E Dilma não recebeu Ahmadinejad...
25/06/12 08:27O suspense durou até a última hora. Mahmoud Ahmadinejad só soube que não seria recebido por Dilma quando já havia desembarcado no Brasil para participar da Rio + 20. O Palácio do Planalto alegou problemas de agenda e disse que a presidente encontraria pouquíssimo tempo para conversas bilaterais às margens da cúpula. Mas o fato é que Dilma acabou tendo várias reuniões a dois, mais até do que o previsto. Presidentes/premiês de França, Turquia, China e Nigéria, entre outros, tiveram seu tête-à-tête com a brasileira. Por mais que o Itamaraty diga que não, Ahmadinejad foi preterido, sim.
Há quem explique que a decisão demorou a sair porque o governo brasileiro estava na dúvida. Alguns setores do Itamaraty defendiam que era importante atender o pedido iraniano para um encontro reservado com Dilma. Afinal, o Brasil carrega no DNA de sua política externa o diálogo com todos. O Irã, queira ou não, é um país poderoso com papel central na geopolítica atual. Além disso, importa do Brasil o equivalente a mais de US$ 2 bilhões por ano. Em tempos de economia vacilante, um bom comprador desses não deveria ser desprezado.
O Brasil também preferiu esperar o resultado das cruciais conversas nucleares entre o Irã e as grandes potências ocorridas em Moscou na véspera da Rio + 20. Um desfecho apaziguador teria criado um clima mais favorável para uma foto de Dilma com Ahmadinejad. Mas a reunião na Rússia deu em nada. E Dilma bateu o martelo: não ao iraniano.
Um encontro teria contrariado parte da opinião pública brasileira, que vê Ahmadinejad como um ditador insano e sanguinário (algumas das acusações contra ele são fundadas e outras, não, mas isso é outro tema). Judeus, baha’ís e homossexuais fizeram uma barulhenta mobilização para estigmatizar o iraniano, e é de se imaginar que esse coro teria sido muito maior caso a reunião bilateral tivesse acontecido.
Dilma, mulher com trajetória de resistência militante, marcada pelo horror da tortura e da perseguição política, é muito sensível à questão dos direitos humanos. Dias antes da posse, ela deixou claro em entrevista ao “Washington Post” que o tema entraria de vez na pauta da relação com o Irã. Lula achava que a estratégia de apontar o dedo e colocar contra a parede nunca dá resultado. Mas, sob Dilma, o Brasil votou a favor de uma investigação do Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre abusos por parte do regime iraniano.
Ainda assim, me parece que o que mais pesou na decisão da presidente brasileira é o trauma, tão recente, do custo político internacional gerado pela aproximação com o Irã nos anos Lula.
Lula recebeu Ahmadinejad em Brasília em 2009 e, no ano seguinte, foi a Teerã para costurar, com ajuda hesitante da Turquia, a promessa de uma maior cooperação iraniana no dossiê nuclear. O acordo previa, basicamente, que o Irã enviaria seu urânio para ser enriquecido no exterior. Concessão imensa, que o Ocidente não havia conseguido arrancar. Na verdade, o pacto atendia exatamente o que o próprio Barack Obama havia sugerido em carta confidencial a Lula às vésperas da viagem do brasileiro a Teerã, conforme revelou Clóvis Rossi nas páginas da Folha. Os EUA, aliás, ficaram furiosos com o vazamento da carta. E o governo Lula ficou mais furioso ainda pela reação das potências ao acordo de Teerã. Semanas após o pacto, a ONU impôs mais um pacote de sanções econômicas e financeiras ao Irã. A relação com Obama virou um gelo.
Em vez do reconhecimento esperado, o Brasil sofreu críticas e chacotas por sua suposta ingenuidade. As potências deixaram no ar a ideia de que o governo brasileiro não tinha cacife nem maturidade para atuar na mais alta esfera da diplomacia mundial. Na prática, o episódio acabou sendo um revés pesado às aspirações brasileiras de ocupar uma cadeira permanente num Conselho de Segurança da ONU pós-reforma.
Dilma mantém a ambição de mudar o órgão máximo da ONU, mas mudou de estratégia. Ela trocou o esforço constante de Lula para envolver o Brasil em grandes questões globais por uma abordagem mais prudente e pragmática. É a tese do “quanto menos atrito, melhor”. Além de menos ideológica, Dilma evita comprar brigas distantes e procura agir em função de metas claramente traçadas. O Irã não combina com nada disso.
A mídia estatal de Teerã bem que tentou explicar que a viagem de Ahmadinejad ao Rio foi um sucesso e que vários outros líderes também não foram recebidos por Dilma (o que é verdade). Mas os iranianos ficaram decepcionadíssimos. Muito mais do que discutir questões ambientais, o que o presidente da República Islâmica queria mesmo era sentir que o Brasil ainda figurava na lista dos amigos mais próximos.
Na verdade, Teerã já vinha sinalizando frustração com o Brasil. No início deste ano, um dos principais assessores de Ahmadinejad me disse que Dilma havia destruído “anos de boas relações” bilaterais. Diante da repercussão da declaração publicada na Folha, ele recuou e negou ter criticado a presidente. Na mesma época, navios levando carne brasileira foram impedidos, sob vagos pretextos burocráticos, de desembarcar a mercadoria no porto iraniano de Bandar Abbas.
A viagem ao Rio também tinha uma importante dimensão de política interna iraniana. Ahmadinejad, que manda muito pouco no Irã, está em conflito aberto com o Parlamento e setores mais radicais alinhados ao líder supremo. Por isso o presidente encara idas ao exterior como oportunidade de mostrar força e prestígio, mais ainda neste fim de mandato _falta um ano antes da eleição na qual ele não poderá concorrer.
Alguns diplomatas brasileiros sustentam, inclusive em aulas para aspirantes à carreira exterior, que a relação com o Irã não mudou desde Lula. Algo me diz que os iranianos discordam deste diagnóstico.
Se já era grande admirador de Dilma, agora aprecio ainda mais a nossa presidenta, na qual não votei, mas me orgulharei de dar a ela meu voto para a reeleição desta grande mulher!
É verdade! Na primeira semana de julho, visitei o Irã. Uma as primeiras pessoas que encontrei, mencionou o fato de Dilma não ter recebido Ahmadinejad, em tom de melancolia, o que pode sinalizar que o efeito interno não foi dos melhores para ele.
Olá Samy, tudo bem ?
É sempre um prazer ler seu blog! Inclusive esse artigo caiu como uma luva para a finalização do meu mémoire, mais uma vez só tenho a agradecer. Mas fiquei decepcionada com o fato da Dilma não ter recebido o Ahmadinejad. Acho uma pena o Brasil aplicar a geometria variável que tanto acusa nos EUA e Europa: quando a presidente foi para Cuba, nem pensou em falar de direitos humanos. Claro que o assunto é importantissímo, mas justamente é o diálogo que pode levar à abertura.
Abraços,
Laura.
Quer queira, quer não, o Irão será a bola da vez, logo após, o paralelamente à Síria, nesse jogo que o Capitalismo e sua indústria bélica promovem. Por este e dezenas de outros motivos, inclusive econômico, político e estratégico, o Brasil não poderá mais se envolver com esse senhor e seu governo religioso.
Também achei que Dilma foi grosseira e deselegante. Pelo menos o Irã enviou o presidente da República, enquanto países como EUA e a Alemanha faltaram com seu presidente e sua chanceler. Itamaraty mostrou incompetência pela segunda vez em um mês. Logo depois foi pego “de surpresa” pelos golpistas paraguaios. Está precisando trocar alguém no comando.
Concordo com o José Henrique, afinal protocolarmente chefe de estado é chefe de estado, não importa a ideologia ou a situação politica do estado, os chefes ou representantes de estado estavam em visita ofocial no Brasil e como tal deveriam ter as honras protocolares. Foi uma tremenda gafe, o Itamaraty está precisando de um de profissional no comando.
Ela foi estratégica, ela tem mais visão que Lula. Sabe que os EUA e UE estão pressionando o OM, isso poderia desagradar tanto a opinião pública externa quanto a interna.
Desaplicada aluna,Top Top Garçia irá queixar
se para o Rasputin do ABC…
Dilma foi coerente com seu histórico de lutadora nas hostes da democracia. Que se dane o Ahmadinejad com seu padrinho babaca e, de quebra, ayatolah. Que se vire lá com seus comparsas. Podemos sim nos dar ao luxo de perder os dólares do Irã, porque ganharemos dez vezes mais em prestígio, que vale tanto quanto dinheiro, de quem e onde precisamos ser prestigiados. Lula fez o seu papel e nem vamos discutir isso, mas a Dilma não tem que ser xeróx de papel nenhum. Valeu Dilma!
Dilma agiu com um chefe de estado do primeiro mundo. Mas isto os nossos esquerdopatas não querem admitir. Nenhum país europeu, para não falar nos EUA, jamais receberia Ahmadinejad ou os seus chefes, os Aiatolás que dominam o povo iraniano sem piedade. Porque será que Brasil precisa se humilhar perante aqueles ditadores dementes? Só para agradar as nossas esquerdas que defendem o princípio stalinista de que “tudo inimigo dos EUA é o nosso amigo?” Em síntese, PARABÉNS DILMA!
Perdemos uma boa oportunidade de aumentar a boa influência brasileira no Oriente médio. Através da cortesia de se receber um chefe de estado de um país tão importante nessa problemática região. Apesar de uma foto ter muito significado. Quando a nossa presidenta não recebe um chefe de Estado, significa que nosso país concorda com a visão infeliz “ocidental” (daqueles que apesar de minorias, não repeitam a visão das outras também, minorias), o que inclui a minoria de 1 bilhão e 100 milhões de islâmicos, e quase 32 milhões de iranianos! Não importando quem seja o chefe de Estado, precisa a atual Presidência entender, de que foi o Irã o desrespeitado. Mahmouds têm aos milhares, Irã com a sua riqueza cultural, popular e petrolífera, só tem um.
Aliás, a presidenta não recebeu outros líderes pouco ortodoxos, à visão infantil-americana?!
Que nós brasileiros peçamos desculpas ao povo do Irã, através de seu presidente democraticamente eleito, Mahmoud Ahmadinejad.
E, lenbre-se Dilma, tu és apenas presidenta da república, maior agente público do país, mas ainda assim, há um povo por de trás das políticas infelizes de outros países.
Detesto estes comentadores malas. Rapidamente, pq são sete da matina e o dia tá começando.
Bom, acredito que a Dilma errou, sim. Não fica de bom tom negar diálogo a alguém que ainda por cima estava prestigiando um encontro no Brasil. Tremenda mancada dela, do Itamaraty, de quem quer que seja.
Você salientou bem que pode ter pintado a neurose dos encontros lindos do Lula com Gadafi, Al Asad e o próprio Ahmadinejad – conferindo o nome do homem – mas convenhamos que o Irã não é a Síria de Al Asad e nem a Líbia de Gadafi. Problemas a parte, tá muito melhor em matéria de liberdade política.
A Dilma foi feliz em criticar o Irã na questão de respeito a liberdade das mulheres, por exemplo. Mas se o Ahmadinejad tá em cofronto com a ala mais radical dos tais lá, a falta de cortesia foi, no mínimo, contraproducente. Um erro, acontece.
E pelo que vc escreve aqui Samy, deu pra perceber que os iranianos são bastante passionais. O que é interessante. E tudo leva a crer que o Ahmadinejad e cia devem ter ficado triste a beça. Não conheço o cara, mas não acho legal deixar alguém chateado pq queria “bater um papo”.
Silvino, você está certo, os iranianos tendem a ser passionais e sensíveis, mas também orgulhosos. Parte da mídia estatal insiste em que a visita foi um sucesso, mas os rivais do presidente estão numa gritaria só dizendo que foi um fracasso.
Medrou , né Dilma? A cada evento vc vai jogado sua história no lixo. Ordens expressas de Washington mandaram vc ficar pianinho com o Presidente Ahmadinejad. Uma lástima !!!!
Que história irmão? história de marxista, totalitária que apoia regimes torturadores e genocidas, história de quem sempre viveu na cartilha da insanidade fracassada do marxismo?
É vergonhoso para o Irã apoiar a escória da política latina em troca de provocação aos EUA.
Até pode e deve fazer negócios, mas de maneira discreta sem se sujar tirando fotos ao lado da corja marxista.
Façam como fizeram por ocasião do pedido de remessa da assassina Saqineh ao Brasil, mande o secretário do acessor do porta voz tratar com o presidente brasileiro.
Vai ser muito difícil para o I
Vai ser muito difícil para o Irã liderar o mundo islâmico com esse tipo de aliança.
A Hispantv está uma vergonha não tem jornalista para escrever as opiniões do regime não fale nada então, para ler opinião de comuna eu leio o jornal brasileiro.
“Judeus, baha’ís e homossexuais fizeram uma barulhenta mobilização para estigmatizar o iraniano,…” Na mão contrária, o presidente iraniano não cansa de estigmatizar quem não pensa ou age como ele.
Mas, a verdade é que o brasileiro médio, como eu, é mal informado sobre a realidade iraniana.
Você já esclareceu que os judeus no Irã, têm relativa liberdade para exercerem seu credo. Poderia fazer um post sobre a situação dos homossexuais por aí. Isto é, se “oficialmente” há homossexuais no Irã. Quanto aos baha’is, pelo pouco que sei, parece que a rixa é antiga. É isso?
Isa, os bah’aís de fato não desfrutam da mesma liberdade religiosa que judeus, zoroastras, assírios e cristãos armênios. O regime considera a fé bah’aí como uma criação do Ocidente para minar o Estado iraniano. Quanto aos gays, que oficialmente não existem, precisam ser muito discretos pois a homosexualidade é considerada um crime gravíssimo.
A religião Bahá’í tem sido alvo de intensas perseguições no Irã desde a sua fundação, em 1844. As violações aos direitos fundamentais dos bahá’ís persistem com força nos dias atuais (apesar do Irã ser signatário dos principais tratados internacionais sobre direitos humanos). São sistemáticas e de diversas formas: seja contra a vida e sua dignidade, liberdade física e de consciência, segurança, e inclusive lhes são negados o direito à educação em universidades.
Samy, parabéns pelo excelente artigo – esclarecedor como de costume.
È a síndrome da ´´foto´´…
Tão politicamente incorreta como foi a do
seu inventor com o Maluf.