Muito além do programa nuclear
15/02/12 15:38Poucos países aparecem tanto no noticiário internacional como o Irã. Mas a novela dos temas iranianos que desfilam a cada dia em jornais, sites, TVs e rádios do mundo inteiro tem sempre o mesmo roteiro e os mesmos personagens. Hoje o assunto é a discussão sobre se Teerã está ou não fazendo a bomba atômica. No capítulo de ontem dizia-se que o Irã exporta terrorismo. Amanhã ou depois se falará sobre sanções, ameaças militares e repressão moral e política. Na prática, o Irã acaba quase sempre retratado através de seu governo e instituições. E muitas vezes, quem fala sobre o país jamais pôs os pés aqui.
A Folha faz parte de um restrito grupo de veículos estrangeiros autorizados a ter correspondente no Irã. Inaugurei o posto em dezembro do ano passado, me tornando o primeiro jornalista latino-americano contratado com permissão para trabalhar no país. Da minha base no bairro de Jordán, norte de Teerã, tento levar até você, caro leitor, uma visão original, isenta e didática sobre o que acontece em terras iranianas.
Pouco ou nada se sabe no Brasil sobre esse lado de cá do mundo. Muita gente pensa que o Irã é árabe (é persa!) ou que ser xiita significa defender ideias radicais (o terrorismo islâmico é essencialmente orquestrado por grupos sunitas). Quase ninguém imagina que o Irã é o segundo país do Oriente Médio com a maior comunidade judaica depois de Israel. Aqui, judeus e cristãos, salvo atritos isolados, praticam sua fé sem ser incomodados. Mulheres dirigem, estudam e trabalham sem tutela. Meus amigos e parentes brasileiros também ficam pasmos quando conto que há estações de esqui em Teerã (uma delas a 20 minutos da minha casa) ou que o país também tem florestas, praias e deserto. A culinária é rica e sofisticada. As visitas que já recebi por aqui ficaram impressionadas com a delicadeza e hospitalidade dos iranianos.
Dificuldades existem, sim, mas há muito mais a contar sobre o Irã do que o programa nuclear. Esta é a razão de ser do blog que tenho o prazer de inaugurar hoje.
Irã é o “inimigo” por três razões: porque humilhou os EUA enxotando o Xá, posto lá através de um golpe pelos estadunidenses e que governava contra os interesses dos iranianos; porque os gringos não conseguem ter controle do petróleo dos iranianos. Mas tem uma razão ainda mais forte: Os aliados dos EUA – Israel – não querem perder a supremacia nuclear no Oriente Médio e tremem nas calças se o Irã virar nuclear também. O Irã nunca exportou terrorismo. Errou em suprimir com violência a onde de revoltas de dois anos atrás? Sim, paranóia a meu ver desnecessária. Mas o Irã não parece ser inimigo de nenhum país. Se eles se armarem nuclearmente, o que eles negam, é só porque não querem voltar a ser pisoteados. Israel e EUA podem ser nucleares, mas o Irã não! Piada de mau gosto para a ignorância mundial engolir!
Muito bom mesmo ter uma pessoa lá que possa nos informar corretamente como é este país, pois a visão da grande maioria da população é fortemente distorcida pelos meios de comunicação, fazedo-mos crer que lá é só areia, camelo e terroristas.
parabens pelo relato, é sempre interessante saber sobre o outro lado de certas (h)estorias,para sermos bem informados sobre a realidade dos fatos.
Seguindo a sua lógica: eu nunca pus os pés na Coréia do Norte. Conclusão: A Coréia é um país sem ditadura; sem intolerância religiosa.
Prezado Samy, tenho muito interesse em seus relatos porque sou apaixonado pela cultura persa. Uma coisa que me chama atenção no seu relato é que judeus, cristãos e islâmicos convivem pacificamente em solo iraniano. Essa é uma característica da cultura persa. Lembremos de que quando os persas conquistavam outros povos, na antiguidade, cediam a todos o direito de continuar cultuando suas tradições e sua cultura. O objetivo deles era, acima de tudo, garantir a pacífica convivência entre os povos. Parabéns e espero aprender muito com seus artigos aqui.
Tá brincando…
Liberdade religiosa e tudo mais…
Quanto você tá ganhando para escrever essas mentiras?
E os pastores sendo presos condenados por sua liderança espiritual?
Romerson, podemos conversar, mas sem insultos, por favor. Liberdade para praticar judaísmo e cristianismo existe, sim, isso é inegável. O que o governo proíbe com firmeza é o proselitismo. Pode rezar, orar, festejar etc. Mas pregar não pode.
O Irã, antiga Pérsia, é uma civilização milenar. A confusão entre o dia-a-dia de um povo gentil e as notícias sobe o país publicadas em jornais ocidentais, embora aparentemente antagônicas, tem uma explicação: o Irã tem um povo democrático em um governo autoritário.
Meu caro deve ser por este motivo que só você obteve o visto para trabalhar por ai, não tem censura, tem internet liberada, o ocidente não é visto como decadente e desmoralizado, tenha dó meu caro, é um regime teocrático, briga com com os sunitas, apóia o Hezbollah, Hamas, apoia o regime Sírio dos Hasad, tem uma proximidade com a Al quaeda, o que mais você quer que eu diga, sobre a represão da última eleição presidencial? Sobre o povo iraniano é outra história, agora o regime é um lixo!!!!
Luiz Alberto, a ideia do blog é mostrar o Irã sob uma nova perspectiva, para que uma civilização milenar não seja estigmatizada por causa de seu governo. O Irã é muito mais do que um governo.
desejo te boa sorte nessa nova empreitada . eu andei lendo sobre o irã e constatei que que este pais é de uma cultura milenar e rica, é bom que tenha alguem isento para uma cobertura imapacial dos fatos. abraço ocidental
Gostei muito do seu texto , é sempre bom enxergar o “outro’ livre de preconceitos,vou esperar ansioso pelos próximos “posts” . Desejo td sorte a vc aí em Teerã.
Olá Samy,
Sou bastante curioso, não apenas sobre o povo e cultura iranianos, mas sobre todo o Oriente Médio. De um modo geral, muito pouco se sabe no Brasil sobre quaisquer daqueles países.
Parabéns pelo seu blog, pretendo voltar sempre, e assim aprender mais sobre o povo e a cultura persa. Por enquanto, eu gostaria de saber mais porque você aceitou ir ao Irã desenvolver este trabalho. Você tem/tinha alguma relação cultural antes deste trabalho?
Abs.
Guilherme, o Irã está todos os dias no noticiário, e é importante que a Folha tenha seu olhar próprio sobre o que acontece por aqui. Daí a ideia de ter um correspondente em Teerã. Não tenho vínculo pessoal ou cultural com o Irã.
Muito interessante, essa é uma nova visão do Irã que quase nunca é apresentada na mídia, mas até aonde posso acreditar? O senhor ainda é uma voz quase solitária, infelizmente.
Que bom que teemos notícias fora do “desejado” da grande midia de um País com história e tradições tão ricas.
Inacreditável!!!!!
Não posso acreditar que exista inteligência dentro da Folha de São Paulo.
Depois do que eu li, acho que o mundo tem salvação.
O jornal mandando um correspondente ao Irã e o mesmo relatando sobre o país é de tirar o chapéu.
Que bom! Quem sabe agora a gente possa começar a ter notícias mais verdadeiras sobre o Irã. Como tantos outros, estou cansada de ler apenas a versão demonizada do país disseminada pelos Estados Unidos e que, aparentemente, o mundo repete incessantemente sem nenhuma confirmação. Qualquer pessoa bem informada sabe que há muito mais coisas, e boas, no Irã, do que a imprensa em geral publica. Boa sorte pra você, Samy!
Assalamualaykun Samy.Todo o sucesso pra voce neste novo trabalho. Tenho muita vontade de conhecer o Iran, pois sou muçulmano, mas aqui no Brasil sao poucas as informaçoes sobre hoteis, culinaria, cultura, etc. Desejamos que voce, com o seu trabalho, descortine este pais para todos nos. Salam .
Finalmente um furo ao bloqueio midiático do Irã, demonizado pela farsa do pensamento único globalizado, a serviço dos senhores das finanças e da guerra. Felicidades.
Meu melhor amigo é xiita, mas do Iraque. Já fui noivo de uma muçulmana.
Em minha vida profissional (sou engenheiro de petróleo) NUNCA conheci um iraniano que não fosse muito gente boa.
Todos os iranianos que conheci em meus anos como expatriado são alegres, bons amigos e muito bem humorados.
Interessante. Uma ovelha desgarrada dessa imprensa fajuta vem nos dizer que o Irã está aquém daquilo tudo que ela mesma diz. Óóó, nem todos os islamitas são terroristas, óóó, Ahmadinejad não é necessariamente um perigo ao povo judeu. Óóó, não é que as mulheres desse país são até que respeitadas ? Não, brinca com a inteligência de alguns de seus leitores, diretor.
Luiz, acho que você não entendeu a proposta do blog. A ideia é justamente quebrar os estereótipos e ir além do que todo mundo já sabe ou pensa saber.
Excelente iniciativa! As pessoas não podem construir opiniões sobre o Iran baseados somente nas notícias que a grande mídia seleciona.
O mesmo aconteceu com a Líbia, quando todos condenaram o governo sem ter a menor idéia de como eram as coisas no país.
Não defendi o governo iraniano, mas não podemos julga-lo pelas declarações de um único representante de um país.
Acho interessante mencionar no blog sobre o sistema de saúde, violência, relações humanas, relação entre o governo e produção de bens, industrialização e até mesmo o medo dos governantes não somente em casos isolados, mas no cotidiano. Sempre quis saber se é um medo comparável ao que imperou no Brasil da ditadura militar…
Caro Samir:
Privilegiado como muito poucos que está vivendo a realidade desse grande e histórico país, peço-lhe que através de suas lúcidas reportagens procure rechaçar essas maquinações infernais que visam demonizar o Irã e seu grande e hospitaleiro povo.
Parabéns pela estreia e parabéns pela ideia. É espetacular ler um texto assim, em meio a tantas opiniões sem sentido que rondam a mídia no geral. Pouca gente sabe por exemplo que cerca de 70% das mulheres iranianas fazem faculdade. Somente focalizam no programa nuclear e chamam todos de “malucos”.
O Irã é um país com 6 mil anos de história e como você já disse não é árabe, é persa. Muita gente se confunde. E apesar das dificuldades que existem, acredito que vale a pena conhecer mais sobre o Irã. Valeu.
Excelente sua visão. para mim que sou Muçulmano e vivo no Brasil, seu blog, imparcial e isenta, é muito boa. Parabéns.
ESPERO QUE VC NOS MOSTRE TUDO DO IRÃ, sem politica, uma sociedade bonita e diferente como ela é.
Sempre tive interêsse em saber o que acontece no dia a dia dos Iranianos.Já li a Constituição atual do Irã, vi vários filmes muito bons e li livros sôbre a religião antiga da adoração do fôgo.Percebo que a mídia ocidental bloqueia a parte bôa do Irã.
Finalmente um Blog sobre o Irã. Parabéns pela iniciativa. Gosto da parte de Turismo Histórico. E a Pérsia tem muita História Pode dar dicas?
Parabens Samy, pessoas como você que se propõem a fazer o trabalho que esta realizando renovam minha confianza numa imprensa que se especializou na arte de desinformar. Seja o que fôr o que vai escrever, percebe-se que não é nada que se pareça as “verdades oficiais”. Vou-lhe acompanhar, boa sorte
Parabens. Com isso vc amplia o conhecimento de seus leitores que podem compreender como é o pais, sua cultura e o modo de vida.
A imagem politica divulgada na media nos leva a uma transferencia para toda a população.
Muito interessante! De fato as únicas noticias que temos aqui no Brasil sobre o Irã é que o pais é dominado pelo mal – aiatolás – e os bons – EUA, Israel, Inglaterra-tem que combate-los. Nada falam sobre antes da Revolução de 1979 e porque houve a guerra Irã/Iraque. Na verdade sempre que falam do Irã é para taxa-los de subversivos ou outros adjetivos. Somente com a wikipedia é que consegui descobrir mais sobre esse país.
Opa… sucesso absoluto no seu site.
Foram as melhores palavras que eu li recentemente. É muito dificil lermos algumas matérias sobre o Iran sabendo que existem muitos interesses nos opositores. Eu saio daqui duas semanas de férias e semana final será sair de trem do sul da Turquia em direção ao Iran. Eu espero ter sucesso na entrada do país. Mas estou muito ansioso para ir ao Iran e o seu texto acima me fez querer mais ainda… parabéns e sucesso. Abraço.