Belezas e encantos do Irã
23/05/12 07:37Aviso a todos os leitores e leitoras deste blog que há meses vêm pedindo um texto sobre os encantos que o Irã oferece ao visitante estrangeiro: leiam o caderno Turismo a ser publicado amanhã, quinta-feira 24 de maio, na edição impressa da Folha de S.Paulo.
O suplemento, com fotos exclusivas, trará reportagens especiais redigidas após um tour que me levou a Isfahan, Yazd, Shiraz, Persépolis e Pasárgada.
O giro pelo interior do Irã durou uma semana e confirmou a ideia de que o Irã é um país belíssimo que surpreende pela diversidade geográfica, arquitetônica, social e cultural. Cada cidade tem seu mundo, seu astral, seu jeito.
Isfahan, com construções ao mesmo tempo majestosas e delicadas, tem uma beleza no estilo “tapa na cara”, como o Rio de Janeiro ou Veneza. O encanto é imediato. Já Yazd, cidadezinha multimilenar no meio do deserto, vai se desvendando aos poucos. As ruas apertadas e sem janela da cidade antiga parecem cenário de filme. Mais ao sul, Shiraz é famosa pelos jardins refinados e por abrigar os túmulos de dois dos maiores ídolos nacionais: os poetas medievais Hafez e Saadi. Nos arredores de Shiraz ficam as ruínas de Persépolis e Pasárgada, vestígios do grandioso império persa-aquemênida. Teerã, muitas vezes esnobada pelos turistas, prima pelos museus e magníficas montanhas na sua volta.
As impressões das quatro pessoas (três mulheres e um homem) que já vieram me visitar são um bom indicador da ideia geral deixada pelo Irã na cabeça de turistas brasileiros acostumados a viajar pelo mundo.
A primeira, que já esteve aqui duas vezes, se incomodou com a desorganização generalizada, mas achou o país lindo e adorou passear num ambiente onde a segurança é total. A chance de ser assaltado ou agredido é de fato próxima do zero. A segunda visita ficou apavorada com o trânsito, mas se encantou com a comida e com a gentileza dos iranianos. A terceira não conseguiu se adaptar ao uso do véu mas ficou em êxtase diante da materialização ao vivo e a cores de tudo que ela havia estudado na escola sobre o esplendor da Pérsia antiga. A quarta pessoa estranhou as muitas restrições ambientes, mas achou o nível intelectual geral dos iranianos de classe média mais alto que no Brasil _apesar de alguém ter tocado “Ai se eu te pego” numa festinha privada.
O fato é que se você topar visitar um país verdadeiramente original e exótico, sem McDonald’s nem balada, o Irã vale muito a pena. Um amigo costuma dizer que a República Islâmica é o último destino aventura acessível (convenhamos que turismo na Somália, Afeganistão, Iraque ou Coreia de Norte é loucura).
Mais relatos do Irã e orientações de viagens na Folha de amanhã.
Adorei seu blog! Você já deve ter visto este vídeo… mas…ele é tão poético que vale a pena… http://www.youtube.com/watch?v=m3uNpwoA_7U
Abraço imenso
Viajo muito e gostaria de conhecer o Irã. Mas saber que minha esposa teria que cobrir os cabelos e não poderíamos usar bermudas, mesmo no calor, me faz procurar outros destinos (afinal há tantos).
Salaam Aleikum. Dos colunistas da folha-online dos quais mais aprecio são os textos de sua estada no Irã, Samy.
Meus parabéns, e continue bem escrevendo acerca da terra dos novos persas.
Oi Samy, de vez em quando passo por aqui para me atualizar. Li o texto na FSP, gostei. Ah, nessa me identifiquei como “a que não se adaptou ao véu”. Sim, é isso. Abraços.
Prezado Samy,
fiz exatamente esse mesmo percurso em duas semanas, e mais o Mar Cáspio, tudo agora em Maio, temperatura ótima. Aliás, muito obrigado pelas suas dicas. Fui ainda um dia à Embaixada do Brasil, para tirar uma dúvida de uma amiga e o atendimento foi ótimo, convém registrar. À exceção da minha primeira viagem internacional no século passado, quando tudo é novo (até uma conexão internacional parece aventura de James Bond), FOI A MELHOR VIAGEM INTERNACIONAL QUE FIZ NA MINHA VIDA.
RECOMENDO ESSE DESTINO TURÍSTICO A TODO MUNDO.
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Posso dizer que não tive sequer uma única queixa ou reparo durante a viagem. Aprendi a atravessar as ruas e – não sei como – tudo termina funcionando perfeitamente! Não encontrei qualquer briga agressiva de trânsito, apresar dos finos que os carros tiram uns dos outros, e de uma ou outra buzinada de advertência. Muito menos buzina do que, por exemplo, nas nossas capitais brasileiras. Como você tinha escrito, placas de trânsito em persa e inglês.
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O povo persa é extremamente educado, gentil, prestativo. As paisagens e arquitetura são tão diversas como as influências que receberam: Macedônios, Romanos, Elamitas, Babilônicos, Assírios, Árabes, Seldjúcidas, Mongóis, Otomanos, Afegãos etc. As pessoas faziam piqueniques no Parque Lelah em Teerã à meia-noite, pacificamente, enquanto um telão mostrava o jogo entre Bayern e Chelsea. Crianças, casais jogando peteca ou conversando (e rindo muito), todos numa atmosfera de tranquilidade que não imagino hoje em qualquer capital do Brasil. Como disse em outro comentário, eles tratam os turistas estrangeiros com muita atenção, convidam-nos para sentar e conversar, são educados na rua.
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Fiz ainda uma experiência, a pedido de um Amigo. Andei por todo o lado (exceto no Mausoléu de Khomeini, lugar de peregrinação de multidões de todo o Oriente Médio, inclusive árabes, com padrões de comportamento os mais diversos, por vezes inadequados), com um crucifixo explícito à mostra. Queria ver o que acontecia, como era a reação das pessoas, quer em lojas, quer em monumentos, restaurantes, hotéis, metrô, parques etc. E não houve a menor forma de discriminação negativa. Ao contrário, quando me convidaram para um piquenique familiar em Esfahan, onde havia apenas mulheres e crianças (maridos ainda não tinham chegado), eu o estava usando explicitamente.
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Mais uma coisa: diversamente de países árabes do Magreb, ao fazer negócios não oferecem um preço inicial, digamos, de R$ 2.000,00, para ao final se fechar por R$ 5,00. Eles são mais objetivos e apresentam preços honestos, com descontos razoáveis de 10%, como no Ocidente. Foram serenos e transparentes nos negócios que realizei por lá. Gosto dessa firmeza, que encontrei em vários outros aspectos, durante a viagem.
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A ressalva é mesmo quanto ao lenço para mulheres e uma certa discrição nos espaços públicos. Nesse caso, o hijab pode ser um lenço comum, como se vende no Brasil. Homens não precisam de camisas de manga comprida, mesmo nas mesquitas.
E deve-se levar Euros, pois o bloqueio econômico impede o uso de cartões de crédito. Todo o comércio aceita Euros, nessas cidades turísticas, aliás convertendo de forma honesta os valores.
Afora isso, somente estando lá podemos ver porque a Pérsia sempre foi considerada a região mais evoluída do mundo islâmico, desde época dos Omíadas e Abássidas. Isso vem de muito antes, da época dos Aqueménidas e Zoroastrianos.
Desculpe o comentário extenso, mas foi fruto do entusiasmo pela viagem e por seu post. Sugiro que você coloque um link para mais fotos.
Abraço,
José Henrique
Parabéns Samy, aguardo sempre algo ansioso pelos teus textos, sou angolano, moro em angola e adoro viajar, o Irão ou Irã como se diz no Brasil, sempre despertou em mim curiosidade e se sabe muito mais sobre política internacional iraniana do que sobre a cultura, estilo de vida e arquitetura do Irã. É com certeza um destino turístico a considerar.
Belíssima reportagem.
Principalmente pelas maravilhosas fotos, muito bem inspiradas.
Àqueles que escreveram que estão se motivando ainda mais a ir ao Irã, faça-o! O Irã, além de tratar muito bem o estrangeiro, oferece uma paisagem única e uma comida extraordinariamente maravilhosa!
Com grande satisfação, interrompi meu trabalho para ler esta coluna, e com grata surpresa me deparei com os demais posts sobre o Irã que ainda não tinha percebido nesta página da folha. Fiquei fascinado, e espero que venham mais histórias, deste povo, deste país que sempre me despertou interesse, sem mais nem porquê, e que eu conheco pelos filmes e matérias que às vezes me deparo, nem sempre com tamanha riqueza de detalhes e tão sagazes quanto estas. Obrigado.
Acredito que se fossem publicadas mais reportagens deste tipo, que enfatizassem menos o lado fantasmagórico do Irã, este seria um dos destinos mais queridos do Oriente Médio. Trânsito desorganizado é um problema tão corriqueiro para nós que vivemos em São Paulo (vide greve hoje), que isso talvez nem me assustaria em uma grande cidade como Teerã. Mas a experiência estética que as artes, arquitetura, a poesia, a música, a comida e o povo deste país deve ser capaz de proporcionar memórias indeléveis naqueles que tem sensibilidade e coração aberto para o novo. Imagino que usar um véu deve ser um incômodo mínimo também, o Irã é um dos países islâmicos que o hijab é mais fácil de adaptar, já que as mulheres podem mostrar livremente o rosto e um pouco do cabelo.
Acho bacana para falar o minimo sobre sua experiência no Irã e poder compartilhar com os leitores. Sempre achei o Irã um país exótico, mas fechado onde tudo era proibido. Percebo que não é bem assim através de suas reportagens. Gostaria muito de algum dia poder visitar esse antigo império Persa.
Estarei esperando por mais e mais. A vontade de ir está só aumentando.
É verdade. Só que na Coréia do Norte o risco é contra a saúde mental do turista. Imagine passar por um jardim de infância e ver as professoras ensinando as criancinhas a cantar: “Kim Jong-Un é lindo, Kim Jong-Un é gênio, Kim Jong-Un faz nos levar a vitória final, lálálá”
Bom, se bem que no tempo da maré de axé music no Brasil eu comecei a desconfiar que era uma das poucas pessoas sãs quando ia a praia. Brincadeira a parte, foi meio problemático. hahaha
Parabéns pelo excelente trabalho em mostrar como o Irã realmente é, ou seja, um país comum como qualquer outro (com suas belezas e feiuras).
Leio sempre suas matérias e estou me acostumando com a ideia de viajar para este país milenar.