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Samy Adghirni

Um brasileiro no Irã

Perfil Samy Adghirni correspondente em Teerã.

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Diplomatas e seus deslizes

Por Samy Adghirni
25/04/12 18:22

Ao saber que eu era brasileiro, o vendedor de produtos de cozinha num bazar de Teerã perguntou: “como é essa história do diplomata iraniano no Brasil que fez coisa errada com crianças?”.

A partir dali não restou dúvida: o caso envolvendo um alto funcionário da Embaixada do Irã acusado de bolinar meninas com idade entre 9 e 15 anos numa piscina de Brasília já está na boca do povo em Teerã.

A mídia estatal manteve silêncio, mas o incidente bombou na internet e nos canais de TV por satélite emitidos por iranianos na Europa e em Dubai.

Contei ao vendedor o que eu sabia, e ele emendou: “aquilo foi muito, muito errado. Peço desculpas em nome do meu país”.

Em várias outras ocasiões nos últimos dias fui interpelado sobre o ocorrido. Hoje ouvi um iraniano tomar partido em favor do acusado, dizendo que o diplomata talvez estivesse simplesmente ensinando crianças a nadar.

O assunto também caiu no burburinho das rodas diplomáticas em Teerã. E todo o mundinho das embaixadas se lembra de como o regime reagiu alguns anos atrás, quando um diplomata suíço foi flagrado em pleno amasso com uma iraniana numa barraca. O funcionário foi declarado persona non grata e teve que sair do país por manter relações íntimas num lugar público com uma mulher com quem não era casado.

O fato é que diplomatas sempre aprontaram, independentemente de sua origem, status ou religião. Em meados dos anos 90, o número dois da Embaixada da França em Brasília foi denunciado por fazer sexo com meninos de rua, a quem ele supostamente fornecia droga, segundo alguns relatos. Teve que voltar para Paris. Em 2007, Israel chamou de volta seu embaixador em San Salvador depois que o sujeito foi encontrado fora da embaixada bêbado, com as mãos amarradas e usando apenas roupas de sadomasoquismo.

Mais ou menos graves, escorregões de diplomatas geralmente não são punidos devido à imunidade assegurada pela Convenção de Viena (1961). O documento que norteia as regras da vida diplomática afirma que funcionários de Estados ou organismos estrangeiros em missão no exterior não podem ser julgados nem condenados. O texto ressalta que os diplomatas devem respeitar as leis do país que os recebe, mas prevalece a certeza de não ter problemas com a Justiça.

O problema maior é quando deslizes individuais de comportamento se intrometem nas relações entre Estados. O governo brasileiro ficou furioso com a reação inicial das autoridades iranianas. A embaixada em Brasília disse que o incidente era fruto de um mal entendido acerca de “diferenças culturais”. Ninguém entendeu, já que no Irã homens e mulheres não podem sequer ficar juntos na piscina. A trapalhada reforça uma tese amplamente difundida: o Irã precisa com urgência de uma boa assessoria de relações públicas.

O Brasil deixou claro o que espera do Irã no caso presente: que seja formalizada a retirada do diplomata. Ele embarcou às pressas para Teerã desde que a denúncia foi destacada na imprensa, mas continua oficialmente credenciado junto ao Itamaraty. Se o Irã não tornar definitiva a sua saída, o Brasil poderá declará-lo persona non grata, o que causaria um embaraço generalizado nos contatos entre funcionários dos dois países.

A relação Brasília-Teerã já andava esfriando desde o início do governo Dilma, que suspendeu os esforços do Brasil na questão nuclear iraniana e parece menos tolerante que o antecessor Lula com a má reputação do Irã em matéria de direitos humanos. Mas Mahmoud Ahmadinejad quer participar da cúpula Rio + 20 e há de se esperar que seu governo se esforçará para aparar as arestas com o anfitrião.

About Samy Adghirni

Samy Adghirni, 34, é correspondente da Folha no Irã. Está no jornal desde o fim de 2007. Cobriu as revoltas árabes no Egito, na Tunísia, na Líbia e na Síria e fez reportagens no Iraque, Iêmen, Síria, Cisjordânia, faixa de Gaza, Turquia, Marrocos, República Dominicana, Equador, Argentina, EUA, Suécia, Bélgica e Finlândia, entre outros países. Formou-se em Jornalismo pela Universidade Stendhal de Grenoble (França) em 2001 e trabalhou em Paris para as rádios BFM e Radio France Internationale. Em Brasília, foi setorista de Itamaraty e colunista musical pelo "Correio Braziliense" e colaborador da agência France Presse.
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Comentários

  1. frank comentou em 03/06/12 at 17:19

    o que ouvi acerca do caso diz que os funcionario estaria apalpando as meninas na piscina. mesmo os meios de comunicação quando tocam no assunto me parecem muito superficiais, limitando-se a repetir quase letra por letra o que é repassado em outros meios de comunicação… fica dificil julgar longe dos fatos apurados e que no caso não o foram devido a imunidade diplomatica.

    • Samy Adghirni comentou em 04/06/12 at 7:22

      Frank, você mesmo diz que ouviu relatos, o que é diferente de ter provas ou de ter presenciado a cena. Cautela nunca é demais. Dê uma busca no caso Escola Base e verá porque não se deve, em hipótese alguma, sair por aí cravando coisas.

  2. Eduardo comentou em 04/05/12 at 21:45

    Certamente a definição de “deslize” deve ser interpretada como “falha moral”. Pedofilia não é “pequena falta” nem aqui nem em Meca. Hafiz, qual é a pena estabelecida no Alcorão para castigar os pedófilos?

  3. TidioSampaio comentou em 03/05/12 at 19:23

    Samy, eu acho muito legal acompanhar o seu blog. Sempre que posso passo por aqui para dar uma espiada e ver se tem algum post novo, mas infelizmente vc vem atualizando ele muito , mas muito pouco mesmo. Veja por exemplo que esse seu ultimo post foi no dia 25/04. o anterior a esse demorou mais ainda para ser postado. Assim fica complicado. Os outros blogs que acompanham tem sempre uma atualizacao mais rapida… acho que no minimo uma vez por semana poderiam haver novos posts… de qq forma, obrigao e bom trabalho, Cantidio de SP.

  4. Hafiz comentou em 03/05/12 at 17:45

    Crimes devem ser punidos! Imunidade diplomática pra esses casos penso ser covardia!

    Independente do cargo e/ou origem, o ocorrido é estarrecedor! Crianças são crianças! Inocentes! Indefesas!

    Salaam!

  5. Marta comentou em 03/05/12 at 8:27

    Que comentários mais agressivos e ignorantes! O jornalista, em nenhum momento, diminuiu a ação do diplomata iraniano ou do francês. E todo crime, se a pessoa não for reicidente, é um deslize. Além disso, o post relata histórias mais ou menos graves de vários diplomatas, seria injusto qualificá-las todas como crime e o Samy ainda fala “mais ou menos graves”.
    Deixem de ser chatos cibernéticos e atentem-se ao que realmente interessa: as histórias em si.

    • mylton comentou em 03/05/12 at 17:47

      concordo com a Marta, pelo menos no mundo da diplomacia os faltosos são punidos pelos seus paises, o contrário na politica aqui no Brasil onde os faltosos negam tudo e acaba em pizza, não só os desvios sexuais com postei mas tambem os desvios de conduta moral, se fossemos direcionados pela correta conduta moral, 90% dos politicos deveriam estar na cadeia

  6. Douglas comentou em 03/05/12 at 8:15

    Samy, vc ficaria besta de ver como são a grande parte das “meninas” menores de idade nas periferias de são paulo, sobretudo as que gostam de funk….

  7. Gabriela Galvão comentou em 02/05/12 at 20:01

    ‘Deslize’ foi tentativa de eufemismo completa e irrestritamente descabida ou foi ignorância e falta de escrúpulos, mesmo?

    • Samy Adghirni comentou em 03/05/12 at 3:14

      Antes de insultar, por favor leia o dicionário.

      Deslize
      n substantivo masculino
      1 m.q. deslizamento (‘ato ou efeito’)
      2 falha moral, desvio de conduta ou do dever
      3 pequena falta, falha ou engano (intencional ou não)

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