O superprefeito de Teerã
21/02/12 08:04Como todos os povos do Oriente Médio, iranianos adoram debater política. Ao menos em Teerã, é surpreendente notar como ninguém tem medo de falar abertamente mal do regime e seus dirigentes. O único político que costuma sair ileso das conversas é o prefeito da capital, o conservador e pragmático Mohamed Qalibaf. É comum ouvir a seu respeito frases como “este trabalha duro” ou “ele está determinado em melhorar a cidade”.
Na visão dominante, o mérito de Qalibaf é conseguir tornar a vida um pouco menos dura numa metrópole de 12 milhões que ninguém ousaria chamar de boa para morar. Contra o trânsito sufocante e sem lei, que faz parecer São Paulo um mar de civilidade, o prefeito implementou rodízio e está construindo uma malha de viadutos e túneis para aliviar as artérias principais, impraticáveis após às 17h. Qalibaf também inovou ao criar corredores de ônibus. O transporte público, aliás, é bom e baratíssimo. Uma passagem custa em média US$ 0,15. Os ônibus, onde a parte traseira é exclusiva para mulheres, são silenciosos e espaçosos. O metrô, também separado em vagões para cada gênero, é moderno e tem estações limpas. Ruim mesmo é a híperlotação durante a maior parte do dia, ônibus e metrô. Nos horários de pico, fica difícil até respirar com tanta gente espremida.
Qalibaf, 50, também recebe elogios por ter enfeitado a sisuda Teerã. Mandou instalar painéis de azulejo colorido em viadutos e muros pela cidade, destoando do cinza/marrom predominante. Os parques são bem cuidados e floridos. Há obras por toda parte para melhorar a rede de água potável e esgoto.
O prefeito goza de uma imagem de eficiência, honestidade e dedicação que lhe rende elogios tanto dos ricos moderninhos do norte de Teerã como dos comerciantes e religiosos do centro e do sul da capital. Em 2008, foi finalista do prêmio de melhor prefeito do mundo.
Mesmo visto como um líder que flutua acima das disputas partidárias, Qalibaf é um puro produto do regime teocrático em vigor desde a Revolução Islâmica de 1979. Quando jovem, integrou as forças armadas e o basij, a milícia de voluntários a serviço do líder supremo. Com apenas 19 anos, comandou um batalhão importante na guerra contra o Iraque de Saddam Hussein (1980-1988). No fim dos anos 90, deixou as fileiras militares para tornar-se chefão da polícia nacional. Já adulto, resolveu aprender a pilotar jatos comerciais. Até hoje leva passageiros ao menos uma vez por mês, geralmente com destino à Europa. Ele alega que precisa manter horas de voo suficientes para não perder a licença de piloto.
O prefeito da capital é nomeado por um conselho municipal supervisionado pelo governo nacional. Qalibaf foi apontado para o cargo em 2005, após perder a eleição presidencial para o então prefeito de Teerã, um certo Mahmoud Ahmadinejad. Hoje os dois homens se detestam e é dado como certo que Qalibaf está de olho na Presidência, que Ahmadinejad será obrigado a deixar para trás no ano que vem após dois mandatos.
Os fãs de Qalibaf esperam que ele, a exemplo de Ahmadinejad, se beneficiará do período na prefeitura como um trampolim para a Presidência.
Assalam Aleikum!!!!
Sinceramente falando, achei que fosse mais um blog que trabalhasse arduamente para denegrir e agredir o Islam, usando o controvertido entendimento da religião ou nenhum entendimento para falar mal.
Gostei do que li e pretendo sempre que possível continuar a ler o que foi escrito anteriormente e o que será escrito.
Sou além de muçulmana convertida ou revertida( que melhor convir), Cearense, Nordestina, Brasileira nata, sem descendência árabe ou persa, estudante de relações internacionais.
Samy, Qalibaf é prefeito de Teerã desde 2005. Foi herói da guerra contra o Iraque e galgou postos até ser general. Dizem que trabalha muito. Antes de ser prefeito, foi o comandante da nefasta e violenta milícia Basij. Ele era prefeito de Teerã durante os ataques dessa milícia Basij, contra cidadãos pacíficos e indefesos em passeata, durante os protestos por democracia no Irã em 2009. Vimos isso na TV, nos vídeos do Youtube postados por iranianos em desespero. Em 2009, ele num primeiro momento permitiu as passeatas pacíficas de centenas de milhares de iranianos no início do movimiento democrático. Na sua opinião, ele fez isso por ter ideais um pouco mais liberais ou apenas para manipular a insatisfação da população contra seu desafeto Ahmadinejad? Se ele for eleito, pois já contaria com as bênçãos do ditador Khamenei (a população de Teerã o chama assim, não inventei isso), Qalibaf seria um governante mais liberal ou é apenas mais um teo-fascista como os outros?
Eduardo, Qalibaf é de fato um homem do sistema e um linha dura. Guerreou e chefiou a Polícia nacional, isso já diz muito sobre o perfil. Mas tendo a achar que ele é mais pragmático e razoável que muita gente no governo. É um homem estudado, sempre racional e ponderado nas suas declarações. Seu inglês é bastante correto e, por ainda voar ocasionalmente como piloto comercial, ele tem contato constante com o sistema político e de segurança de outros países. Dê uma pesquisada no Google e você achará algumas entrevistas interessantes que ele concedeu a veículos ocidentais.
Oi Samy, é um perfil muito interessante. Como todo movimento radical (Revolução Francesa, golpe de estado bolshevique na Rússia em outubro de 1917, etc.) com o tempo tende a desgastar, pois as soluções supremacistas propostas (eu estou certo e o mundo está errado e deve ser eliminado) perdem o apelo junto ao povo. E quando o desgaste ocorre, uma pessoa do sistema, mesmo sendo conservadora, pode ser a porta para uma transição pacífica. Vide o caso de Gorbachev. Vou acompanhar a tragetória do Qalibaf. Abraços e obrigado pelos excelentes artigos.
Gosteio do blog. Parabens. Você poderia falar da questão religiosa no Irã? Ainda há adeptos do zoroastrismo? Há minorias religiosas?
Arlan, há minorias, sim, como mencionei anteriormente: judeus, cristãos, baha’is e alguns poucos zoroastras, sim.
Muito interessante a materia sobre o prefeito de Teeran! Meus parabens!!!
parabens ao prefeito talvez seje a representaçao de um iran que todos gostariam de ver e prestigiar como o foi em passado recente antes deste regime infeliz um iran que nao precisaria estar passando esta situaçao desconfortavel mas esperemos pelo melhor saudaçoes ao povo iraniano
Uma das coisas que vou fazer, sempre que visitar seu blog, é deixar dúvidas que ficaram, curiosidades que não foram satisfeitas. Outros leitores, pelo que vejo, estão fazendo a mesma coisa. Você vai guardando as questões e, quando surgir a oportunidade, insere as respostas aqui e ali. Deste artigo, ficou-me a palavra “conservador”. O prefeito é “pragmático e conservador”. O que significa ser um político “conservador” no Irã? Os cidadãos de Teerã, por exemplo, vêem Qalibaf dessa forma? Por quê?
abs
Jotavê, ser conservador tem significado diferente em cada país. No Irã, Qalibaf está à direita do tabuleiro político. É um homem religioso que defende os princípios da Revolução Islâmica. Mas ele acredita que o Ocidente deve ser visto como um aliado, não como inimigo. Qalibaf acha que é perfeitamente compatível com o islã importar ideias e projetos de países ocidentais. Ele também afirma que o Estado não deve interferir na vida privada das pessoas.
Muito boa a matéria. Tanto por mostrar um pouco do Irã – que costma ser mostrado apenas sob uma ótica de demonização – como por destacar as qualidades administrativas de um prefeito muçulmano. Parabéns!
Mas o Iran não é uma ditadura (tem eleição lá?) aonde proibem as pessoas de falar sobre o governo (nas ruas, ainda?), pobre e que sofre por causa das sanções econômicas (com um prefeito sendo elogiado por obras estruturais)?
Ah tá…agora notei que a maioria das pessoas que pensavam isso realmente estavam erradas.
Parabéns pelo blog.
O Irã tem grande história. Hoje passa por uma fase triste por que parte de seus cidadãos está submetido na porrada por esse governo obscurantista. Vimos todos na TV e podemos ver no Youtube as milicias Basij – fanáticos religiosos tipo Inquisição – que surraram, prenderam e mataram cidadãos pacíficos que saíam em passeata. Tem eleição mas é uma ditadura, pois a oposição é ameaçada, intimidada e perseguida quando apresenta qualquer chance de chegar ao poder como foram nas “eleições” de 2009. Para explicar melhor, vamos tomar o exemplo do Brasil. O Brasil foi uma ditadura militar. Nessa ditadura militar, que prendeu, torturou e matou brasileiros que a ela se opunham, haviam eleições e podíamos votar em dois partidos permitidos pelo governo: a ARENA – Aliança Renovadora Nacioional (Sarney era Arenista) que defendia a ditadura. E a oposição, era liderada por Ulysses Guimarães no MDB – Movimento Democrático Brasileiro (nada a ver com o PMDB atual). Haviam eleições, havia grandes obras estruturais (infraestrutura, rodovias, hidroelétricas – Itaipú) e o país crescia a taxas de 8% ao ano, muito mais do que agora. Mas nem por isso quer dizer que um regime que prende, tortura e mata opositores deva ser elogiado. É também o caso do regime do Irã.
Só pra avisar. Ler vou continuar lendo. Mas, comentar pra que, se você não interage e nem responde ninguém?
Excelente, um blog, que não mostra apenas uma visão distorcida que interessa a um certo grupo de países. Assim como outra matéria nesta mesma edição, a respeito de Telaviv, queremos saber mais de países com os quais nunca temos informações mais diversificadas. Demorou mais valeu a pena!
Estou adorando seu blog, escreva sempre! E se não for pedir demais, será que dá pra postar umas fotos também? 🙂
Finalmente um blog com visão imparcial, que não mergulha na histeria ou na campanha de demonização do Irã. Espero que você não venha a ser censurado. Há duas coisas que queria saber: existe coleta seletiva de lixo em Teerã? Há favelas? É verdade que a pena de morte nunca foi aplicada desde a Revolução de 1979? E também as dicas de turismo, que são difíceis de se obter aqui, no Brasil.
José Henrique, em Teerã não existe coleta seletiva sistematizada, mas há um grande esforço para tratamento e reciclagem. Não há favelas como no Brasil, mas bairros muito pobres. Por diversas razões, que vão desde a solidariedade islâmica até programas de assistência social, não há no Irã uma miséria em larga escala como na América Latina ou em países árabes. A pena de morte existe, sim, e é aplicada com frequencia. Segundo ONGs, o Irã é um dos países onde mais se aplica a pena capital, principalmente contra acusados de tráfico de drogas.
Parabéns por essa visão diferenciada que nos dá sobre o Irã, que infelizmente tem uma imagem muito estigmatizada pelo noticiário.
Espero muito um dia poder visitar o país e conhecer esse povo fascinante.
Olá, antes quero parabenizar o blog, dá para perceber a seriedade em como são feitas as matérias, que são muito interessantes, podíamos ter mais blogs deste tipo, com certeza o nível de “alienação” cairia um pouco em jornais eletrônicos como este (só precisa ser mais divulgado Folha!). Eu quero também deixar uma sugestão de matéria, sei que deve ser difícil, e não é sua área de conhecimento, mas como costumam dizer – fica a dica.
Você poderia nos falar um pouco sobre como os iranianos veem a arte. Há galerias? museus históricos, museus de arte contemporânea? o maior desafio é pesquisar sobre o que está sendo feito de atual no circuito iraniano de arte, então saber um pouco sobre as condições de artistas contemporâneos no irã iria ajudar muita gente! Geralmente a melhor maneira de conseguir material de pesquisa para isso é através dos próprios artistas ou galeristas.
Olá Marcos, aproveitando seu comentário, também estou gostando muito deste blog e estou divulgando-o com muito entusiasmo. Sobre sua sugestão, eu sou uma artista visual formada e me interesso muitíssimo pela arte contemporânea do Irã. Alguns artistas que conheço são Shirin Neshat, Shadi Ghadirian, Morteza Katouzian e Mahmoud Farshchian para citar alguns exemplos. Pelo que já pesquisei a arte atual no Irã possui uma escola de pintura nos moldes tradicionais e uma produção expressiva de artistas contemporâneos que vivem a maioria fora do Irã. E também há em Teerã um grande museu de Arte Contemporânea que até mesmo obras de artistas ocidentais de várias gerações como Rembrand, Picasso e Pollock. O que eu poderia citar como uma das características mais marcantes da arte iraniana no meu ponto de vista é o realismo da representação, a técnica rigorosa, assim como a constante presença da caligrafia islâmica. Espero ter contribuído.
Marcos e Janaina, sim, a arte contemporânea floresce em Teerã. Há ótimas galerias, como a Aun (www.aungallery.com) e artistas excelentes. Este é um ramo da atividade cultural que não atrai tanta atenção das autoridades, ao contrário da música, por exemplo. São assuntos sobre os quais pretendo me debruçar assim que possível.