O grande show do Irã
28/08/12 16:03Teerã está de cara nova.
Ruas e postes foram pintados, canteiros e parques brilham com flores novas e grama impecável. Não se vê uma sujeirinha nas calçadas das vias principais.
A razão de tanto capricho é um colossal e caríssimo esforço para impressionar os participantes de uma cúpula de chefes de Estado que o governo iraniano apresenta como o maior encontro diplomático na história do país. Os debates, iniciados no domingo (26.ago) e que culminam com a declaração final na próxima sexta-feira (31.ago), acontecem no moderno e verdejante complexo da rádio e TV estatal _IRIB, na sigla em inglês.
Delegações de mais de 120 países abarrotam desde a última sexta-feira os principais hotéis da cidade, que também ganharam um upgrade no visual e nas instalações.
A cúpula reúne os membros do Movimento dos Países Não Alinhados (MNA), criado no auge da Guerra Fria por líderes do mundo em desenvolvimento que diziam não ser aliados do bloco capitalista pró-americano nem do bloco comunista pró-soviético. Com o colapso do Muro de Berlim, em 1989, o MNA perdeu boa parte de sua razão de ser. Mas alguns membros, como Irã, Venezuela e Angola, ainda se entusiasmam com o movimento, mantido como plataforma terceiro-mundista e antiimperialista.
Para Teerã, receber o equivalente a dois terços dos países do mundo _e o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon_ é uma humilhante resposta às potências ocidentais que querem isolar o Irã. A favor do regime também está a presença, ainda que na condição de simples observadores ou convidados, de governos politicamente corretos e amigos das potências ocidentais, entre os quais Suíça, Austrália e Brasil.
No entanto, a declaração final que será adotada na sexta-feira _por consenso, como de praxe_ certamente não defenderá com ênfase o programa nuclear iraniano nem o regime sírio de Bashar Assad contra os rebeldes, como anunciava Teerã. Rivais do Irã dentro do MNA, como Arábia Saudita e Paquistão, não assinarão um texto que pareça uma colher de chá para os mulás persas.
Mas no fundo, pouco importa. O que vale mesmo é a imensa operação de relações públicas para mostrar o Irã como um país maduro, sério, equilibrado e freqüentável. Isso passa por uma maquiagem completa de Teerã, que está virtualmente parada.
O governo decretou feriado por cinco dias e aumentou a cota de gasolina subsidiada como forma de incentivar as pessoas a esvaziarem a capital, que ficaria impraticável para a circulação de dezenas de comboios oficiais. Na quinta-feira, dia em que o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, discursará diante dos chefes de delegações, metade da cidade ficará lacrada por cordões de isolamento. Policiais em roupa de combate e/ou agentes à paisana já ocupam quase cada esquina. Olham tensos para qualquer um que estiver caminhando por perto.
O aeroporto Mehrabad, equivalente de Congonhas em São Paulo, foi fechado para receber os jatos dos chefes de Estado. O zelo com a segurança dos convidados causou até constrangimentos, como os numerosos casos de diplomatas barrados por não terem recebido credenciais a tempo de participar do primeiro dia de debates.
Além de oferecer aos convidados banquetes noturnos e passeios turísticos, o governo aproveita para compensar o que enxerga como um injusto boicote da mídia ocidental aos seus pontos de vista estratégicos.
Exemplo: os visitantes descobrem por meio de cartazes espalhados pelos corredores do evento que o Irã é uma das maiores vítimas do terrorismo. Lá estão fotos chocantes de gente despedaçada por bombas do MKO, um ultraviolento grupo marxista dissidente exilado no Iraque; listas detalhadas das centenas de vítimas do Jundallah, um obscuro grupo sunita ligado ao Paquistão; relatos dos massacres de iranianos pelo Taleban afegão e, acima de tudo, retratos dos cientistas nucleares assassinados nos últimos dois anos pelo Mossad, o mundialmente temido serviço secreto israelense.
O mais chocante é a exibição, ao lado do portão principal da cúpula, dos três Peugeot 405 em que os cientistas foram vítimas de bombas magnéticas grudadas na lataria do carro por ágeis motoqueiros nunca encontrados. Os automóveis, cada um içado sobre um pequeno palco, têm as portas destroçadas e o parabrisa aberto. Ao lado de cada um dos palcos, há fotos sorridentes dos cientistas mortos e de seus filhos pequenos. Diante deste e de outros tapas na cara infringidos pelos inimigos, o Irã empenha-se para mostrar dignidade, força e sintonia com o mundo _ao menos parte dele.
Seria interessante um artigo sobre os politicos do irã, porque o presidente e o aiatola sao estremistas e pregam odio, gostaria de saber se em geral os politicos sao assim ou tem os com cabeça no lugar que procuram a paz.
Olá Samy,
Primeiro gostaria de parabenizá-lo pelos excelentes artigos, sempre muito interessantes para nos aproximar de uma cultura tão rica como a persa.
Gostaria de saber se seria possível algum artigo ou comentário sobre como as sanções ao Irã estão afetando a economia popular, se já está refletindo nos preços dos bens de consumo, tais como alimentos, celulares, carros, etc.
Também gostaria de saber quais os preços praticados por aí em comparação com o Brasil, por exemplo, qual o preço de um Iphone ou de um modelo de carro que exista também aqui e a velocidade e preço da internet banda larga.
Desde já agradeço pela atenção.
Caro Yuri, os temas que você levanta já foram tratados em reportagens publicadas na versão impressa da Folha de S.Paulo.
Parabens por nos mostrar este Irã desconhecido pelo resto do mundo.Eu por exemplo , a partir de agora , não acredito mais que este país nega o Holocausto , prega varrer Israel do mapa , quer artefatos bélicos nucleares , e , financia ,treina e exporta terrorismo , como querem fazer-nos acreditar.
Que esta República de paz e amor incondicional ao próximo , continue dando exemplos de tolerância , não discriminização e respeito aos direitos humanos.
ALLAH AKBAR !!! BUUUMM !!!!
Amigo, acho que a maioria do povo do Irã é mais simpática a Israel, ao povo de Israel e à história de Israel do que muitos de nós possamos imaginar. Só um doido varrido negaria o Holocausto ou pregaria varrer o Estado de Israel do mapa ou apoiaria construção de artefatos nucleares para destruir seus vizinhos. Khamenei, Ahmadinejad e alguns outros comparsas, cada vez mais divorciados da nação iraniana, ainda usam essa retórica cada vez mais gasta e ultrapassada.
Seus artigos såo muito enriquecedores, parabens e tudo de bom.
Seus artigos såo muito interessantes,parabens
Samy,
Fico gratificado de ver que a F0lha deixou ser publicado este artigo, único aqui a buscar uma posição equidistante, e criticando a ambos os lados.
Único a NÃO ser escancaradamente pró-EUA e pró-sionismo.
Parabéns a você e à F0lha !!!
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Antes um serviço secreto mundialmente temido do que uma bomba atômica nas mãos de um regime anti-semita e totalitário.
Existe algum link ou site em que possamos ver as fotos de Teerã neste momento para que se tanha ideia de como é e esta a cidade? Seria interessante ver esse lado humano desconhecido e ignorado pela nossa midia nativa.
Samy, se você possui alguma confirmação concreta de que os cientistas foram assassinados pelo Mossad, como afirma, deveria publicar: seria um furo de reportagem.
Por outro lado, se você não obteve nenhuma confirmação especial e está apenas reproduzindo a propaganda do regime de Tehran, devia abandonar a profissão de jornalista e trabalhar como public relations comercial.
Antes de proferir agressões, sugiro que leia “Spies Against Armageddon”, livro dos autores israelenses Dan Raviv e Yossi Melman, tidos como os maiores especialistas no assunto.
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Sim, F Pait, e tem mais:
Quem afirma que estes assassinatos foram praticados por Israel, são as próprias autoridades AMERICANAS !!!
Veja no YouTube:
…. watch?v=Kxy-afPdM-E
” US admits Israel is arming and training terrorist groups to create terrorism”.
– ” Deadly attacks on Iranian nuclear scientists are being carried out by an Iranian dissident group that is financed, trained and armed by Israel’s secret service, U.S. officials tell NBC News, confirming charges leveled by Iran’s leaders”.
Parabéns ao Samy pela legião de defensores e fãs. Aliás, fã eu também sou desse belo blog e daquele que o escreve. Quanto ao fato de haver sido os tais cientistas assassinados pelo Mossad ou não, acho que nada foi AINDA provado e oficializado a respeito. São apenas suspeitas. Graves suspeitas, mas apenas suspeitas, portanto talvez (e apenas talvez) tivesse sido melhor usar o “supostamente” e estaríamos conversados.
De resto, belíssimo artigo.
Não é uma agressão; apenas reparei que você fez uma afirmação sem fundamentação. Não separou onde você descreve fatos, e onde relata a propaganda que viu no evento. É um engano profissional que deveria ser motivo para correção, não considerado como agressão.
Samy, decerto nosso amigo entende que essas mortes foram fatalidades, acidentes de trânsito talvez, e não assassinatos cometidos pelo serviço secreto com um dos mais longos históricos desse tipo de ação.
E antes q ele também me ataque, aviso q não nutro simpatias por nenhum dos lados envolvidos nessa questão nuclear, ao contrário, acho q ambos brincam, cada um a seu modo, com fogo.
Aham, deve ter caído uma bomba magnética de outro carro e colado lá no dos cientistas por acidente né, esses carros bombas da renaut tsc tsc….
Samy,
Nao ligue para estes tipos de agressões gratuitas. Seu blog é de grande valia para os brasileiros, pois inovou ao tratar deste país de forma independente, sem estar sujeito a pressões dos poderosos lobbys existentes. Finalmente a liberdade de expressão está prevalecendo.
Não vejo reprodução de propaganda aqui. Aliás, muito diferente do que a imprensa mundial vem fazendo. Manipulam opiniões como no caso da síria que estamos acompanhando, omitindo informações dos massacres que vem ocorrendo no Bahrein e em Gaza, apoiando o Maior país ditador do oriente médio que é Arabia Saudita e Jordânia. Isso sim é reproduzir propaganda de Interesses.
Eu estou convicto que o Mossad direta ou indiretamente deu cabo desses cientistas.
E para saber disso não é necessário ler nada do um tanto fantasioso Dan Raviv, que aliás, não é israelense e sim americano de Nova York.
Mas, o fato é que estamos numa guerra surda e morna contra os persas: que aliás não começamos, já que sequer arabes são, e portanto não possuem interesses legitimos nesta região.
Porém, o PRIMEIRO round desta guerra, que resultou em 85 mortos e centenas de feridos, foi iniciado pelo Irã, juntamente com seu proxy Hezbola, quando em 1994 perpetrou o barabaro ataque contra a AMIA em Buenos Aires.
A partir de então, simplesmente travamos uma guerra, e certamente não vamos permitir que o Irã possua armamentos não para matar 85 pessoas de uma vez, mas 85.000.
Vale tudo par evitar isso.
desculpe, caro F Pait, mas deveria ler com mais atenção antes de estabelecer criticas, o Samy colocou na matéria:
“os visitantes descobrem por meio de cartazes espalhados pelos corredores do evento que o Irã é uma das maiores vítimas do terrorismo………..”
não é uma afirmação e sim um RELATO do ele viu.
Da próxima vez, por favor, leia com mais atenção antes de estabelecer criticas infundadas.
mylton, interessante você apontar outra falha da reportagem. Na frase que você citou, o jornalista afirma que de fato o Irã é uma das maiores vítimas do terrorismo, e não apenas relata que os cartazes dizem isso. Será que de fato isso é verdade? Talvez seja, mas para endossar a afirmação dos cartazes o jornalista devia fazer uma pesquisa independente.
O jornalista devia agradecer ao seu comentário e fazer uma correção. Uma possibilidade é especificar que isso é apenas o que os cartazes afirmam. Outra é apresentar dados independentes da propaganda iraniana que confirmam a afirmação.
A verificação das fontes é absolutamente indispensável para o jornalismo confiável. O correspondente da Folha está devendo muito ao leitor.