A maior rua do Oriente Médio
28/03/12 09:30Teerã é cortada de sul a norte pela rua Valiasr, a mais extensa em todo o Oriente Médio e um dos principais pontos de comércio e lazer na capital iraniana.
A Valiasr, ou Vali Asr, traduz a alma e a diversidade desta megalópole de 12 milhões de habitantes, como pude comprovar dia desses ao percorrer de ônibus seus 17 km de comprimento. O trajeto entre a planície do sul popular-conservador e as ladeiras íngremes do norte abastado-moderninho durou 55 minutos graças ao corredor exclusivo. De carro levaria até três horas, dependendo do trânsito.
Embarquei no início da linha, na estação ferroviária central. Ônibus vazio e razoavelmente confortável. Sentei na janela, bela luz de fim de tarde. Os primeiros quilômetros parecem uma rua qualquer em alguma cidade decadente do interior. Dos dois lados da pista, prédios decrépitos com no máximo dois andares. As lojas são em sua maioria pequenas e toscas _quinquilharias, verdureiros, padarias, vendinhas de eletrônicos etc. Há algumas lanchonetes com aspecto insalubre. As montanhas Alborz erguem-se distantes ao horizonte.
A pista tem quatro faixas: duas em sentido oposto para os ônibus e duas em mão única para os demais veículos. Em quase toda a sua extensão, a rua sobe numa elevação suave mas constante. Calmo nos primeiros quarteirões, o tráfego se intensifica na medida em que nos aproximamos do centro. O ônibus também aos poucos se enche. O comércio nesta zona ainda tem ares populares, mas as lojas já são um pouco maiores. Há muitas vendas de roupa barata e material esportivo. Bastante gente na calçada. A maioria das mulheres usa chador, o véu geralmente preto que cobre todo o corpo, predominante nos meios religiosos. Muitos homens ostentam a barba rala típica de quem é devoto e/ou apoia o regime.
O centrão é um formigueiro humano, com espécimes de todos os tipos circulando entre bancos, lojas de roupa, agências de viagem e shoppings de eletrônicos. Os prédios são mais modernos e mais altos. A Valiasr atravessa duas das principais artérias da capital : a sempre abarrotada Enghelab Eslami e a Taleghani _onde fica a antiga embaixada americana cuja invasão, em 1979, por estudantes furiosos com o asilo dado pelos EUA ao xá recém deposto levou à ruptura entre Teerã e Washington. No barulhento coração de Teerã também há mesquitas, cinemas multiplex e hospitais de vários tipos.
O marco para o início do norte de Teerã é a praça Vanak, um balão caótico onde quatro ruas se cruzam. O lugar é cheio de shoppings e escritórios. Muitos passageiros descem do ônibus aqui. A partir de Vanak a capital vira um lugar opulento e arrumado. Quanto mais ao norte, mais luxo. Há grandes lojas: Rolex, Chopard, Mercedes-Benz… A Valiasr em sua reta final tem fileiras de árvores nos dois lados da pista, além de restaurantes cheios de pompa e alguns dos melhores hotéis na cidade. As calçadas são bem mais vazias do que no centro, e a maioria das mulheres se veste à moda ocidental, com véu jogado de forma displicente por cima do cabelo. Só o trânsito que continua um horror para quem está de carro. A Valiasr termina na praça Tajrish, onde há um mercadão incontornável para turistas. As montanhas Alborz, que alguns quilômetros atrás eram apenas um quadro no horizonte, agora formam uma parede majestosa que se ergue algumas ruas acima da praça Tajrish.
A rua foi construída pelo xá Reza Pahlevi (1877-1944) e mudou de nome após a Revolução Islâmica de 1979. Passou a se chamar rua Mossadegh, em homenagem ao premiê secular democraticamente eleito que nos anos 50 foi derrubado por um golpe americano-britânico. Virou Valiasr anos depois da revolução, adotando o nome de um personagem central na mitologia xiita.
O site da Prefeitura de Teerã diz que autoridades estão preparando a papelada para pedir à Unesco o reconhecimento da Valiasr como patrimônio cultural da humanidade.
Samy!!!!! belissimo blog, devo dizer que fico feliz de ver um blog onde a realidade é colocada sem sensacionalismo. Parabens, a partir de agora serei leitora assidua. Abracos cordiais
Que lugar lindo, Samy…
Sabe, acho que vou arrumar um paquera iraniano. Quem sabe não caso e vivo em Tehran 😀 kkkkkkkkk
Caro Samy,
morei alguns anos no Ira. Morava perto de onde fica a embaixada brasileira. Creio que voce “cometeu” um equivoco. A foto em questao nao retrata a rua Vali’asr.
É a Valiasr, sim, Ricardo, num ponto ao extremo norte, quase em Tajrish.
A Folha de São Paulo, mais uma vez demonstrando ser um jornal parcial, parece ter começado uma campanha de divulgação das belezas de países que desrespeitam sistematicamente os direitos humanos, como é o caso aqui. Além de ruas grandes, por que o jornalista não fala dos direitos das mulheres, dos homossexuais, das pessoas de outras fés numa teocracia intolerante e beligerante? Seria mais interessante e instrutivo.
Você deveria frequentar o blog e ler a versão impressa da Folha de S.Paulo com mais frequencia, Alan, pois todos esses temas já foram tratados.
Achei a matéria interesante, mas eu tinha certeza que ele fosse falar sobre os jovens que ficam dando voltas de carro pelas avenidas com o objetivo de trocarem numeros de telefone entre eles, ja que o país não permite grupos de jovens do mesmo sexo em locais públicos. Até o reporter que postou um vídeo sobre isso no you tube acabou tirando…
Samy obrigada por atender os nossos pedidos e postar a foto da rua Valiasr….. !!!! (pessoal: vamos ignorar os comentários alheios, quanto mais se retruca pior é….)
Legal! gostaria de visitar o Irãn. Eles estão certíssimos em construir bombas atômicas. Porque só o Tio Sam, a França, a Inglaterra e mais uns 5 podem? Tem que peitar o Tio Sam sim e não ficar como o Brasil pedindo permissão para isso e aquilo. E viva o Irãn.
Caro Samy… obrigado por trazer um relato periódico sobre meu pais… morro de saudades do Irã… queria muito que voce pudesse viajar a minha cidade natal, Isfahan… voce vai amar conhecer a arquitetura melnar de Isfahan… por favor faça e traga um relatório de lá… moro ha 25 anos aqui no Brasil e tenho muitas saudades. abraço e parabéns pelos excelentes textos.
Ho meu caro mohsen. Quando voltar a sua terra me leva junto pra hospedar em sua casa, ai vai ficar mais barato para eu conhecer a sua terra. Meu e-mail e: x9dasilva@yahoo.com.br
você descreve muito bem sami 🙂
Mas também gostaria de ver fotos…
Parabéns pelo texto.
quem paga esse correspondente?
Eu já perguntei isso para ele tambem…
E quem paga vocês dois pra ficaram trollando no blog alheio?
Se não gostam, não precisam vir e tampouco fazer comentários negativos sobre o correspondente. Não o conheço pessoalmente, mas acho interessante o fato de ele mostrar a visão que vai além das armas nucleares e dos direitos humanos. Mostrar que existe vida no Irã, sim.
Assim como Israel não é o Netayahu, o Irã não é o Ahmadinejad, nem os americanos foram o Bush.
Além disso, vocês podem até atacar o país, mas sua população e o correspondente não têm nada a ver com isso.
Como assim, quem paga a mim?
Eu sou leitor, creio que leitor não recebe para ler.
Querida, isso é um blog, da mesma forma que você gosta do que ele escreve e se achou no direito de elogiar eu tenho o exato mesmo direito de não gostar.
Não entendo como uma reportagem sobre, por exemplo, a Jacu Pessego, maior avenidade de Sao Paulo teria alguma relevancia internacional.
Você tem o direito de não gostar, não há dúvidas, mas você não está atacando o blog e sim o jornalista.
E pra você a Jucu Pessego pode não ser interessante, mas pode ser que seja para um estrangeiro. Depende do olhar que as pessoas têm.
E isso é um blog, não é pra dar notícia. Blog é diferente de jornal.
E, por fim, há casos de que pessoas eram pagas pra comentar em matérias dos jornais, (Record fez isso no panamericano).
Concordo com vc Marta, dependendo de quem vê até mesmo uma avenida pode ser interessante! Da mesma forma até mesmo aquele vielinha sem saída da periferia… Creio que nesta avenida deve haver mais do que lojas, prédios e kms de asfalto para que os iranianos queiram torná-la um patrimônio … ela deve ter sido palco de eventos históricos e histórias pessoais que se fizeram através de sua construção e do fato de ser percorrida todos os dia por trabalhadores, estudantes, turistas, etc.
Pessoal… convenhamos… tudo que o jornalismo está transmitindo é quando há algo errado.. terrorismo, desgaraça etc… deixem que o jornalista traga uma visão diferente do que o jornal televisivo… concordo com Marta… o Irã é muito mais que Ahmadinejads da vida…
Concordo com a Marta.
A peculiaridade do blog de Samy é que ele trata de aspectos socioculturais da realidade iraniana que transcendem a litania do discurso Ahmedinejah/Armas Nucleares que monopoliza a pauta do jornalismo internacional.
Isto traz um diferencial para o blog de Samy que também é o oposto de instrumentos de mídia voltados para a propaganda do Governo Iraniano, a exemplo da HispanTv e PressTv.
Marta está certa. Não vamos demonizar um país por causa de sua elite governante atrasada e ditatorial, movida a conceitos da idade média. O povo iraniano é boa gente e merece uma divulgação imparcial como o Samy vem fazendo.
caros Srs Jão e Dan, aconselho aos dois a lerem as materias publicadas na Folha do correspondente do Blog, inclusive a publicada sobre o “boicote” dos produtos brasileiros no Irã que foi citado no Financial Times e o Embaixador do Irã no Brasil teve que dar explicações ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil com posterior nota do governo Iraniano assim voces podem ter uma visão mais ampla do trabalho do correspondente antes de tecer comentários nada construtivos e deselegantes
Concordo, algumas fotos dos diferentes perfis da via ilustrariam bem o conteúdo (muito bom, por sinal!).
Agora sim!!! legal.
Boa tarde Samy, ou boa noite pra você ai no Irã (não faço ideia de como é fuso dai em relação ao Brasil).
Samy, tenho que dizer: seu blog é uma coisa de “loko”. Excelente, muito interessante, mas por um acaso não é permitido a voce tirar fotos? Leio todos os seu posts, e creio, como muitos dos que o leem também, sentem falta de fotos tiradas por voce. Isso é possivel?
Grande abraço
Caro Marcio.. eu me considero um privilegiado ter nascido e vivdo n o Irã… amo meu pais e confesso… a descrição do Samy me fez realizar uma viagem de volta ao meu país… realmente as fotos fazem falta… é magnífico… em relação ao fuso horário.. o Irã está a 6:30 a frente do nosso horário… ou seja, se aqui é 12 horas lá é 18:30… abraços
É proibido fotografar ?
Leio sempre seus textos e adoro .Tambem concordo ,com foto seria mais legal. Moro no Oriente Medio e consigo imaginar o que voce diz. Well done!!!
E… viva o Irã!
Concordo com o Jean, com fotos é muito legal… fiquei tentando visualizar tudo o que vc descreveu…. vc é um privilegiado! Começar o dia lendo seu blog é um grande prazer.
Faltaram apenas as fotos !
Obrigado, sou um fiel leitor do seu blog !
Abraços…