
O mais deprimente é que em pleno Século XXI muitas pessoas, aliás, me parece que cada vez mais, pensem assim…
Desculpe-me, Ricardo Araújo, mas não se trata de tachar de inimigo alguém que pensa diferente e, por exemplo, respeita sua existência (como você, eu e outros que vivemos nos padrões ocidentais e agimos deste modo: pense e seja diferente e será sempre respeitado, numa sociedade livre, democrática e progressiva). No Irã não é assim. E o Samy aí em cima sabe disto. Não se trata apenas de não ser democrático, de ser opressivo nas coisas de poder político e econômico local. Trata-se de não reconhecer que você tem o direito de ser diferente. Você mesmo, que deve viver aqui em São Paulo, seria vilipendiado caso pudesse levar seu estilo livre de vida para lá. Entenda melhor esta realidade para então se posicionar. Você pode estar no século XXI. Eles estão no século VII.
Realmente concordo com seu comentário. Infelizmente os homens que comandam o País pouco toleram as diferenças e alguns direitos individuais como o livre pensamento. Querem moldar a sociedade de acordo com os seus interesses e o maior deles é permanecer como donos do País.